“Setúbal tem um eleitorado  bem informado politicamente”

“Setúbal tem um eleitorado  bem informado politicamente”

“Setúbal tem um eleitorado  bem informado politicamente”

Rui Oliveira Costa administrador da Eurosondagem em entrevista|

O rosto visível de um gigante das sondagens em Portugal fez, para O Setubalense – Diário da Região, uma avaliação política e social do distrito. Destaca a importância e as particularidades de Setúbal em comparação com o todo nacional, e chama a atenção para os estudos de mercado políticos a meio dos mandatos, essencialmente ao nível autárquico.

É professor de Ciência Política, foi deputado, fundador da UGT, dirigente partidário e autarca, masa imagem pública e marca profissional de Rui Oliveira Costa está, indelevelmente, ligada ao projecto que pensou, construiu e solidificou ao longo dos anos: a Eurosondagem.

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Nesta entrevista a O Setubalense, o “senhor sondagens”, faz um rastreio político e social pormenorizado do distrito de Setúbal. Revela a recente aposta no trabalho com a imprensa regional, e deixa uma chamada a atenção para a importância das sondagens a meio dos mandatos autárquicos. No plano estrutural da Eurosondagem, mostra-se satisfeito com a passagem de testemunho a uma nova geração dentro de portas. Rui Oliveira Costa e António Rebelo de Sousa são os accionistas da empresa, mas os filhos de ambos, Marta Oliveira Costa e Luís Rebelo de Sousa, já assumem o cargo de sócios-gerentes.

Fundada em 1996,a Eurosondagem é, desde há muito, uma referência no sector de estudos de mercado em Portugal.Para a longevidade e sucesso da empresa, Rui Oliveira Costa aponta, nesta entrevista, os factores mais decisivos.

Como profundo conhecedor da realidade político-social do país, que retrato faz do distrito com base nos estudos de mercado tem tem conduzido ao longo dos anos?

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É um distrito que conheço muito bem. É o quarto do país em número de recenseados e tem duas facetas: uma, inserida na Área Metropolitana de Lisboa, e a outra,com os quatro concelhos no Alentejo, Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém e Sines, que, do ponto de vista eleitoral, contam relativamente pouco, pois elegem apenas dois deputados. A Península de Setúbal tem outra faceta quanto aos votos. Se o Barreiro, Almada e Seixal têm uma ligação nacional devido à proximidade a Lisboa, Setúbal, Palmela e Sesimbra já têm um foco local. O voto não é muito diferente, mas também não é igual. É um distrito que se situa,nos votos, à esquerda da média nacional, claramente. Dentro da esquerda, com uma predominância da CDU face ao BE, igual ao Alentejo, o que não se verifica em mais nenhum ponto do país; e tem uma forte presença do PS, com 9 deputados eleitos. Setúbal tem ainda a particularidade de ser a capital com o terceiro concelho em número de eleitores. Não ocorre em mais nenhum distrito.

“A meio do mandato é importante saber como estão as correr as coisas. Um bom autarca, a meio do mandato, deve ter uma ideia do que está a correr bem e o que não está a correr tão bem. É o que eu faria e, por isso, aconselho que se faça”

Setúbal, diria, não é bem um distrito padrão. Santarém é o que reflecte mais fielmente o resultado nacional. É a Ohio de Portugal. Em relação à influência partidária, em Setúbal verifica-se uma preponderância da CDU, um CDS bastante fraco, a meu ver, de forma irreversível, e constata-se um grande resultado do PAN. Fora Lisboa e do Porto, o melhor resultado é o de Setúbal. Na minha opinião, é uma força política que, em Setúbal, veio para ficar. Os novos partidos, nem por isso. O Livre, Iniciativa Liberal e Chega, em Setúbal, estão na média nacional.

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Com base nesse conhecimento adquirido tecnicamente, que cenário social traça para a região de Setúbal?

É uma região onde o rendimento per-capita não é comparável ao de outras regiões do país, como as dos grandes centros, Braga ou Guimarães. Não é bem um dormitório como Odivelas ou a Amadora, mas quase. E esta é uma das situações que influi na abstenção, que normalmente é alta nas autárquicas, e Setúbal não é excepção. Quem trabalha fora da cidade, a grande maioria em Lisboa, nas autárquicas participamenos porque a questão local não é para essas pessoas tão relevante, porque não vivenciam essa realidade diariamente;nas legislativas tudo muda, porque o voto é nacional.Setúbal é, por isso, um bom exemplo do porquê do voto nacional ser diferente do local.

É um eleitorado fácil de trabalhar para a Eurosondagem?

Sim! Tem um grau de dificuldade, diria, idêntico aos outros distritos. Não há uma taxa mais elevada de respostas «não sabe» ou «não responde» do que se verifica no resto do país. É um eleitorado, de uma forma geral, bem informado do ponto de vista político.

Cada região tem a sua especificidade. Eu sei onde ficam em todos os distritos os 308 concelhos de Portugal, e conheço-os bem. É fundamental esse conhecimento político e social para chegarmos aos resultados que se pretende.

Com a acção focada, quase a cem por cento, na área política, a carteira de clientes não deve ter muita expressão no sector privado?

De facto, as autarquias são os nossos melhores clientes. Setúbal,globalmente, tem menos pedidos de estudos do que Lisboa, Porto, Braga ou Aveiro. Para isso contribui o facto de nesses distritos haver uma disputa de câmaras mais acesa e incerta.

“Trabalhar Setúbal tem um grau de dificuldade, diria, idêntico aos outros distritos. Não há uma taxa mais elevada de respostas “não sabe” ou “não responde” do que se verifica no resto do país. É um eleitorado, de uma forma geral, bem informado do ponto de vista político”

Nos intervalos dos períodos eleitorais, que trabalho desenvolve uma empresa como a Eurosondagem?

Nos períodos entre eleições, temos um barómetro político que sai todos os meses e que é o mais antigo do país, já com 20 anos. Esta sondagem dá a intenção de voto e mede a popularidade do Presidente da República, Governo, Primeiro-ministro e líderes partidários, e também questões de conjuntura. Isso é relevante. Depois, temos as câmaras municipais que são um dos principais clientes que nos pedem estudos políticos. A meio do mandato é importante saber como estão as correr as coisas. Um bom autarca, a meio do mandato, deve ter uma ideia do que está a correr bem e o que não está a correr tão bem. É o que eu faria e, por isso, aconselho que se faça.

Alguns só fazem esse tipo de estudo a dois meses das eleições e aí já não há nada a fazer. Há ainda situações pontuais para as quais também estamos capacitados. Dou-lhe vários exemplos: o Porto, agora, tem um problema com o pavilhão Rosa Mota, Braga vai ter a venda do estádio de futebol. Situações que necessitam de ser analisadas antes de os autarcas tomarem as decisões, que podem ter consequências políticas.

Outro tipo de estudos que estamos habilitados são questões sobre o tabagismo, que passam pela Direcção-Geral de Saúde,saber os locais onde se deve poder fumar, proibições etc. São questões de âmbito nacional,que fogem ao espectro da política.Agora estamos a desenvolver um trabalho com a imprensa regional, que envolve a Associação Mutualista Montepio, e que permite que nós pratiquemos preços com um valor quase simbólico, para que a imprensa regional possa passar às populações a realidade do momento nos seus concelhos. Temos já parcerias estabelecidas com 13 órgãos de comunicação social de norte a sul do país.

”Queremos sempre melhorar, mas, quantitativamente, não vamos crescer, nem queremos, porque não nos metemos naquilo que não sabemos fazer bem. Somos especialistas em estudos de natureza política. Esse é, e será sempre, o nosso foco”

Mas a Eurosondagem não está sozinha no mercado. O que faz a diferença na hora de o cliente se decidir pelos seus serviços em detrimento de outros concorrentes?

Para nós, é a experiência. Fazemos presidenciais, legislativas e autárquicas há 20 anos. Nas últimas autárquicas tudo bateu certo. As capitais de distrito não falhámos nenhuma, mesmo a perda da CDU em Beja. Foi a única capital de distrito que mudou de mãos, não falhámos. Tudo certinho. Na Madeira, também correu muito bem. Conheço muito bem as regiões autónomas e, para o ano, vamos ter as eleições no Açores em relação às quais temos boas perspectivas. Este é o nosso melhor argumento, os resultados.Mas também o cumprimento de prazos e os preços muito competitivos que praticamos. A Eurosondagem é uma PME, não é uma grande empresa, mas pomos muito rigor no que fazemos.A experiência e o conhecimento são muito importantes e, nessa matéria, o meu passado fala por si. Temos supervisores, mas eu supervisiono os supervisores.

Quanto ao futuro, como vê a Eurosondagem no curto e médio prazo?

Do ponto de vista qualitativo, queremos sempre melhorar, mas, quantitativamente, não vamos crescer, nem queremos, porque não nos metemos naquilo que não sabemos fazer bem. Somos especialistas em estudos de natureza política. Esse é, e será sempre, o nosso foco.Neste momento, diria que estamos numa fase de preparação para a passagem de testemunho a uma nova geração. A Marta, minha filha, já é a nossa chefe operacional, o Luís, filho do António Rebelo de Sousa, o outro accionista da empresa, ainda não tem uma presença tão intensa, mas o futuro da empresa passa por eles; contudo, por enquanto, nenhum estudo é publicado sem a minha assinatura.

Por Luís Bandadas

Fotos Mário Romão

 

 

 

 

 

 

 

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