Há reuniões de AA, geralmente bissemanais, em vários pontos do distrito. Esses grupos, ainda que autónomos, procuram seguir os mesmos princípios e respeitar as mesmas tradições
Penso que há muita gente, com ou sem conflitos com o álcool, que desconhece o que é e o que faz AA, sigla pelo qual é universalmente conhecida a comunidade dos Alcoólicos Anónimos. Esse desconhecimento conduz, não raras vezes, à formação de preconceitos, o que dificulta a construção e a vivência numa sociedade transparente, onde impere o espírito de justiça, solidariedade e entreajuda.
Desejo de parar de beber, único requisito
O surgimento de AA, embora inicialmente com outro nome, remonta a 1935. Bill Wilson, corrector da Bolsa de Nova Iorque, e o cirurgião Robert Smith, de Ohio, alcoólatras profundos, pensaram em fundar uma comunidade que os ajudasse a recuperar a sobriedade, comunidade aberta a todos que comungassem do mesmo anseio. Esse pensamento concretizou-se e, poucos anos depois, AA estava disseminado um pouco por todo o globo.
Vejamos, porém, como se apresentam hoje os próprios, no preâmbulo do “Livro Azul”, o texto básico de AA: “Alcoólicos Anónimos é uma comunidade de homens e mulheres que partilham entre si a sua experiência, força e esperança para resolverem o seu problema comum e ajudarem outros a se recuperarem do alcoolismo. O único requisito para ser membro é o desejo de parar de beber”.
Nem religião, nem política
E continuando na mesma linha: “Para ser membro de AA não é necessário pagar taxas de admissão nem quotas. Somos auto-suficientes pelas nossas próprias contribuições”. Outro facto muito importante: “AA não está ligado a nenhuma seita, religião, instituição política ou organização; não se envolve em qualquer controvérsia, não subscreve nem combate quaisquer causas. O nosso propósito primordial é mantermo-nos sóbrios e ajudar outros alcoólicos a alcançar a sobriedade”.
Ao membros de AA procuram viver um dia de cada vez, ou seja, combatem a doença do alcoolismo, cada 24 horas, contando por vitórias os dias que se mantêm sóbrios.
Procuram cumprir 12 preceitos, a que chamam tradições, entre as quais se destacam: “O nosso bem-estar comum deverá estar em primeiro lugar”, “O único requisito para se membro de AA é o desejo de deixar de beber”, “A nossa política de relações públicas baseia-se na atracção em vez da promoção, precisamos de manter sempre o anonimato pessoal na imprensa, na rádio e no cinema” e “O anonimato é o alicerce espiritual de todas as nossas Tradições, lembrando-nos sempre de colocar os princípios acima das personalidades”.
Por isso, nas reuniões é recordado o anonimato: “O que vê aqui, o que ouve aqui, quando sair daqui, deixe que fique aqui!”
Albertina, uma amiga de AA
Tenho uma amiga chamada Albertina que frequenta as reuniões de AA. Ela é verdadeira, de carne e osso, o nome é fictício. Palavras dela: “Em AA, só falamos por nós. No entanto, posso dizer que o anonimato é um princípio fundamental por duas razões: por um lado, assegura ao recém-chegado que a sua identidade não será revelada; por outro, implica o crescimento da humildade, de forma que os princípios prevaleçam sobre as personalidades”.
A quem aconselharia a frequência de AA? – perguntei-lhe. Uma pessoa que beba muito, embora ainda não seja considerado alcoólica, em termos médicos, poderá participar nas reuniões de AA? Albertina esclarece: “Em primeiro ligar, só a própria pessoa pode saber se é alcoólica ou não e se precisa ou não de ir a uma reunião de AA. Assim, qualquer pessoa que suspeito de ter problemas com o álcool é bem-vinda. Para além disso, segundo um dos nossos princípios, ‘o único requisito para ser membro de AA é o desejo de parar de beber”. Acrescenta Albertina: “O ambiente em AA é caloroso, de aceitação e respeito, seja por quem for que ali entre, independentemente da idade, da etnia, credo, estatuto social, etc. Não há quaisquer exigências ou obrigações”.
A nossa interlocutora diz-se agradecida a AA, porque tudo mudou na sua vida. “Ajudaram-me desde a manter-me sem beber, um dia de cada vez, a conhecer-me cada vez mais profundamente, e a tentar ser uma pessoa melhor e mais disponível para os outros”, sublinha.
Se precisar, não hesite!
Se sentir que precisa de ajuda, não hesite em contactar AA. Alguém o ouvirá e propor-lhe-á o passo seguinte. Pode fazê-lo telefonicamente, através do n.º 217 162 969, ou utilizando esta direcção electrónica info@aaportugal.org.
Por José Augusto