Quantas simples máscaras precisamos? Em Janeiro, enfermeiros e médicos do distrito questionaram a Direcção-Geral da Saúde sobre a aquisição de equipamentos de protecção que iriam ser essenciais no combate à Covid-19 e durante meses não obtiveram resposta
Por todo o distrito têm sido realizadas doações de material de protecção a hospitais e centros de saúde , como o caso da Câmara Municipal do Barreiro que já conseguiu entregar equipamentos de protecção e ventiladores ao Hospital Nossa Senhora do Rosário. “Mas o principal agente para esta angariação deveria ser a Direcção-Geral da Saúde e o trabalho que está ser feito agora deveria ter sido feito em Janeiro, quando foi pedido”, aponta Zoraima Prado, dirigente nacional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEF) e coordenadora da direcção regional de Setúbal. “Mais, falar em 2 milhões de máscaras Tipo 2 para o país inteiro é irrisório” afirma a enfermeira.
Segundo Zoraima Prado, essa quantidade de equipamento de protecção, que até sábado era o número disponível em Portugal, segundo confirmou Marta Temido, ministra da Saúde, em conferência de imprensa, “não chegava nem para todo o distrito de Setúbal até meio do pico da epidemia em Portugal, previsto para Abril”.
No decorrer desta semana, segundo a ministra aguardavam-se “três fases de entrega de material em Portugal”, no âmbito das quais deveriam chegar mais 2 milhões de máscaras Tipo 2.
Zoraima Prado questiona a responsável pela tutela e Graça Freitas, directora-geral da Saúde, “como esperam que com este material seja possível enfermeiros, médicos, técnicos superiores de diagnóstico e auxiliares de saúde trocarem de máscara a cada 3 a 4 horas?”.
E não são apenas as máscaras Tipo 2 que estão estão falta. “Falta tudo. Óculos nem vale a pena referir, aventais dos mais básicos, fatos plásticos, desinfectante”.
Um cenário onde, nem mesmo as poucas máscaras que há são as ideiais. “Porque estamos a usar na maioria dos casos as ‘cirúrgicas’ e as ideais são as FP2”.
“Esta é a resposta para as cadeias de transmissão activa que estão a disparar”
Zoraima Prado faz o mapa das possíveis consequências da falta deste simples equipamento. “Se tivermos em conta, por exemplo, só os 800 enfermeiros que trabalham, por turnos, no HGO, estamos a falar de muitas cadeias de contágio possíveis, se os mesmos estiverem a trabalhar sem as devidas condições”.
Material que tanto o SEF como o Sindicato dos Médicos de Zona Sul confirmaram a O SETUBALENSE que “começou a desaparecer dos stocks hospitalares logo em Janeiro, de acordo com denuncias de vários profissionais dos hospitais Garcia de Orta, Nossa Senhora do Rosário e São Bernardo”.
A enfermeira afirma que a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e a DGS foram confrontadas com o que estava a acontecer “e com os exemplos dos profissionais de saúde de Itália que, sem o devido equipamento de protecção, representaram o maior foco de cadeias de transmissão da infecção Covid-19. No entanto, ficámos vários meses no silêncio”, revela.
Por agora “esta é a resposta ara as cadeias de transmissão que os hospitais estão a representar e quando o material chegar já vamos estar numa situação potencialmente muito crítica”.