“Os sócios têm de saber que financeiramente o Vitória está falido”

“Os sócios têm de saber que financeiramente o Vitória está falido”

“Os sócios têm de saber que financeiramente o Vitória está falido”

Eleito há um mês, o presidente Paulo Gomes reconhece que desconhecia muita coisa. Promete revelar tudo em assembleia geral. Sobre a auditoria, novos estatutos, obras na Várzea e centro de estágios, diz que estão a avançar, bem como o planeamento da próxima época

Embora não goste de utilizar a palavra transparência, essa a grande promessa de Paulo Gomes para os sócios do Vitória. Em entrevista a O SETUBALENSE, o novo presidente dos sadinos revela que quer dar a conhecer os problemas do clube e assume que o apoio dos associados será fulcral para caminhar em direção a um futuro que, para já, continua incerto.

Foi eleito presidente em Janeiro. Como vê hoje esse dia?
A minha eleição foi feita de forma empolgante, diferente das outras, com cinco candidaturas. A minha vantagem foi notória e houve uma vontade expressa dos sócios em que eu tomasse a liderança dos destinos do clube. Ao mesmo tempo, a morte do meu pai deixou-me muito desarmado no final mas, com as forças que ainda tinha e com a ajuda dele, consegui estar na fase final daquela luta que terminou em vitória.

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Ficou surpreendido com o que encontrou no Bonfim?
Pensei que sabia mais sobre o Vitória, não o vou negar. A forma de gerir era demasiado presidencialista para o meu gosto e hoje tenho uma noção completamente diferente do clube. O Vitória vai ganhar com isso, porque numa próxima assembleia geral vou explicar de forma clara e organizada aquilo que é o Vitória, que dificuldades temos e que caminhos temos de percorrer para as ultrapassar. Os sócios têm de conhecer os problemas reais. Há muita gente que fala sem a noção básica daquilo que é o Vitória. Em vez de, às vezes, fazermos a crítica gratuita, devemos perceber o que podemos fazer para acrescentar algo mais.

Fala de problemas financeiros?
Sim. Financeiramente, o Vitória está na falência. Tem muitas dificuldades, muito porque quem o geriu colocou as despesas à frente das receitas logo numa fase inicial. Assim o clube tem sempre dificuldades em cumprir acordos e torna-se difícil a gestão, ao ponto de depois se arranjarem artimanhas para fingir que está tudo bem. Andamos há muitos anos a fazer de conta que tudo está bem, mas não está e os sócios vão perceber o porquê. Muitas vezes comparam-nos com o Braga e o V. Guimarães, que cresceram muito e nós percebemos porquê. Em 20 anos não se fez um relvado, uma estrutura física ou uma casa de banho no Bonfim. Se fizéssemos como os outros, provavelmente estaríamos muito melhor. O que nós fizemos foi arranjar empresas de empresas, para A vender a B, B vender a C, C penhorar a D… Foi um acumular de erros sucessivos que faz com que hoje não tenhamos a certeza se teremos um futuro digno.

O que fazer para ultrapassar estes problemas?
Há que saber negociar. O clube fechou o seu PER [Plano Especial de Revitalização] na quinta-feira, porque o anterior estava feito para não ser pago. Estamos a tentar fazer perceber a quem está connosco como é que podemos sobreviver a dois PER, cuja dívida na totalidade ronda os 40 milhões de euros.

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Além do PER da SAD, pago com dificuldades, junta-se o PER do clube. Isso é viável?
Se não o fizéssemos, o clube entraria em insolvência. Corríamos o risco de alguém comprar os créditos e tornava-se imediatamente dono do clube e da SAD. O nosso grande parceiro neste processo é a Câmara Municipal. A presidente dispôs-se a ajudar na negociação com alguns credores. Nada está fechado, mas criou-se um caminho para podermos reduzir drasticamente o passivo do clube.

Quando tomou posse revelou uma dívida à Segurança Social e Autoridade Tributária. Como ficou essa situação?
Sabia que havia dívidas, porque estava assumido internamente que não seriam pagas. Não podemos é não submeter o IVA. Isso é gravíssimo. As dívidas não podem aumentar 30% em execuções fiscais. Quando sabemos no início da época que não vamos pagar 1 euro à SS e à AT, porque depois no final vendemos um jogador para resolver, algo não está bem. O Vitória só estará bem quando a receita extraordinária de uma venda for mesmo extraordinária e possa permitir investimento. É preciso perceber que o clube é maior que as pessoas. As pessoas vão embora e o clube continua.

Como foi paga essa dívida, uma vez que não houve transferências de jogadores?
Chegaram propostas, mas não quisemos vender por vender. O Vitória tem de vender pelo valor do jogador e não porque as pessoas sabem das dificuldades. Como revelei na campanha, tenho dois tipos de investimentos – um no futebol e outro na tesouraria – e com alguma engenharia financeira conseguimos cumprir com os pressupostos. Não posso divulgar nomes, mas são pessoas que gostam do Vitória. Caso contrário não fariam o que fizeram. Quem trabalha connosco tem de gostar do clube, porque o risco é muito alto, e têm de confiar em mim e nesta direção.

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Falou de uma academia para a formação e de um centro de estágios para o futebol profissional. Há avanços nesse sentido?
Vamos arrancar com novos balneários no início de Março e só não o fizemos antes porque houve um asfixiamento financeiro nestes últimos dois meses, porque o dinheiro não estica e temos de cumprir com as nossas obrigações. Vamos avançar também com a secretaria da formação e com um sintético na Várzea. A vontade é enorme e temos de começar por algum lado. Tudo o que seja extra, será investido no crescimento estrutural do clube.

Isso passará pela Várzea?
A Várzea será o centro de formação do clube. A equipa profissional precisa de um sítio onde possa treinar e fazer noutro local tudo o que faz hoje no Bonfim. Creio que em breve será aprovado um protocolo que nos vai fazer crescer muito na área estrutural. Será feito com uma entidade particular dos arredores de Setúbal.

Outras bandeiras da campanha foram a auditoria e os novos estatutos. Qual o ponto de situação?
A revisão dos estatutos está na fase final. A direcção e os sócios já deram o seu contributo e a comissão está a apurar o documento final, que será votado pelos sócios em AG no final deste mês. São estatutos mais blindados e vão permitir ao clube estar mais descansado em relação às pessoas que o dirigem. Em relação à auditoria, já sabemos qual será a empresa e estamos a analisar os detalhes financeiros. Não queremos que a auditoria sirva apenas para que as pessoas fiquem contentes. Em primeiro lugar terá de servir para perceber o que foi feito até agora e, em segundo, permitir perceber qual o caminho que temos de tomar para melhorar o clube.

Espera surpresas da auditoria?
Não vou fazer uma caça às bruxas. Não faz parte da minha maneira de estar, mas branquear também não. O que tiver de ser dito, será. Não no Facebook ou em comunicado, mas aos sócios. Os sócios entenderam que não quero andar com palavras soltas para pensarem que isto está mais ou menos.

O que lhe têm dito os associados?
Acima de tudo, dizem-me que tive muita coragem. Não sendo um presidente alinhado ao modelo dos anteriores, houve quem manifestasse receio por eu ter a minha vida organizada e vir para um barco como este. Por outro lado, ficaram contentes por eu mostrar vontade de inverter um processo que parecia bloqueado. Acredito que posso unir a massa vitoriana e vou precisar dos adeptos. Temos de ultrapassar a barreira dos 15 mil sócios, até porque o PER do clube só é pagável dessa forma. Todos terão de fazer a sua parte, porque eu vou fazer a minha.

Numa altura de lutas do G15, pretende que o Vitória seja uma voz activa?
Claro que sim. O Vitória é refém dos negócios que fez com a televisão. Temos provavelmente o pior negócio da I Liga, o que não se entende porque somos talvez um dos clubes na primeira metade quanto a assistências. A balança está desequilibrada. Clubes com um campo e mil adeptos têm mais receitas que nós. Algo não foi bem feito e a auditoria vai ajudar a explicá-lo.
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“Vamos fazer tudo para que Velázquez continue”
Paulo Gomes assume a vontade de prolongar o vínculo com o técnico Júlio Velázquez, cujo contrato termina no final desta temporada. Confortavelmente acima da linha de água, os responsáveis vitorianos já preparam a próxima época e acreditam que esta antecipação poderá ser uma grande vantagem.

A equipa principal está a fazer uma das épocas mais tranquilas dos últimos anos. Como olha para o momento desportivo?
A vontade e o querer com que o plantel se apresenta em todos os jogos deve orgulhar qualquer vitoriano. Não se fazem omeletes sem ovos e, se não temos os melhores jogadores, temos de compensar com trabalho e nisso temos sido exemplares. Os últimos resultados não têm sido os que gostaríamos, mas muito devido ao calendário. Apenas o duelo com o Gil Vicente ficou aquém das expectativas. Fomos competentes contra Braga e Portimonense. Tentamos dar as melhores condições possíveis dentro das nossas capacidades. Não tenho controlado isso financeiramente, porque sinto que é o mínimo que se pode dar a este grupo que tão bem dignifica o clube. Estou muito orgulhoso de todos.

Já se pensa na época seguinte?
Sim. Na próxima semana já vão começar a aparecer novidades. Temos mais tempo para preparar a época e vamos poder prepará-la como gostaríamos. Com os nossos orçamentos, temos de escolher bem e se pudermos fazê-lo antes dos outros, será uma vantagem.

O contrato de Júlio Velázquez termina no final da época. Gostaria de manter o treinador?
Vamos fazer tudo para que Velázquez continue. Ainda não abrimos esse processo, mas sabemos que é importante manter o treinador. Lutar pelo Velázquez não será fácil, mas vamos usar todas as armas que temos para que o treinador continue connosco. Além da competência e do trabalho realizado, é alguém que valoriza os adeptos, sabe agradecer e adoptou a cidade.

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