Sporting venceu, por 1-3, no Estádio do Bonfim, numa partida nunca antes visto na história do futebol profissional em Portugal. Reação na segunda parte merecia mais do que o golaço de Carlinhos e a bola no ferro de Guedes.
O Estádio do Bonfim, em Setúbal, foi na noite de sábado palco de um jogo nunca antes visto na história do futebol profissional em Portugal. Obrigado a ir a jogo, o Vitória FC perdeu, por 1-3, com o Sporting em duelo da 16.ª jornada da I Liga que, há vários dias se sabia, estava inquinado desde a primeira hora devido à razia que aconteceu no plantel treinado por Julio Velázquez numa semana fértil em acontecimentos.
Depois de uma infeção viral ter dizimado a maioria dos habituais jogadores titulares do Vitória, a equipa foi a jogo diante do Sporting, que desde o início se mostrou irredutível em adiar o encontro. Mesmo fragilizados, os jogadores sadinos fizeram uma exibição heróica que ficará para sempre na memória de quem o vivem e que deixou orgulhoso não só os adeptos vitorianos como todos os setubalenses e aqueles que amam o futebol.
Quanto ao jogo, um autogolo de João Meira e um bis’ de Bruno Fernandes valeram o triunfo leonino. No jogo no Estádio do Bonfim, onde os sadinos ainda não tinham perdido no campeonato na presente época, o Sporting teve de sofrer para segurar a vantagem, depois de Carlinhos ter marcado para os sadinos aos 63 minutos. O golo da tranquilidade sportinguista só já aconteceu em período de compensação.
Após a infeção viral que atingiu o plantel sadino nos últimos dias, sete dos titulares na última jornada ficaram de fora por estarem em casa de quarentena: Makaridze, Sílvio, Jubal, Artur Jorge, Nuno Pinto, Semedo e Hachadi. Os quatro resistentes no conjunto treinado por Julio Velázquez foram André Sousa, Éber Bessa Carlinhos e Zequinha, numa equipa que só teve no banco de suplentes cinco atletas, quatro deles sub-23 (João Valido, Bruno Langa, João Serrão e Leonardo Chão).
Ainda o jogo não tinha começado e já os adeptos sadinos se manifestavam contra a equipa ‘leonina’. O auge dos protestos aconteceu quando o presidente Frederico Varandas, acompanhado pelo homólogo sadino, Vítor Hugo Valente, chegou ao camarote presidencial, onde o ‘caldo também entornou’ entre os dirigentes. Os adeptos não pouparam insultos ao dirigente do Sporting, que foi presenteado com uma faixa a dizer: “Varandas, vergonha nacional.”
O Vitória foi a primeira equipa a criar perigo no encontro na cobrança de um livre direto de Bruno Pirri, que, aos dois minutos, levou a bola a passar ao lado do poste direito da baliza de Luís Maximiano. A resposta do Sporting aconteceu num lance desenhado no lado esquerdo do ataque, aos 14 minutos. Depois de uma defesa incompleta de Milton Raphael, a cruzamento de Bolasie, valeu o defesa André Sousa a afastar o perigo pela linha final.
Depois de um período em que já tinha o claro domínio do jogo, o Sporting, perante um oponente que dava sinais de inferioridade dos níveis físicos, chegou ao golo, aos 27 minutos, através de um autogolo de João Meira. Após ser assistido por Bolasie, Ristovski rematou e o central sadino desviou para a própria baliza. Aos 34 minutos, os ‘leões’ ampliaram a vantagem depois de beneficiarem de uma grande penalidade por falta cometida por Bruno Pirri sobre Bruno Fernandes. O jogador do Sporting encarregou-se da marcação e fez o 2-0, resultado com que se atingiu o intervalo.
No segundo tempo, os vitorianos reagiram de forma extraordinária e viram essa reação recompensada num momento de inspiração de Carlinhos. O brasileiro aproveitou uma perda de bola de Mathieu para desferir, aos 63 minutos, uma ‘bomba’ de fora da área, que valeu o 2-1 aos setubalenses, num lance em que a bola ainda embateu na trave. O golo galvanizou o Vitória, que, aos 75 minutos, depois de um cruzamento de Carlinhos, esteve à beira da igualdade num cabeceamento de Guedes, que levou a bola a embater na trave.
Apesar da tentativa em alcançar o empate, os sadinos, sempre empurrados por uma fervorosa massa adepta que estava em maioria entre os 5.911 espectadores que estiveram no estádio, acabaram por ver o Sporting chegar ao golo já em período de compensação. Bruno Fernandes, aos 90+4, concluiu com êxito um lance de contra-ataque do Sporting. Apesar de terem levado os três pontos para Lisboa, a maior vitória ficou foi a da equipa sadina por ter actuado com sacrifício e abnegação depois de uma semana excepcional a todos os níveis.
Julio Velázquez: «Para mim não é uma derrota, é uma vitória»
Apesar da derrota no resultado, o treinador do Vitória, Julio Velázquez, não escondeu o seu orgulho pela resposta que a equipa deu frente ao Sporting depois de uma semana excepcional. “É uma vergonha que se tenha jogado este jogo. Como sabem, muitos dos meus jogadores estão de cama e este jogo não se devia ter realizado. Para mim não é uma derrota, é uma vitória, é um dos dias em que mais me senti orgulhoso de estar com esta equipa. Por isso, primeiro, muito obrigado, de coração, e depois parabéns à equipa pela capacidade de jogar com e sem bola, pelo compromisso e pelo trabalho”, disse o técnico espanhol, continuando: “É um jogo que vai servir para criar mais união dentro da equipa. Tínhamos um compromisso e quisemos cumpri-lo. Fiquei assombrado com os meus jogadores, porque mostraram uma força incrível e tenho muito orgulho neles. Melhor resposta era impossível”.
Presidente do Vitória anuncia corte de relações com o Sporting
Estalou o verniz entre os dirigentes máximos do Vitória e do Sporting, acabando Vítor Hugo Valente, presidente dos sadinos, por anunciar o corte de relações com o conjunto leonino foi liderado por Frederico Varandas, que exerceu no passado as funções de médico do Vitória.
Após o encontro de sábado à noite, Valente anunciou, o corte institucional de relações com o Sporting, depois de acusar o homólogo Frederico Varandas de ter tido um comportamento provocatório no estádio do Bonfim, em Setúbal. “A partir de hoje, enquanto este presidente lá estiver, não mantemos relações institucionais com o Sporting. Frederico Varandas envergonha o futebol e a instituição Sporting”, disse na sala de imprensa do Bonfim, após o final do jogo Vitória-Sporting, que os leões venceram por 3-1.
Vítor Hugo Valente afirmou que “o presidente do Sporting foi provocador”, tendo ainda acusado o líder ‘leonino’ de “prepotência”, por ter colocado em causa as alegações do clube do Bonfim para pedir o adiamento do jogo. Para Vítor Hugo Valente, o Sporting só se preocupou em ganhar os três pontos e não teve em consideração as razões invocadas pelo Vitória. “A atitude do Sporting e do seu presidente, em vir ganhar três pontinhos contra estes jogadores, não é digna do futebol. Estes jogadores [do Vitória] fizeram de tudo e tememos pelas condições deles para o próximo jogo”.
Vítor Hugo Valente foi ainda mais longe: “Como se isto não bastasse, a atitude prepotente, de má educação do senhor presidente do Sporting, que se apresentou no camarote com uma atitude provocadora, que me fez dizer-lhe na cara tudo o que tinha de ouvir”.
Recorde-se que o Vitória de Setúbal tinha solicitado o adiamento do jogo com o Sporting devido a uma infeção viral que afetou vários jogadores da equipa de futebol, mas o Sporting impôs como condição a realização de uma junta médica, com médicos indicados pelo Sporting, pelo Vitória e pela Liga de clubes. A proposta do Sporting foi recusada pelo Vitória e o jogo, tal como previsto, realizou-se no sábado à noite no Bonfim.