Setúbal pode vir a ter um total de 12 mil pessoas infectadas por Covid-19

Setúbal pode vir a ter um total de 12 mil pessoas infectadas por Covid-19

Setúbal pode vir a ter um total de 12 mil pessoas infectadas por Covid-19

Fotografia: ALEX GASPAR

Um em cada 10 desses eventuais 12 mil casos “poderá necessitar de internamento hospitalar, muitos deles em cuidados intensivos”, diz José Santos Ferreira, Director Clínico do Hospital da Luz Setúbal

 

A evolução pandémica de Covid-19 abre “um cenário em que as cadeias de transmissão podem levar a 12 mil casos possíveis, só em Setúbal”. Quem o diz é José Santos Ferreira, director clínico do Hospital da Luz Setúbal.

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A estimativa “não é alarmismo”, garante o médico que faz as contas sobre a possibilidade.

No actual cenário de contágio e tendo em conta as manifestações clínicas da infecção, “a região de Setúbal pode contar que 10% da população infectada com Covid-19 necessite de cuidados de saúde, isto é, cerca de 12 mil habitantes”. Destes possíveis doentes, “um em cada 10 poderá necessitar de internamento hospitalar, muitos deles em cuidados intensivos com necessidade de respiração assistida”, afirma José Ferreira Santos. “Estaremos a falar de, aproximadamente, mil pessoas, muitas delas em situação de respiração assistida por ventiladores”, reforça o cardiologista.

Durante o fim-de-semana, a ministra da Saúde, Marta Temido, referiu que “Portugal tem disponíveis dois milhões de máscaras Tipo 2 para hospitais e centros de saúde” e, ao longo dos próximos dias, “em três fases, mais material estará a chegar”. Contudo, não revela números.

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Números que têm levantado dúvidas no Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) e no Hospital da Luz Setúbal, que apontam médicos em risco de contágio, sem equipamentos e condições para realizar quarentena.

 

Covid-19 e as nossas fraquezas

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Para os números e casos de risco elevado, não contribui apenas a falta de equipamentos, mas também a forma como o nosso organismo “grava o vírus”. José Ferreira Santos explica algumas das diferenças entre o este novo coronavírus, o SARS-CoV-2, que provoca a infecção Covid-19, e a gripe normal.

A gripe “afecta as vias respiratórias superior e inferior”, ou seja nariz, boca, faringe, laringe e traqueia na área superior e inferior, brônquios, bronquíolos, pulmões e alvéolos. “Já os coronavírus, como o SARS-CoV-2, afectam principalmente a via respiratória inferior”, ou seja a traqueia inferior, brônquios, bronquíolos, pulmões e alvéolos e por esse motivo o “risco de pneumonia grave é muito superior ao da gripe normal”.

Por outro lado, a maioria de nós já tem alguma defesa contra o vírus da gripe – devido a infecções anteriores e vacinas anuais – e por isso, a velocidade de transmissão é inferior ao do SARS-CoV-2, “para o qual não há qualquer imunidade”.

Acresce o facto do SARS-CoV-2 ser um vírus resistente e que pode sobreviver até cinco dias em superfícies que tenham sido infectadas com gotículas, tais como “terminais de multibanco, mesas de trabalho, carrinhos de supermercado, entre outros”.

A infecção por Covid-19 tem também um período de incubação que pode ir até 14 dias e nessa fase podem não existir quaisquer sintomas, mas a pessoa já poderá contaminar outros. Por esse motivo são recomendados 14 dias de quarentena em casos suspeitos.
“A maioria das pessoas infectadas com Covid-19 não terá quaisquer sintomas ou terá apenas sintomas ligeiros. Em particular as pessoas mais jovens. Mas, idosos e as pessoas com doenças crónicas podem desenvolver quadros de gravidade, com necessidade de internamento e ventilação assistida”, explica o médico.

“O problema é que se todos os idosos ou pessoas com doenças crónicas ficarem infectados com Covid-19 nas próximas duas a quatro semanas, estaremos a falar de muitas pessoas a necessitar de cuidados hospitalares”.

Por isso, o cardiologista apela: “Ajudem a salvar vidas e fiquem em casa.”

 

Hospitais da região em risco

 

Esta semana, em declarações a O SETUBALENSE, Zita Gameiro, membro do SMZS, revelou que os equipamentos disponíveis “estão longe de ser suficientes em todos os hospitais da região e mais grave ainda é o caso de médicos, enfermeiros e auxiliares nas urgências, sem máscaras”.

O SMZS aponta a carência de máscaras Tipo 2 como “transversal”, acompanhada por “muitas queixas de médicos sobre situações de elevado risco”.

Situações que estão a “colocar em risco equipas do Garcia de Orta, Centro Hospitalar Barreiro Montijo, Hospital de São Bernardo e Agrupamentos de Centros de Saúde, sendo no casos destes as situações mais graves Almada-Seixal e Arrábida”. Unidades a partir das quais o SMZS afirma que, “há dezenas de casos de profissionais da saúde infectados”.

Entretanto, a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) emitiu um comunicado, no qual refere que “alguns centros hospitalares estabeleceram, através de circulares, a indicação de manter profissionais de saúde, que estiveram em contacto próximo não protegido com doentes infetados por SARS-CoV-2, em trabalho regular com máscara cirúrgica, desde que assintomáticos”.

Orientações que não coincidem com as linhas estabelecidas pela Direcção-Geral da Saúde, para que “médicos com contacto não protegido e alto risco de exposição permanecerem em isolamento profilático durante 14 dias”. Motivos que levam a FNAM a relembrar que “os profissionais de saúde são veículos fáceis de transmissão” e que “as falhas na quebra destas linhas de transmissão têm sido apontadas como uma das razões para o descontrolo da pandemia noutros países”.

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