Ser professor nos nossos dias

Ser professor nos nossos dias

Ser professor nos nossos dias

12 Novembro 2019, Terça-feira
Francisco Cantanhede - Professor
Francisco Cantanhede – Professor

 

Recentemente, a comunicação social noticiou diversos casos de agressões a professores e a agressão de um professor a um aluno.

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Quando o professor agrediu o aluno- atitude lamentável-, caiu o carmo e a trindade: reagiu o Encarregado de Educação, a Associação de Pais, o Ministério da Educação e a própria comunicação social aproveitou muito bem a ocasião-quase única- para cascar nos professores.

Ser professor tornou-se dramático para muitos docentes. Sofrem ameaças constantes, insultos, exige-se-lhes total entrega à profissão, muito para além do horário de trabalho, como se não fossem pais e mães. Tudo o que de mal acontece na sala de aula é de sua inteira responsabilidade. Muitos deles, nunca tiveram acesso a formação para enfrentar situações de desafio provocadas por alunos que desejam afirmar a sua liderança na turma, desajustados socialmente, com perturbações mentais…. Como reagem os docentes em situações de indisciplina muito grave? Defendem-se, raramente, ou calam-se, quase sempre, temendo a reação dos pais, do diretor, ou mesmo da tutela.

Vem a propósito descrever um exemplo que vivencie enquanto docente e diretor de turma numa escola do distrito de Setúbal. O professor de matemática, excelente profissional a nível científico e mesmo pedagógico, ficava completamente bloqueado em situações de indisciplina grave. Continuava a trabalhar no quadro, mesmo que nenhum aluno estivesse envolvido no processo de aprendizagem, pois, falavam, gritavam, saltavam de mesa em mesa. Os pais fizeram um abaixo assinado dirigido ao Ministério da Educação, tendo eu sido informado, enquanto diretor de turma. Falei com o diretor da escola e com uma outra colega professora da turma. Os dois docentes disponibilizaram-se para estarem presentes nas aulas de matemática, uma vez que os seus horários tinham alguns «furos» que coincidiam com as aulas referidas, o que foi aceite pelo docente de matemática. Jamais se voltaram a verificar situações de indisciplina, toda a turma se envolveu no processo de aprendizagem e eu aprendi matemática como nunca tinha acontecido na minha vida de estudante. Esse professor era mau profissional? Deixo ao critério do estimado leitor.

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Viver em sociedade implica conhecer e cumprir regras. É no berço que essas regras devem começar a ser interiorizadas. A família é o primeiro e principal espaço de socialização da criança. Criança indisciplinada na escola significa, geralmente, que experienciou ou experiencia vivências de indisciplina em casa. A mãe grita com o pai, o pai grita com a mãe, ambos prometem mudar, passados dias, tudo volta ao mesmo; o pai insulta os avós maternos, a mãe os avós paternos, cada um ameaça sair de casa; tudo isto, e muito mais, na presença dos filhos. E exigem-lhes silêncio absoluto fora do lar. É preciso manter as aparências.

A cidadania deve ser trabalhada em casa, através de bons exemplos, e na escola transversalmente e não em quarenta minutos por semana. Se os professores, no inicio do ano letivo, solicitarem aos alunos para definirem as regras e respetivas penalizações a serem implementadas em sala de aula e as mesmas forem afixadas em locais bem visíveis, e todos os docentes da turma se mostrarem inflexíveis no seu cumprimento, estarão a prevenir situações de indisciplina. Se os professores conseguirem envolver os alunos na definição, planificação e realização das tarefas escolares, muitas outras situações de indisciplina serão evitadas, mas não todas. Educar é uma função coletiva, logo, desresponsabilizar as famílias dessa função, como tem sido norma da sociedade e da tutela da educação no passado e no presente, em nada contribui para melhorar as aprendizagens dos alunos, especialmente a nível do saber estar e do saber ser. Ou se age agora, ou a falta de professores tornar-se-á dramática num futuro próximo.

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