Os desafios que Palmela enfrenta dominaram o confronto que decorreu na passada sexta-feira, no Cinema Teatro São João, revelando as diferentes prioridades e políticas para responder às necessidades da população
No passado dia 12 de setembro, o Cinema Teatro São João, em Palmela, recebeu um debate entre os candidatos à Câmara Municipal, moderado pelo jornalista d’ O SETUBALENSE, Mário Rui Sobral. O encontro trouxe à discussão os principais desafios do concelho, com destaque para habitação, mobilidade, educação e saúde, permitindo aos eleitores conhecer de perto as prioridades e propostas de cada candidato.
A habitação foi um dos temas centrais, com Afonso Brandão, do Chega, a sublinhar que “existe uma limitação demasiado grande para se construir no concelho” e alertou que o atual PDM “condiciona o crescimento da habitação e coloca as zonas rurais em perigo de desertificação”. O candidato defendeu ainda que a câmara deve continuar a construir “a custos controlados, em terrenos da autarquia e com celeridade” e anunciou a criação de “um núcleo jovem de habitação, para jovens até aos 35 anos”, dando prioridade a “jovens bombeiros voluntários e também às forças de segurança”. Roberto Cortegano, do PSD/CDS, apontou para a necessidade de uma “solução séria para a reabilitação urbana”, criticando a morosidade nos serviços de urbanismo, que “demoram séculos a passar licenças”, e afirmando que o dinheiro do PRR “acaba por ser perdido porque a câmara lança concursos que ficam desertos e nada é feito”. Já José Miranda, do ADN, lamentou que ainda existam munícipes sem acesso ao saneamento total e destacou que “a câmara tem terrenos que podem facilitar a construção de habitações a custos acessíveis”. José Carlos Sousa, do PS, apontou que “a habitação nunca foi uma preocupação do executivo” e que em Palmela “a renda mediana é 53% superior à média do país e o preço das casas é 35% superior ao resto do país”. Ana Teresa Vicente, da CDU, contrapôs que “não é verdade que Palmela, com a revisão do PDM, esteja a inibir a construção” e reconheceu que “todos os cidadãos têm dificuldade em aceder a uma casa”, destacando o investimento municipal significativo. Carlos Oliveira, do BE, defendeu que “o poder local deve assumir as suas responsabilidades” e propôs “uma quota de 25% na nova construção de investimentos privados, para habitação acessível”, acrescentando que “a solução passa pela construção a custos acessíveis”.
Mobilidade e Transportes
As questões de mobilidade e transportes trouxeram várias críticas às condições atuais. José Miranda considerou a estrada entre Pinhal Novo e Montijo como “um caos” e lamentou que “só é dada a devida atenção ao Pinhal Novo e a Palmela”, deixando as zonas rurais esquecidas. José Carlos Sousa, do PS, alertou que a Estrada Nacional 252 “tem sido empurrada pelos diferentes executivos” e defendeu que “está na hora do executivo se chegar junto das entidades disponíveis para construir e dizer que está disponível para ajudar”. Sobre os comboios, afirmou que “a torre na estação impede que a circulação de comboios para Pinhal Novo fosse feita em vez de Coina, considerando que bastava que a mesma fosse recolocada para “melhorar bastante a mobilidade”. Ana Teresa Vicente destacou que “as variantes foram desenhadas pela Câmara Municipal e assumimos a nossa palavra; está à vista o nosso trabalho” e questionou os partidos que estiveram no Governo sobre onde poderiam candidatar a variante ao PRR. Carlos Oliveira defendeu transportes públicos gratuitos e alargamento da rede de ciclovias, afirmando que “é preciso ter a audácia de combater juntos das populações para pedir transportes gratuitos e melhorar os mesmos nas zonas rurais”. Afonso Brandão criticou a degradação da rede viária e disse que “a variante é uma necessidade extrema no nosso concelho” e que os partidos no Governo “não o tenham feito, deixando o concelho entregue ao abandono”. Roberto Cortegano acrescentou que “temos estradas municipais sem bermas, sem passeios. Tudo isto é devido ao mau planeamento do território”, alertando que ainda existem “demasiadas zonas com terra batida”.
Educação
Na educação, as propostas foram variadas e detalhadas. José Carlos Sousa lembrou que “há um conselho que reúne periodicamente, mas que nunca conseguiu fazer um projeto educativo para o concelho” e que a requalificação das escolas “não foi prospetiva e agora esses mesmos espaços precisam de ser requalificados novamente”. Ana Teresa Vicente afirmou que “precisamos de mais escolas e vamos investir nesse aspeto”, defendendo que “as escolas têm de voltar a ser a prioridade”. Carlos Oliveira enfatizou que “a educação é fundamental e a defesa da escola pública é para nós muito importante”, propondo a implementação de energias limpas e “a promoção de espaços de inclusão para os imigrantes, garantindo que todos tenham direito a uma aprendizagem plena da língua portuguesa”. Afonso Brandão anunciou que “vamos requalificar as escolas, criar protocolos com IPSS para vagas nos ATL e atribuir bolsas anuais para crianças e jovens para frequência de atividades extracurriculares”, sublinhando que “há trabalho a fazer e temos de dar mais condições a todos os alunos do concelho”. Roberto Cortegano explicou que, apesar das obras realizadas, “existem muitos espaços deteriorados e também algum mau serviço nos transportes escolares”, lamentando que “a carta educativa já foi pedida em 2016 ao ISCTE e até agora nada”. José Miranda propôs alargamento de horários nas creches, construção de novas escolas e a criação de “um instituto politécnico, que já se justifica tendo em conta a nossa população”.
Saúde e Segurança
Em cima da mesa também estiveram em discussão as questões de saúde e segurança, com propostas focadas em coesão social e apoio aos cidadãos mais vulneráveis. Ana Teresa Vicente referiu que tem “vindo a defender uma coesão social mais forte” e que “assenta a ideia quanto à questão da segurança com uma questão de continuar a investir com políticas culturais, desportivas e de inclusão aos imigrantes. Há muito investimento para se fazer”. Carlos Oliveira destacou que “falar de segurança é falar no direito a uma vida autónoma” e defendeu a “criação de uma estratégia para combater a violência de género”, além de aplicar “medidas de apoio aos idosos mais solitários” e desenvolver o desporto jovem. Afonso Brandão apontou que se continua com centros de saúde “degradados” e defendeu a intervenção do executivo junto do Governo “para enviar profissionais de saúde para o concelho de Palmela”. Roberto Cortegano afirmou que “há mais condições para as forças de segurança do que existia antes de 2024”, mas reconheceu que ainda existe “algum medo por parte da população em alguns locais”, defendendo a videovigilância em zonas mais escondidas do concelho.
O debate evidenciou a diversidade de prioridades e abordagens entre os candidatos, oferecendo aos eleitores de Palmela uma visão detalhada das propostas para habitação, mobilidade, educação e serviços sociais. Entre críticas, sugestões concretas e planos de ação, ficou claro que a disputa pelas próximas eleições autárquicas será marcada por escolhas significativas sobre o futuro do concelho, com cidadãos chamados a decidir qual projeto consideram mais adequado para enfrentar os desafios e oportunidades que Palmela enfrenta nos próximos quatro anos.
A atual situação do PDM, que volta a ser debatido em Assembleia Municipal esta sexta-feira assim, como a criação da CIM Setúbal foram outros dos temas do debate que pode ser visto na íntegra nas redes sociais do jornal O SETUBALENSE, Popular FM, Rádio Sines, Rádio M24, Rádio Pax e jornal O Leme.