João Marques: “A habitação acessível é o passo fundamental para fixar as pessoas”

João Marques: “A habitação acessível é o passo fundamental para fixar as pessoas”

João Marques: “A habitação acessível é o passo fundamental para fixar as pessoas”

O candidato da coligação CDS/PSD defende uma gestão mais participativa, que envolva os cidadãos nas decisões e preserve a identidade de Alcochete, conciliando tradição e desenvolvimento

João Marques, candidato da coligação Alcochete Diferente (CDS‑PP/PSD) à presidência da Câmara Municipal de Alcochete, apresenta-se com a promessa de dar “um novo rumo” ao concelho. Morador em Alcochete há cerca de três décadas, o candidato defende uma gestão participativa que aproxime os cidadãos da autarquia e equilibre tradição e desenvolvimento.

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Em entrevista a O SETUBALENSE, defende que  o concelho enfrenta desafios como o aumento da habitação, a preservação do património e a necessidade de crescimento sustentável, sobretudo face à proximidade do futuro aeroporto. Entre as suas propostas estão cooperativas de habitação, incentivos ao arrendamento de longa duração, valorização do turismo sustentável, promoção da cultura local e dinamização da economia ligada ao estuário do Tejo.

Nesta entrevista, João Marques detalha como pretende transformar Alcochete, combinando desenvolvimento económico, proteção ambiental e fortalecimento da identidade e das tradições locais.

O que o motivou a candidatar-se à presidência da câmara de Alcochete?

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Vim morar para Alcochete há cerca de trinta anos e fui descobrindo um lugar onde o sentido de comunidade tinha, e tem, características muito próprias e com uma identidade única, onde ainda se consegue viver equilibrando a tradição e o desenvolvimento, e é neste sentido, que me candidato pois considero ser necessário aproximar ainda mais os cidadãos, os munícipes, da autarquia envolvendo-os, de forma diferente e mais participativa nas decisões que afetam a vida do concelho.

Como resume a ideia de “um novo rumo” para o concelho?

Temo que o concelho se esteja a tornar apenas num dormitório para quem faz a sua vida em Lisboa. Quando usei a expressão “um novo rumo para Alcochete” foi com total convicção de que é possível transformar Alcochete num território com vida própria. Dar-lhe um novo rumo de forma que se faça uma gestão do crescimento de forma equilibrada sustentável, protegendo o património natural, cultural e histórico ao mesmo tempo que se atraem empresas e investimento. Não esqueçamos que corremos o risco de perder a nossa identidade se não estivermos atentos e preparados para as infraestruturas que se preveem chegar pela proximidade a que estamos do novo aeroporto.

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O preço da habitação em Alcochete disparou nos últimos anos, afastando muitos jovens e famílias locais. Que soluções propõe para garantir habitação acessível?

O preço da habitação disparou em todo o país, como se sabe talvez Alcochete seja dos municípios onde mais se faz sentir essa subida. Possivelmente, a gestão autárquica ao longo dos últimos 50 anos deixou escapar a oportunidade de negociar, com os construtores de empreendimentos de grande dimensão, a reserva de uma percentagem de fogos destinados a habitação acessível. Mas ao longo destes anos, também não foram devidamente valorizadas as iniciativas de recuperação de casas devolutas existentes nas freguesias, nem foram criados incentivos para o arrendamento de longa duração em vez de alojamento local massificado. A construção de habitação a custos controlados é possível, nomeadamente através da criação de cooperativas de habitação, apoiadas pela autarquia quer seja com terrenos públicos ou até mesmo simplificando o licenciamento. Temos a perfeita noção de que a habitação acessível é o passo fundamental para fixar as pessoas e manter uma comunidade viva. Teremos que criar uma estrutura financeira, uma bolsa municipal de arrendamento, ou o que lhe queiramos chamar, que permita uma comparticipação municipal na renda, através da criação de sinergias com os proprietários através de um programa de incentivos ou benefícios fiscais.

Contudo, o problema da habitação é um problema transversal a todas as autarquias metropolitanas.

A apanha de bivalves continua a ser um problema no Tejo. Que papel pode ter a Câmara no combate a esta prática?

O papel da câmara está condenado a um papel de articulação e reforço de necessidade de intervenção das autoridades quer seja a Polícia Marítima, a GNR, a ASAE, a AIMA, a Polícia Judiciária. Com o panorama legal existente, a autarquia pode partilhar dados e queixas. O controlo da apanha ilegal dos bivalves, está muito longe de pertencer à jurisdição da câmara. No máximo, o município pode (e deve) fazer pressão junto da tutela para que a situação seja de alguma forma resolvida, denunciar a situação na comunicação social pese embora tenha, durante todos estes anos, ficado tudo na mesma.

Que relação deve haver entre fiscalização, apoio social e desenvolvimento económico nesta área?

Poderá haver lugar para a criação de zonas seguras e licenciadas para a apanha legal com sistemas de aquacultura em articulação e parcerias com universidades e o ICNF e, em sequência criar uma marca para o marisco de Alcochete, integrando investimento de cooperativas de mariscadores e pescadores.

Como pretende atrair investimento para Alcochete sem perder a identidade?

O investimento em Alcochete, em toda a área geográfica do município, terá de ser feito de forma equilibrada entre três parâmetros fundamentais: onde pode crescer? Como pode crescer? Com que impacto pode crescer? Para além destes três aspetos serão impostas contrapartidas sociais e ambientais a grandes investimentos, sempre com transparência no licenciamento afastando assim especuladores. 

O turismo sustentável baseado na natureza, na gastronomia, nas tradições, nas festas populares, a valorização do rio Tejo e do seu estuário, as marcas próprias de Alcochete, o Sal, a Fogaça, o Bolo de Soda, o Arroz-Doce, os Ovos Rapose, as Batatas Ensalsadas, o Ataçalhe e tantos outros, são exemplos do que pode atrair investimento e fazer a diferença mostrando o que é ter alma alcochetana.

Que sectores estratégicos quer promover no concelho nos próximos anos?

A chave está em aproveitar sectores que privilegiem a localização, os recursos naturais e a identidade cultural do concelho de Alcochete. Sem dúvida que o turismo sustentável e cultural será um dos sectores que ligará ainda mais Alcochete ao rio aproveitando uma frente ribeirinha que vai desde o abandonado Pólo Ambiental das Hortas ao degradado Cais Palafítico do Samouco, ligando ainda Alcochete ao Sal e às Salinas. Incentivar atividades relacionadas com o estuário do Tejo a que poderemos designar de economia azul e que passa por dinamizar a pesca e a atividade náutica. Promover a biotecnologia ligada à agricultura e valorizando os produtos locais destacando os produtos típicos, gourmet ou biológicos. Preparar os polos de apoio logístico para grandes investimentos nas proximidades de Alcochete sempre controlando o impacto ambiental. Incentivar o comércio local e tradicional das três freguesias, pequenos negócios e a restauração local para uma dinâmica de qualidade de forma a transformar Alcochete numa referência para o turismo de proximidade e de experiências gastronómicas únicas recuperando pratos únicos e característicos.

O novo aeroporto poderá ter impacto direto. Alcochete deve posicionar-se para essa oportunidade?

Quando, e se vier, o novo aeroporto, que ficará a poucas dezenas de quilómetros, teremos que garantir que o crescimento económico respeitará o nosso Estuário, as nossas Salinas e a nossa identidade local, o nosso património. Temos de evitar a expansão desordenada preservando e protegendo toda a zona ribeirinha. Alcochete deverá prever e antecipar o apoio ao turismo de passageiros e tripulações, os centros de apoio ao aeroporto, o transporte de passageiros e mercadorias, mas também pode e deve prever e desenvolver sistemas de mobilidade e transportes que não afetem negativamente a sua população.

A nível local, há soluções previstas para o estacionamento, trânsito e transportes públicos?

A exemplo de outros municípios da área metropolitana de Lisboa, na zona mais antiga de Alcochete e Samouco terá haver lugares de estacionamento para residentes e limitações de trânsito ao fim de semana. Em algumas ruas da vila de Alcochete, será redefinida a orientação do estacionamento. Quanto ao trânsito faltam ainda, alguns limitadores de velocidade, embora possam ser mais rasos. Quanto aos transportes públicos as ligações entre freguesias têm que ser adaptadas às necessidades da população não esquecendo as zonas mais periféricas do concelho. As ligações de Lisboa para Alcochete poderão encontrar mais soluções que passem pelo simples desdobramento das carreiras na rotunda do Entroncamento a qual poderia ser o terminal das carreiras que terminam no outlet. 

Pode explicar melhor a proposta de criação de um Fundo Municipal para a Cultura e Tradições?

Trata-se de uma estrutura onde se concentram as verbas com cabimento orçamental específico e que servirá para apoiar a realização de eventos, exposições, concertos, festas ajustadas à realidade municipal promovidas por associações culturais, coletividades e artistas locais, sempre com o foco na promoção da cultura e as tradições da terra. 

Como pretende valorizar as tradições locais sem deixar de projetar uma imagem moderna do concelho?

Imagine que aparece um projeto no Fundo Municipal para a Cultura e Tradições, apresentado por jovens, que revitaliza tradições de forma inovadora? Podemos dar-lhe um nome, criar uma marca e criar um olhar no futuro. Tenho na memória um livro infantil lançado, salvo erro, por uma associação de Alcochete que projetou as tradições de Alcochete de uma forma moderna; ainda tenho um exemplo mais recente: o cartaz de divulgação das Festas do Barrete Verde e das Salinas deste ano. Que belo exemplo de uma imagem moderna valorizando as tradições… Depois temos o mundo digital e as redes sociais onde se pode ser sempre mais criativo, pois são os símbolos, as cores que darão o tom a todas as iniciativas que a Criatividade permitir, sem limites.

Que medidas concretas propõe para reforçar a segurança no concelho?

É mais que evidente que o aumento de efetivos da GNR sob a forma de patrulhamento nas ruas das freguesias e zonas rurais seria a resposta mais esperada. Mas a segurança no concelho passa, também, por uma melhoria da iluminação em ruas, parques ou jardins …. e olhe que anda por aí muito candeeiro ou luminária sem vida… Mas não é só isso que nos faz falta, Propomos a instalação de câmaras de vídeo vigilância em zonas estratégicas das freguesias, respeitando como é obvio a privacidade dos munícipes e dos cidadãos.

Como pode a câmara trabalhar em articulação com as forças de segurança nacionais?

Vejo o município a articular com as forças de segurança nacionais situações de planeamento de emergências, de fenómenos da natureza ou catástrofes naturais contando para isso com o gabinete de proteção civil. Outra forma de articulação será na partilha de dados relativos a informações e planeamento de operações nos grandes eventos tais como sejam as festas do Barrete Verde e das Salinas ou o Círio do Marítimos, mas num primeiro momento, essa articulação será sempre preferencialmente feita a nível local.

Alcochete é governado atualmente pelo PS com maioria. Se não vencer, estará disponível para entendimentos ou acordos no executivo?

Havendo uma vitória da coligação Alcochete Diferente, pergunto eu, se haverá disponibilidade para entendimentos ou acordos no executivo? Os entendimentos dependem de interesses claros das forças políticas eleitas. E assim sendo, há certamente interesses políticos divergentes. Num cenário de maioria relativa, terá de se seguir o caminho da negociação, dos acordos programáticos pontuais e estaremos disponíveis para o diálogo em projetos de interesse geral dos munícipes.

Como responde a quem vê a candidatura do CDS/PSD como simbólica, face ao histórico da direita no concelho?

Falemos, pois, de uma Direita democrática… e nesse caso, se há coisa que a presença da Direita não é em Alcochete é simbólica. Veja-se a presença da Direita nos vários órgãos autárquicos há 12 anos, bem como o legado deixado pelo nosso vereador no mandato de 2017-2021, Vasco Pinto, que com o pelouro da cultura e sustentabilidade, desenvolveu uma série de iniciativas que distinguem o concelho até hoje, nomeadamente, a Noite Branca, o Festival Fado Convida, a troca de todas as luminárias por lâmpadas LEDS, entre outras. E é precisamente este espírito empreendedor e visionário que a nossa candidatura traz: uma Alcochete Diferente.

 Qual será a sua principal prioridade caso seja eleito presidente?

Quando for eleito, como cabeça de lista da coligação Alcochete Diferente, a prioridade e o rumo será sempre melhorar a qualidade de vida dos munícipes. Garantir que todos tenham uma vida melhor. Que tenham serviços públicos de qualidade, segurança reforçada, mobilidade mais eficiente e maior preservação da nossa identidade e tradições. A maior prioridade será Fazer Alcochete Diferente.

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