A cabeça-de-lista da coligação Liberdade pretende reivindicar a ideia de liberdade de volta para o campo da esquerda progressista
Nurin Mirzan é membro do Livre e diz que o Seixal sempre foi a sua casa. Afirma ter por objetivo incluir na mudança todos aqueles que partilham consigo o desejo de levar para o futuro igualdade, diversidade e inclusão.
Partilha que carrega as histórias dos seus pais, imigrantes descendentes de Moçambique e da Índia, histórias de superação e resiliência em busca de vidas melhores: em liberdade, em segurança e onde é possível ambicionar um futuro risonho para as próximas gerações.
Lembra que teve na Escola Pública o privilégio de contactar com as várias realidades sociais, culturais e mundo. Um privilégio que lhe permitiu desde cedo orientar o seu futuro para o objetivo concreto de permitir que outros tenham acesso a ferramentas que também lhes permitam desenhar o seu.
Licenciada em Gestão de Informação, dedicou quase dez anos do meu percurso profissional a uma empresa de tecnologia. Não satisfeita, e com um interesse crescente em contribuir para a melhoria da sociedade, frequentou o Mestrado em Ciência Política e a Academia Próxima Geração.
Na legislativas de 2024 foi candidata pelo Livre ao Círculo de Fora da Europa.
Considera que as autárquicas de 12 de outubro são o momento certo para o Seixal mudar de rumo
O que a motivou a aceitar a candidatura à presidência da Câmara do Seixal?
Cresci no Seixal e foi aqui que sempre fui bem cuidada. Guardo comigo as memórias das idas ao centro de saúde da Amora, que esteve sempre lá para mim, dos tempos de estudo na Escola Secundária José Afonso e das professoras que me lecionaram, e dos meus treinadores de voleibol na PELAmora Sport Clube, cujos conselhos ajudaram a moldar o meu desenvolvimento até à vida adulta.
O Seixal sempre foi casa, não porque a minha família nele vive há gerações, mas porque os meus avós tiveram a coragem de sair da Índia em busca de uma melhor qualidade de vida, e porque mais tarde, os meus pais vieram de Moçambique para Portugal, na altura do 25 de Abril, para constituir família no concelho e fazer parte desta comunidade. E hoje, quero devolver ao Seixal tudo isso e servir as pessoas que fazem deste concelho o seu lar, o seu local de trabalho, ou a sua paragem durante o fim-de-semana.
Numa altura em que há quem queira deturpar a ideia de liberdade, sinto que nunca foi tão importante defender o seu verdadeiro significado. Através desta candidatura, que é feita por cidadãos competentes e íntegros dos mais variados contextos e áreas profissionais, queremos mostrar que há uma alternativa que tem os interesses de todas as pessoas do Seixal no topo das prioridades.
Qual o encontro ideológico que explica a coligação “Liberdade”, Livre e Bloco de Esquerda, nestas autárquicas no Seixal? Que dinâmicas e princípios unificaram os dois partidos para este projeto?
A coligação Liberdade pretende reivindicar a ideia de liberdade de volta para o campo da esquerda progressista. Acreditamos ser preciso colocar a liberdade no centro de toda a nossa ação política, porque a verdade é que eu não sou livre se as pessoas à minha volta não forem livres. A minha liberdade está conectada à das outras pessoas e depende de muita gente, não só de cada pessoa individualmente. Ao contrário do que uns tentam vender, a liberdade não significa algo tão reducionista quanto haver menos impostos. Não é a política do “cada um por si” que nos garante mais liberdade. A verdadeira liberdade é uma ideia partilhada, onde cada um e cada uma de nós tem condições para viver, criar e sonhar. E acreditamos profundamente que para garantir igual liberdade, precisamos de garantir igual dignidade para toda a gente. O nosso objetivo é trabalhar para que toda a gente tenha uma vida digna e melhor qualidade de vida. Queremos que o Seixal seja significado de oportunidade para viver melhor, para toda a gente e não só para os super-ricos.
Quais as principais prioridades do programa “Liberdade” ao nível da habitação?
Desenhámos um Plano de Ação para a Habitação Acessível que consiste em várias medidas que trabalharão em conjunto para um mesmo objetivo: aumentar o acesso a habitação acessível a todas as pessoas do concelho do Seixal. O plano inclui a alocação de cerca de 6 milhões de euros anuais ao longo do próximo mandato a medidas, iniciativas e programas de habitação. Uma parte desse montante será dedicada à construção, aquisição e reabilitação de habitação pública e ao apoio ao cooperativismo habitacional. E serão também implementadas medidas para regular o mercado imobiliário, em conjunto com programas de apoio à melhoria da qualidade e eficiência energética das casas.
A qualidade de vida concretiza-se no dia-a-dia quando temos condições para habitar numa casa confortável onde não passamos frio nem calor. O Seixal que queremos construir é um concelho onde existem casas acessíveis e em bom estado para toda a gente e não apenas para alguns. Esta é para nós uma prioridade absoluta. Não ficaremos à espera de um Governo que não está a fazer nada para resolver esta crise.
Quanto a mobilidade?
A primeira medida na área da mobilidade é, para nós, óbvia: já se fizeram os estudos para expandir o metro de superfície até às restantes freguesias do concelho do Seixal; agora é preciso a vontade e a ação política desta coligação para fazer acontecer. Adicionalmente, vamos querer garantir a execução do Plano Ciclável e criar uma rede contínua, que ligue as principais zonas residenciais aos locais de trabalho, escolas e interfaces de transportes.
Mobilidade não é só construir estradas (embora faça parte!), e em boa verdade, são muitas as pessoas que não querem sentir-se reféns do carro. Sabemos que vão começar a usar mais os transportes públicos quando o metro, o autocarro, o comboio e o barco funcionarem bem, e quando for possível circular de bicicleta pelo concelho de forma segura. Para melhorar a vida das pessoas, a mobilidade será uma das prioridades desta candidatura.
No plano da Coesão Social?
Queremos fundar a Casa da Cidadania e da Igualdade, um espaço de referência no concelho e que servirá para a promoção da diversidade e da igualdade, do acesso à cidadania ativa e à vida autónoma, e da educação para a democracia.
Uma segunda medida consiste em lançar o Seixal Solar, um programa municipal de apoio à implementação de Comunidades de Energia Renovável (CER), com o objetivo de capacitar as associações e pessoas dos bairros a produzirem, consumirem e partilharem a sua própria energia limpa, permitindo reduzir a fatura de eletricidade, combater a pobreza energética e contribuir para a transição ecológica.
Como pretendem envolver as populações locais na construção dessas políticas?
Na coligação Liberdade, acreditamos que o Seixal deve ser construído em conjunto com as pessoas que a ele pertencem. Achamos que é preciso que a liderança do município queira mesmo envolver os cidadãos, não apenas na teoria, mas na prática; e não de baixo para cima, mas de forma mais horizontal. Uma das nossas propostas para garantir esse envolvimento passa por implementar o Orçamento Participativo, amplo e com recurso a processos deliberativos, garantindo a concretização das propostas escolhidas pelos cidadãos e assegurando transparência no processo de execução.
Se a coligação Liberdade ganhar a presidência da Câmara Municipal, como imagina o concelho daqui a quatro anos?
Imagino um concelho dinâmico, onde há espaço para a inovação e criação de conhecimento. Um concelho plural, onde as diferenças são celebradas e há mais envolvimento dos cidadãos na construção do concelho. Onde os negócios locais prosperam e onde a cultura é valorizada. Um Seixal onde as famílias florescem e onde todas as crianças têm uma infância boa e acesso a uma educação de qualidade. Onde a habitação é mais acessível comparativamente ao resto do País, e onde é possível as pessoas deslocarem-se de forma ágil. Um Seixal onde os espaços públicos estão limpos e recheados de pessoas a usufruírem deles em comunidade. Onde os nossos animais são bem tratados. Imagino um concelho que seja referência nacional a nível da preservação ambiental e transição ecológica. E que deixe de ser conhecido por ser dos que mais casos de violência doméstica tem. Um município onde haja acesso generalizado a cuidados primários de saúde e onde a população idosa é bem cuidada. Imagino um Seixal que seja sinónimo de felicidade e bem-estar. Um Seixal que seja símbolo de liberdade.
Atendendo à sua formação e background em gestão da informação, tem alguma proposta concreta para modernizar a administração local?
As pessoas merecem ter acesso a um canal de comunicação com o poder local que simplifique as suas vidas, e acredito que a tecnologia pode servir como ferramenta de aproximação entre as autarquias e os munícipes. A nossa proposta consiste em criar uma plataforma digital única de acesso aos serviços municipais, que agregará e melhorará alguns dos serviços digitais já existentes, igualmente explorando a criação de novas funcionalidades que sejam úteis.
Uma plataforma desenhada para ser simples e intuitiva, para garantir que qualquer pessoa, independentemente da sua experiência digital, ou contacto com este tipo de soluções, se sinta confortável ao utilizá-la.
Quais os principais elementos de renovação democrática que a coligação “Liberdade” pretende trazer para o Seixal?
A coligação Liberdade vem renovar a confiança dos seixalenses ao apresentar uma alternativa que busca trazer mais transparência e dinamismo ao concelho. A responsabilidade do poder local é enorme e transversal a todas as áreas, e embora por vezes haja limites para o que se consegue fazer através da ação política ao nível municipal, são várias as formas de contribuir para as soluções e a nossa coligação não tem medo de tentá-las. Não fugimos da inovação, pelo contrário, desde que a mudança que a inovação traz seja para melhor, para o desenvolvimento humano do concelho. Por outro lado, diferenciamo-nos também por apresentarmos o que é uma verdadeira candidatura ecologista a estas eleições autárquicas, que reconhece a importância de preservar o presente para garantir o futuro.
O concelho do Seixal tem várias freguesias com realidades distintas. Como pretendem assegurar que as políticas sejam justas e equilibradas entre elas?
É preciso compreender as necessidades de cada freguesia e das pessoas que nela vivem, e depois é preciso garantir que as pessoas sentem que têm uma voz na tomada de decisão. Acreditamos que as Assembleias Cidadãs são uma boa forma de fortalecer a democracia representativa através de mecanismos de democracia deliberativa. Ao garantirmos a representatividade e diversidade nestas Assembleias Cidadãs e ao assegurarmos o apoio especializado ao desenvolvimento de recomendações a serem seguidas pelos órgãos autárquicos, estaremos a criar uma maior inclusão e proximidade às pessoas. Os políticos, especialmente a nível local, têm de estar no terreno e ouvir verdadeiramente as pessoas, só assim é possível entender as dinâmicas de cada bairro, e só assim aumentamos as chances de colocar os esforços onde estes se sentem ser mais necessários.
A coligação tem projetos específicos para populações mais vulneráveis ou para reduzir desigualdades territoriais?
Entre outras, uma das nossas medidas consiste em reforçar a resposta municipal face à crescente vulnerabilidade habitacional com a criação de um fundo de emergência habitacional e a articulação de medidas de proteção que permitam aos moradores permanecer nas suas casas (como é o acompanhamento jurídico em situações de despejo e o apoio ao arrendamento), ou encontrar alternativas habitacionais acessíveis, sempre que necessário. Pretendemos também investir no reforço da Ação Social Escolar (ASE), para que o contexto e/ou especificidades das crianças e jovens não determine o acesso a uma aprendizagem plena e de qualidade.
Como analisa a governação CDU da Câmara Municipal do Seixal, onde é poder há 50 anos?
Respeitamos muito o trabalho feito neste longo período pelo executivo governado pela CDU. Porém, o Seixal já não é o mesmo e é preciso evoluir na forma como se olha para o território. Apesar do legado, achamos importante saber passar a pasta e está na altura de uma outra abordagem dentro do mesmo lado do espectro político. A coligação Liberdade tem todas as condições para assumir essa passagem de testemunho.
Que mensagem direta aos eleitores do Seixal gostaria de transmitir para votarem na coligação “Liberdade”.
Acredito que o resultado que vimos nas eleições legislativas tenha sido uma chamada de atenção às forças democráticas que lideram o Seixal. O Livre e o Bloco de Esquerda ouviram a chamada de atenção e apresentamo-nos às eleições autárquicas de 2025 porque queremos ser uma verdadeira alternativa que se mostra atenta e próxima das pessoas e dos seus problemas. Para não voltar a ser necessário mais chamadas de atenção. Convidamos todos os democratas e progressistas a, em liberdade e em democracia, escolherem o projeto de futuro para a sua rua, o seu bairro e a sua freguesia. E para os que buscam a esperança de que as coisas vão progredir e ficar melhores, acreditem connosco: é nestas próximas eleições autárquicas que vamos começar a dar a volta a isto.
Existe um caminho melhor e nós estamos cá para percorrê-lo em conjunto. O progresso no Seixal passa por um voto na Liberdade a 12 de outubro.