“É o que mais me fascina porque é uma língua incrível”
Estreou-se no Ensino Superior na Faculdade de Letras de Lisboa, onde fez a Licenciatura em Artes e Humanidades, mas Mariana Alves “já há muito tempo queria aprender a Língua Gestual Portuguesa”. Natural de Castelo Branco e residente na Amadora, estava destinada a cruzar-se com a escola setubalense, visto que é uma das três instituições do país com a Licenciatura em Tradução e Interpretação de Língua Gestual Portuguesa (LGP). “Tinha de arriscar e vim, foi a melhor experiência que eu tive até agora. Encontrei tudo aquilo que procurava e aquilo que não sabia que procurava”. A Escola Superior de Educação e os docentes receberam-na da melhor forma e fizeram “sempre um acompanhamento muito próximo”. Guarda na memória Cristina Gil, “ela é quem nos dá todas as bases da interpretação e dos aspetos culturais”, a professora Maria José, um dos “modelos éticos e da profissão que pretendo sempre seguir” e Carlos Gonçalves, “que foi a primeira pessoa com quem nós tivemos contacto com a língua”. “Todos os professores da área de LGP são incríveis e marcam-nos, pelo menos a mim, marcaram-me imenso”. Vivenciou o voluntariado, que “eram oportunidades de estar no ativo antes de estar no ativo”. O contacto com a comunidade foi variado, desde acompanhar crianças surdas e codas, “que são crianças ouvintes ou surdas, filhas de pais surdos”, à participação nas segunda Peregrinação de Pessoas Surdas a Fátima, em que era a ponte de comunicação. Ao trabalhar com várias faixas etárias, “obriga-nos a adaptar a forma como interpretamos”. Os adultos, fluentes em Língua Gestual Portuguesa, “à partida têm um nível linguístico mais avançado”, mas “quando é uma criança nós temos, para além da função de interpretar, sermos um modelo”. Remontando aos tempos de estudante na ESE, sente saudades do ambiente familiar e de “termos ali o nosso nicho de LGP. Tenho muitas saudades disso”. Intitula-se como curiosa, “gosto de aprender e de tentar coisas novas, mesmo com medo”, consegue “ser mais corajosa no trabalho do que fora dele”, indecisa, sonhadora e empenhada. Com a licenciatura terminada, procurava “trabalhar um bocadinho em todas as áreas possíveis”, sempre ligada à interpretação. “Com esta profissão, eu consigo tudo isso, porque podemos trabalhar em qualquer contexto”. Atualmente, aventura-se ao lado da Gestu, uma empresa de intérpretes. “Agora estou numa instituição de ensino superior, já tive a minha formação profissional com eles e, entretanto, também vou interpretar em contexto teatro”. Fluente em LGP, admira a cultura da comunidade surda, “é fascinante e aconselho toda a gente a tentar conhecer um bocadinho”. O que mais a desafia é também “o que mais me fascina, porque é uma língua incrível”.