Américo Aguiar reconheceu haver problemas com migrantes, alguns até graves, mas considerou injusto responsabilizá-los por todas as dificuldades do País
O bispo de Setúbal, Américo Aguiar, disse esta quarta-feira que a questão dos migrantes em Portugal está envolvida numa “nuvem negra político-partidária” e considerou “profundamente injusto” responsabilizar os estrangeiros pelos problemas do país.
“Lamento muito que o dossiê dos migrantes esteja apanhado dentro de uma nuvem negra político-partidária, porque o problema dos migrantes não deve ser de direita nem de esquerda”, afirmou, para logo acrescentar: “São pessoas. Nós estamos a falar de pessoas e pessoas, algumas delas, que, tal como os portugueses em tempos passados, vêm à procura de melhores condições de vida.”
O cardeal Américo Aguiar falava aos jornalistas no âmbito da abertura do IV Congresso Mais Social, em Câmara de Lobos, na Madeira, onde proferiu uma palestra sobre a economia social da Igreja.
O bispo de Setúbal reconheceu haver problemas com migrantes, alguns até graves, mas considerou injusto responsabilizá-los por todas as dificuldades do País.
“Não devemos generalizar e transformar os migrantes num saco de boxe, em que são responsáveis por não ter médico, por não ter casa, por não ter escola, por não ter isto e não ter aquilo”, disse, reforçando que “isso é profundamente injusto.”
Américo Aguiar apontou o caso da península de Setúbal, onde, segundo disse, os migrantes representam cerca de 25% da população, estimada em aproximadamente um milhão de habitantes, mas assegurou não haver problemas graves que ponham em causa a sã convivência.
O IV Congresso Mais Social, que decorre até quinta-feira, é organizado pela Câmara Municipal de Câmara de Lobos e pela Casa São José, uma instituição particular de solidariedade social sedeada neste concelho, e visa promover reflexões e partilha de conhecimentos sobre a economia social e a inclusão.
Neste campo, o cardeal Américo Aguiar alertou para o “problema grave” da falta de trabalhadores no setor social.
“Temos de estar atentos a esta realidade do setor social”, avisou, considerando que “o setor social é muito importante para o equilíbrio da sociedade da qual fazemos parte”, nomeadamente ao nível das instituições que gerem creches, lares, unidades de saúde e estabelecimentos de ensino.
O bispo de Setúbal sublinhou ser necessário dar uma “atenção redobrada às pessoas”, sejam as que prestam serviço, como as que são alvo desse serviço.
Américo Aguiar abordou também a crise no setor da habitação, dizendo que a solução passa por envolver todos os agentes privados, públicos e do setor social.
“O que eu apelo é que das dioceses, das paróquias, das congregações, dos institutos porventura existirão possibilidades de também desviarem o olhar sobre o seu património e as possibilidades de colaborarem na disponibilidade de habitação, para que os jovens possam sair do ninho com mais antecedência”, disse.
Considerando os dados do Eurostat, que revelam que os jovens portugueses saem de casa, em média, aos 28,9 anos, sendo os sétimos na União Europeia, Américo Aguiar disse que a solução passa por criar melhores condições económicas.
“Não podemos colocar sobre os casais jovens a pressão de terem filhos e que a população tem que aumentar se não criarmos condições económicas de habitação e de trabalho compatível para que isso possa acontecer”, avisou.
