Criação de uma rede de emergência animal, construção de estruturas desportivas e reabilitação do parque habitacional são algumas das propostas do candidato ambientalista
Durval Salema, 54 anos, é o candidato do PAN à presidência da Câmara Municipal do Barreiro nas eleições autárquicas que se realizam em outubro. O partido foi, na última ida às urnas, o sexto mais votado dos oito que constavam no boletim de voto.
Com foco na causa animal querem implementar no concelho uma rede de emergência animal, além de colocarem em funcionamento o Centro de Recolha Oficial de Animais. Em matéria de ambiente, defendem a neutralidade carbónica do edificado habitacional.
O cabeça de lista, que já foi membro da assembleia municipal entre 2017 e 2021, entende que as alterações climáticas não são um assunto que esteja a ser tratado com preocupação e, por isso, diz ser necessário atuar em áreas como a qualidade do ar, a saúde mental e a infância – bem como a terceira idade.
Em entrevista a O SETUBALENSE o candidato refere que faltam no concelho estruturas desportivas de referência, investimento na reabilitação do parque habitacional municipal ou na construção de habitações para arrendamento acessível e, defende ainda, a criação de uma polícia municipal.
Porque é que se candidata à presidência da Câmara do Barreiro?
Sou apenas o primeiro nome de uma lista com várias pessoas, com diversas competências, saberes e experiências. O importante não é perceber o motivo de eu me candidatar a presidente da câmara, mas sim por que razão o PAN se candidata à presidência da câmara.
E isso consubstancia-se numa forma diferente de ver a sociedade, de ter prioridades que vão além do mero discurso do crescimento económico, pois percebemos que desenvolvimento não é a mesma coisa que crescimento e que há vários outros fatores a ter em consideração, como o bem-estar da nossa população, quer humana quer animal, ao que temos necessariamente de acrescentar aquela que tem obrigatoriamente de ser a nossa preocupação central e que diz respeito ao desafio perante as alterações climáticas, tal como o secretário-geral da ONU nos tem lembrado a todo o instante.
Cremos que a nossa candidatura traz isso mesmo, uma vontade de trabalhar e de ver os problemas de forma diferente, arranjando soluções que tragam um efetivo valor acrescentado, não só no imediato, mas também a médio e longo.
Se for eleito quais são as principais medidas que quer concretizar?
Faltaríamos à verdade se não disséssemos que a primeira coisa seria inteirarmo-nos acerca do ponto de situação, nomeadamente dos projetos em curso e que perante uma análise mais fina, se consideraria que deveriam prosseguir o seu curso tal como estão, com alterações ou serem até rejeitados.
Mas gostaria imenso de concretizar a implementação total de uma rede – viaturas, equipamentos, serviços e acompanhamento – de emergência animal para animais encontrados feridos na via pública.
Também prioritária é a eliminação das barreiras arquitetónicas que persistem e que dificultam a inclusão.
Mas acima de tudo, num programa tão abrangente como o nosso, perceber que não se pode fazer tudo no imediato, que há que estabelecer um cronograma em função da realidade, trabalhar no sentido de encontrar as soluções mais adequadas para cada problema e estudar a melhor forma de realizar os investimentos que consideramos mais adequados para a nossa ideia de desenvolvimento.
Que críticas faz à atual gestão da autarquia?
Essa ideia de as oposições acharem que tudo é mal feito ou, por outro lado, de os executivos acharem que tudo é bem feito, não existe. Em matérias executivas e olhando em retrospetiva ou sob diferentes ângulos, há sempre coisas positivas e negativas. E podem-se dar exemplos em termos genéricos e em pontos concretos.
Genericamente e como algo positivo, percebemos que há uma vontade real de mudar aquele panorama cinzento e parado no tempo em que o Barreiro se encontrava, tentando criar um concelho mais dinâmico. Por outro lado, e de forma negativa, há uma espécie de atuação exagerada, de querer alterar tanto ao mesmo tempo que se perde o rumo e se tomam decisões ao arrepio das vontades das populações que vivem nas zonas intervencionadas.
Como medida concreta positiva, a instalação de postos de carregamento para viaturas elétricas por grande parte do concelho e inseridos em zonas urbanas, algo que ajuda a atrair as pessoas a adquirir este tipo de viaturas em detrimento de viaturas a combustíveis fósseis, melhorando-se desta forma o ar que todos respiramos. Aliás, em 2018 apresentámos uma recomendação nesse sentido em assembleia municipal, que teve o voto favorável de todos os partidos, com exceção do PS, que curiosamente se absteve.
Negativamente, temos quase naturalmente de lamentar que no Barreiro ainda não exista toda uma rede de emergência relativa a animais encontrados feridos na via pública. Não é justo que uma pessoa que encontre um animal ferido na rua, eventualmente com muita gravidade, se veja obrigada a tomar a decisão de o deixar em sofrimento ou de ter de ir gastar centenas de euros do seu bolso. Se isso não acontece quando se encontra uma pessoa ferida, em que temos todos os procedimentos de urgência definidos, por que razão tem de ser diferente com um animal? Sendo que próprio presidente da câmara fez uma promessa em que existiria uma “ambulância animal” até ao final do atual mandato, em reunião pública e perante várias cuidadoras que colocaram questões sobre a causa animal.
Na apresentação da vossa candidatura referem acreditar “que é possível fazer diferente”. De que forma?
Existem questões que não são tratadas com genuína preocupação pelas outras forças políticas, pois em todas elas a prioridade passa sempre pelo crescimento por si só, em que o importante é simplesmente haver mais, sem uma reflexão sistémica sobre o que rodeia esse crescimento. Vivemos num tempo tenso em termos ambientais, em que temos sempre de perceber se a implementação de um projeto não trará a médio e longo prazo prejuízos graves para todos. Exemplificando: com o atual Regulamento Municipal de Concessão de Incentivos ao Investimento uma empresa altamente poluidora pode instalar-se no Barreiro e ainda poder obter alguns benefícios, mesmo que a médio e longo prazo isso traga imensos prejuízos ambientais e de saúde para toda a população.
A par disso, tem de haver mais empatia, mais serenidade, maior capacidade de ouvir os outros, de perceber preocupações que poderão ser pequenas ao nível de todo um concelho, mas que são enormes para um pequeno grupo de pessoas e que sendo resolvidas, não incomodarão ninguém e que trarão melhor qualidade de vida para alguns. Um exemplo disso é a falta gritante de rampas acessíveis para pessoas com mobilidade condicionada, em locais onde a passagem de um local para outro só é feita através de escadas e que impedem várias pessoas de fazerem a sua vida da forma mais normal possível.
Também querem “um concelho pronto a cuidar dos seus, com propostas pensadas para melhorar a qualidade de vida”. Quais são os caminhos para este objetivo?
O caminho principal percorre as questões ambientais, que nos afetam a todos, quer a nossa saúde quer a nossa vida quotidiana. E caso não tenhamos este problema sempre em mente, essa vida quotidiana mudará de forma radical: ou alteramos os nossos comportamentos de uma forma suave e voluntária, ou os condicionamentos futuros irão obrigar-nos a isso de forma abrupta e com fortes consequências.
Temos de diminuir o impacto dos principais problemas de saúde, atuando em áreas como a atividade física regular (fator chave para a prevenção e o controlo de muitas doenças), a alimentação (essencial na prevenção eficaz da doença e na promoção da saúde), no ruído e na qualidade do ar (causas principais da degradação da qualidade do ambiente urbano), na saúde mental (prevenindo alterações emocionais que levem à instabilidade e à depressão), na infância (os primeiros anos são fundamentais para capacitar as pessoas e influenciar a maneira como crescem e envelhecem), na adolescência (fase da vida sujeita a mudanças em diversos níveis, sejam físicos, psicológicos ou sociais), na chamada terceira idade (apostar na proteção social das pessoas mais idosas), sem nunca esquecer a resposta a pandemias que certamente ocorrerão.
Referem ainda que a falta de medidas para a proteção animal. Quais são as vossas propostas nesta matéria?
É uma área muito vasta e em relação à qual muito ainda há a fazer no concelho. É certo que o atual executivo tem feito algo positivo face ao que encontrou, mas a verdade é que a base de partida era muito baixa.
Em termos de medidas e entre muitas outras: a já referida criação de uma rede de emergência animal, incluindo a inclusão do socorro animal no plano municipal de emergência de proteção civil; a criação de um serviço veterinário público; a criação de um pelouro denominado “Proteção, Saúde e Bem-Estar Animal”; a elaboração de um Plano Municipal de Proteção, Saúde e Bem-estar animal; funcionamento do Centro de Recolha Oficial de Animais (CROA) durante sete dias por semana e com vigilância permanente; criação da Provedoria Municipal dos Animais; alargamento e melhoramento contínuo das instalações do CROA, dotando-o igualmente de mais recursos humanos com as devidas qualificações técnicas e aptidão para as funções; realização de campanhas de adoção periódicas, em cooperação com as associações e grupos de ajuda animal, com vista à sensibilização dos munícipes e com o objetivo de se encontrarem lares para os animais. São apenas algumas medidas de entre muitas outras que se poderiam indicar e que espelham o enorme trabalho que ainda está por realizar.
O que é que falta fazer quanto à habitação?
É um tema complexo e que não tem respostas simples, até porque não é uma questão apenas do Barreiro, nem sequer do País, mas sim um problema de toda a Europa e que teve o seu gatilho quando de uma forma generalizada se começou a tratar uma casa não como um local para morar, mas sim como um investimento.
A habitação é um direito, não um privilégio e como direito fundamental que é, deve, em primeira linha, ser materializado pelo Estado nas suas várias vertentes, neste caso a nível municipal. Por isso, o PAN propõe a reabilitação do parque habitacional municipal, a construção de habitações para arrendamento acessível e quotas em novos projetos para jovens e famílias vulneráveis. Queremos processos mais rápidos e apoios reforçados, para que todos tenham uma casa digna.
E tendo sempre presente a questão das alterações climáticas que, como foi dito, deve atravessar todo o espetro de políticas, deve-se pugnar pela neutralidade carbónica do edificado habitacional atrás referido.
E relativamente à criminalidade, quais são as vossas medidas?
Para o PAN, a segurança começa na prevenção: na habitação digna, no emprego e na educação. E a par de todo o trabalho a ser desenvolvido nesses temas, defendemos a criação de uma polícia municipal, que possa intervir em áreas que se relacionem diretamente com a fiscalização camarária (que parece por vezes estar ausente), em algo muito importante que é o policiamento de proximidade, por forma a criar uma maior e real perceção de segurança, que possa a abranger a área da fiscalização do trânsito, deixando mais espaço para as forças policiais alocarem os seus recursos em áreas mais críticas ao nível do combate ao crime.
Um concelho seguro também se constrói com ruas adequadamente iluminadas, eventual vigilância eletrónica, espaços públicos requalificados e cidadãos envolvidos.
Nas ações que têm desenvolvido junto da população o que é que os cidadãos vos transmitem face à vossa candidatura?
De uma forma geral, há algo que o PAN e a nossa candidatura parecem transmitir e que tem a ver com confiança e seriedade e que nos transmite otimismo. Várias pessoas confidenciam-nos que costumam votar nos partidos x ou y, mas que gostariam de nos ver com possibilidade de intervir de forma mais incisiva e permanente, pois concordam com muitas das nossas propostas e com a forma de pensarmos a sociedade.
Há algo mais que queira acrescentar?
Temos de pensar em fazer mais e melhor, com ambição e preocupação em paralelo.
Gostaria de ver o Barreiro dotado de estruturas desportivas de referência (atletismo, ciclismo e natação, por exemplo) no sentido não só de proporcionar a possibilidade de prática desportiva competitiva aos nossos jovens (em opção ao futebol e basquetebol, modalidades de excelência no concelho), como a possibilidade de se realizarem provas importantes, enquanto serviriam como polo de atração para equipas e atletas de outras origens, nacionais ou internacionais. Acredito que seria uma boa forma não só de fixar, mas também de atrair população jovem para o nosso concelho.
Mas porque de um concelho envelhecido se trata e as pessoas merecem a melhor qualidade de vida ao longo de toda a sua existência, gostaria de ver também uma rede de excelência ao nível de alojamento para pessoas idosas, a custos acessíveis para o nível de rendimento da nossa população. No fundo, tem o mesmo tipo de funcionamento do turismo (serviços de refeições, lavandaria, administrativos, etc,), mas garantindo cuidados e proteção às pessoas mais idosas.
Por fim, salientar que para o PAN a eleição de elementos para cargos municipais não é um fim em si mesmo. O nosso objetivo não é preencher a administração local com pessoas específicas, pois cremos que o município já terá pessoas competentes. Para nós a eleição significa ter a capacidade de alterar políticas e procedimentos, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida de toda a população que vive e/ou trabalha no Concelho do Barreiro.