As mãos que falam 

As mãos que falam 

As mãos que falam 

“Boa colega, boa profissional e dedicada ao curso”

Desde criança, cresceu imersa num mundo onde o silêncio e os gestos eram a sua língua mais profunda. Filha de pais surdos, Maria José Freire teve a sorte de se tornar “bilíngue”, “tive acesso às duas línguas, a portuguesa e a gestual portuguesa”, com isto acabou por assumir o papel de intérprete, mesmo sem formação, na Associação Portuguesa de Surdos. Porém, a falta de informação, muitas vezes leva à ignorância, notando desde cedo que “muitas vezes as pessoas olham para uma pessoa surda e escusam-se um bocadinho ao contato” por não saberem comunicar, daí ser tão importante dar mais visibilidade à língua gestual Portuguesa. “A minha primeira ligação à ESE”, foi em 92 onde decorreu um curso “criado em parceria entre a ESE, a Associação Portuguesa de Surdos, a Universidade de Lisboa, e a Universidade de Bristol”, com o principal objetivo de formar professores e intérpretes de língua gestual. Uma forma de dignificar as profissões e de conseguir um maior reconhecimento a nível nacional era “trazer a língua gestual para o ensino superior” e, desta forma, em 1997, a licenciatura em Língua Gestual Portuguesa foi criada na ESE. A abertura da licenciatura expandiu um horizonte para o reconhecimento da profissão de intérprete e mais tarde a de professor. Para a professora transmitir aos seus alunos o entendimento profundo da história e cultura da comunidade surda é fundamental, acredita, que qualquer pessoa que se dedica ao trabalho de tradução e interpretação precisa ir além do domínio linguístico, é preciso conhecer e respeitar a cultura tal como qualquer outra língua. Mesmo nunca tendo “pensado em ser professora”, diz que a experiência no terreno lhe deu uma capacidade de “transmitir o que é ser intérprete aos alunos”. Um dos momentos mais gratificantes da sua carreira foi ter presenciado a aprovação do reconhecimento da Língua Gestual, “um momento altíssimo da história, da minha história, como filha de pais surdos, como profissional intérprete e como pessoa”. Acima de tudo quer ser recordada como “boa colega, boa profissional e dedicada ao curso”. Ao longo da sua jornada na ESE, fez grandes amizades e encontrou motivação para continuar a trabalhar em prol da Língua Gestual Portuguesa e do reconhecimento dos direitos das pessoas surdas, e não se arrepende de agarrar a oportunidade de trabalhar com a Unidade de Língua Gestual, “foi de facto uma experiência fabulosa”. Já no fim da sua carreira, é uma pessoa realizado por tudo aquilo que construiu, “claro que sou feliz”, esta frase simples, mas poderosa, resume a sua trajetória e dedicação: uma vida dedicada à Língua Gestual Portuguesa, à inclusão e aos direitos da comunidade surda, sempre com um coração aberto e um sorriso resiliente. 

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