10 Agosto 2024, Sábado

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“Se há uma fobia, encontre-se um profissional que trate essa fobia”

“Se há uma fobia, encontre-se um profissional que trate essa fobia”

“Se há uma fobia, encontre-se um profissional que trate essa fobia”

Para José Maia, cigano, a ascensão da extrema-direita ao parlamento nacional não lhe tira o sono. Afirma-se português e apela aos governantes que protejam o direito da expressão cultural. É que a etnia cigana está em Portugal à 500 anos

 

Há não muito tempo, a secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro, afirmou que a ciganofobia impregna o quotidiano da sociedade portuguesa. Por conseguinte, O SETUBALENSE-DIÁRIO DA REGIÃO foi ao terreno para observar e entabular diálogo com um representante daquela etnia, tendo por guia o lema a “falar é que a gente se entende”.

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José Maia tem 48 anos, nasceu e vive no concelho do Seixal, tem três filhos, é vendedor ambulante e trabalha desde a adolescência, sempre na mesma área. “A minha profissão deu-me a conhecer Portugal inteiro, bem como Espanha e países da América Latina, como o Brasil e Argentina”, conta.

As declarações da governante mereceram-lhe o seguinte comentário: “Se há uma fobia, encontre-se um profissional que trate essa fobia, como tratam outras. Eu é que não sou médico!”.

A realidade da extrema-direita ter chegado ao Parlamento não o assusta. “É uma minoria de uma minoria. Não me dá dor de cabeça, nem me tira o sono”, ironiza.

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O apelo final vai para os governantes e autoridades “Que façam respeitar os direitos dos portugueses, nos quais se incluem os representantes da etnia cigana, que protejam o direito que nos assiste a expressarmos livremente os nossos valores culturais”.

As dificuldades que experimenta a sua etnia decorrem da “globalização e das autoridades do país”, que “impõem os locais, nem sempre os mais adequados, onde temos que exercer a nossa actividade. Geralmente, os centros urbanos estão-nos vedados”.

José Maia sente-se português, conhece a sua geração e lembra que a etnia cigana se fixou em Portugal há mais de 500 anos. “Nós, que somos muito dados à família, como todos sabem, conhecemos bem as nossas raízes”. E toca na ferida: “Sentimos o racismo na pele, mesmo no bairro que habitamos. Muitas pessoas, não quero generalizar, dão-nos os bons dias ou as boas tardes como que por obrigação, por vezes, até com um certo desconforto. O mesmo se passa no café ou no restaurante: somos atendidos com gentileza, mas nota-se sempre algo, quase imperceptível, no comportamento do empregado”

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“A nossa pátria é Portugal, pelo que exigimos direitos iguais e, sobretudo, que nos respeitem!”

 

Na opinião de José Maia, os “ciganos estão integrados, porque trabalham, pagam os impostos e respeitam as leis”. O pior, sublinha, “é quando queremos expressar a nossa cultura. Trata-se, na verdade, mais de um racismo cultural do que outra coisa. No entanto, a nossa pátria é Portugal, pelo que exigimos direitos iguais e, sobretudo, que nos respeitem!”

Entretanto deixa esta reflexão: “Até determinada altura, a cultura nacional, genuína, foi preservada. Depois, chegou a globalização e as coisas alteraram-se. Hoje, há gente que não respeita os velhos, nem as crianças, por conseguinte, não vejo razão para quererem que assumamos determinado comportamento cultural, quando temos o nosso, que não prejudica ninguém. Onde enxergam o mal nas nossas tradições?”. E continua: “Somos um povo de Deus, a quem devemos os nossos costumes e tradições, respeitamos as suas leis. Metade da população cigana segue a Igreja Evangélica”.

 

Por José Augusto

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