Daniel Pereira: “O olhar humano será sempre diferente. Por muito que a IA se torne independente, tem o humano como criador”

Daniel Pereira: “O olhar humano será sempre diferente. Por muito que a IA se torne independente, tem o humano como criador”

Daniel Pereira: “O olhar humano será sempre diferente. Por muito que a IA se torne independente, tem o humano como criador”

Entre a pressão do directo televisivo e a criatividade da fotografia de concertos, o jovem sineense partilha os desafios da profissão e o impacto da Inteligência Artificial no audiovisual

Daniel Pereira descobriu cedo o gosto por captar momentos através da imagem, com a paixão pela fotografia a surgir antes do vídeo, sendo que, curiosamente, a sua primeira câmara,  uma Nikon D5300, continua a fazer parte do seu trabalho. Actualmente, é operador de câmara na CMTV e no canal NOW, funções que descreve como exigentes pela necessidade constante de acompanhar os acontecimentos em tempo real. “Não se pode falhar em momentos muito específicos”, afirma, sublinhando que, no contexto televisivo, “uma imagem rápida é mais importante do que uma imagem boa”.

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Em entrevista a O SETUBALENSE, explica que, paralelamente ao trabalho na televisão, mantém-se ligado à fotografia de concertos, área em que começou e que continua a ser uma das suas principais fontes de inspiração. O jovem natural de Sines é também director e repórter da Hip Hop Rádio PT, um projecto independente que lidera desde 2017, e dedica parte do seu tempo à fotografia de paisagem, especialmente nocturna. O jovem profissional considera que a criatividade está presente em todas as áreas do seu trabalho, seja na forma como capta a realidade em televisão ou na fotografia artística que desenvolve fora do ambiente jornalístico.

Sobre a crescente presença da Inteligência Artificial (IA) no sector audiovisual, Daniel Pereira acredita que a tecnologia deve ser encarada como uma ferramenta de apoio, e não de substituição. Confessa que já utilizou IA em processos de edição e design, mas defende que “o olhar humano será sempre diferente” e que o papel do fotógrafo e do operador de câmara continuará a ser determinante no futuro. Ainda assim, reconhece que a democratização do acesso a estas ferramentas traz novos desafios, defendendo que “a quantidade cresce e os desafios aumentam”, com a expectativa que também “a fasquia suba”.

Como começou o teu interesse pela imagem, foi primeiro a fotografia ou o vídeo?

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Na realidade não sei bem como começou, sei simplesmente que desde cedo gostei de guardar momentos e acho que a imagem foi a melhor maneira que encontrei para os registar. Primeiro a fotografia, o vídeo veio mais tarde.

Lembras-te da tua primeira câmara? Que impacto teve na tua visão do mundo?

Curiosamente ainda uso muito a minha primeira câmara: uma NIKON D5300. A minha visão do mundo não foi muito impactada, ou seja, não mudou muito. Acho sim que, utilizando a câmara, consegui através das minhas imagens materializar e mostrar um pouco da minha visão do mundo.

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Como surgiu a oportunidade de trabalhares com a CMTV e no NOW?

Foi através de um convite do correspondente e repórter do Litoral Alentejano da CMTV e do NOW.

Que desafios e aprendizagens te traz o trabalho como operador de câmara num canal de notícias?

Penso que o maior desafio é estar sempre em cima do acontecimento e um pouco “refém” do que acontece no mundo, não se pode falhar em momentos muito específicos. Aprendem-se muitas coisas na TV, mas uma ideia que sempre ficou comigo é que actualmente, no que toca a notícias, uma imagem rápida é mais importante que uma imagem boa.

Há espaço para criatividade artística dentro da rotina televisiva?

Sim, apesar de ser um trabalho que envolve a captação da realidade, a forma como eu capto essa realidade é diferente de outro operador de câmara e vice-versa.

Já tiveste alguma situação marcante ou inesperada enquanto estavas em reportagem?

As reportagens relacionadas com crimes são as que mais me marcam pois são de uma realidade diferente da minha. Situações inesperadas acontecem em quase todas as reportagens, afinal é televisão em directo.

Como descreverias o teu estilo fotográfico fora do contexto televisivo?

O meu estilo fotográfico é muito semelhante ao que faço em TV, ou seja, trabalho de reportagem. A tal captação da realidade, não varia muito.

Que temas ou ambientes mais te inspiram para fotografar?

Comecei a fotografar em concertos, e continuo muito com esses trabalhos actualmente, por isso diria que o tema principal é a música. Estou a ganhar também um gosto especial por fotografias de paisagem, principalmente no período da noite.

Tens algum projecto pessoal em curso ou que gostavas de desenvolver?

Sim, sou director e repórter da rádio Hip Hop Rádio PT (www.hiphopradio.pt) desde 2017, projecto que tenho um grande carinho e quero, juntamente com a minha equipa, continuar a fazer crescer. Fotografo também a nível individual e estas vertentes são suficientes actualmente.

Tens fotógrafos ou realizadores que te inspiram?

Não propriamente. Desde que comecei a fotografar, interagi com vários fotógrafos, vi várias fases de carreiras e acho que se aprende com todas as pessoas, todas mesmo. Se for para apontar um nome diria o meu amigo Carlos Pfumo, aprendi muito com ele ao longo destes anos.

O que procuras transmitir com as tuas imagens, sejam elas em fotografia ou vídeo?

Fiquei sem saber o que responder a esta pergunta quando a li. A realidade é que comecei a fazer imagem um pouco de forma egoísta: como disse anteriormente, o meu início foi para registar momentos que eram meus ou dos meus. Mas quando começamos a trabalhar, deixamos de fazer imagem só para nós, não é? Então, diria que tento sempre transmitir algo que tentava transmitir a mim próprio: eu não gosto que nenhuma imagem seja uma seca. Se ninguém se aborrecer a ver imagens minhas, fico feliz.

Como vês o futuro do audiovisual em Portugal, especialmente para os jovens criadores? Que conselhos darias a quem está a começar agora?

Acho que apesar de haver mais recursos, mais acesso aos mesmos e formas mais fáceis de divulgar trabalho, todo este “mais” infelizmente não é acompanhado de mais oportunidades válidas de trabalho. Valoriza-se pouco o que tem real valor. Relativamente a conselhos, acho que é importante ouvir conselhos, absorver, mas nunca encarar como verdades absolutas. Todos temos opinião e maneiras próprias de fazer as coisas. É este o meu conselho.

Onde podemos ver mais do teu trabalho? Tens exposições, redes sociais, ou colaborações futuras?

Tenho muitas coisas no meu Instagram principal – instagram.com/ocigas, no de fotografia – instagram.com/ocigastirafotos e também em www.hiphopradio.pt, assim como nas redes sociais associadas à rádio.

A Inteligência Artificial já começa a ter impacto no mundo da imagem. Como vês a sua presença no campo da fotografia e vídeo?

Tenho um pouco de dificuldade em falar em IA porque é um mundo onde ainda não entrei muito e que considero estar ainda nos seus inícios. Quero acreditar que a IA é mais uma ferramenta de manipulação de imagem, nunca de substituição (total) de imagem, neste caso relativa à criada por humanos.

Tens alguma experiência com ferramentas de IA para edição, organização ou até criação de imagens? Ajudam ou atrapalham?

Já utilizei IA para editar fotografias e mesmo para me ajudar em design. Sim, ajuda, mas como tudo, acho que deve ser doseado. Em termos de criação de imagem, já fiz algumas brincadeiras, ilustrações principalmente.

Achas que a IA pode substituir certas funções técnicas da captação de imagem ou do operador de câmara?

Em termos de captação de imagem, acho que o “olhar humano” será sempre diferente. A origem somos nós, a IA por muito que se torne cada vez mais independente, tem o humano como criador e acredito, pelo menos quero acreditar, que isso tem um peso.

Há quem diga que a IA pode democratizar o acesso à criação visual, e outros que alertam para a perda de autenticidade. Qual é a tua posição?

Na minha opinião, autenticidade é relativa, logo a minha posição é baseada em não encarar com muita rigidez esse termo. Haverá sempre um humano por trás de uma utilização de IA, de um pedido ao CHATGPT ou de um “prompt”. Democratiza-se o acesso à criação visual, a quantidade cresce, os desafios aumentam e espero que a fasquia suba.

Como imaginas o papel do fotógrafo e do operador de câmara daqui a 10 ou 20 anos, com o avanço destas tecnologias?

Não consigo imaginar e quem imagina, duvido que acerte (risos). Não existe nenhum filme dos anos 80 que naquela altura retractou o início dos anos 2000 e tenha acertado. Mas quero acreditar que daqui a 10 ou 20 anos ainda existam muitas pessoas a apontar uma lente.

Se pudesses desenvolver uma ferramenta de IA adaptada ao teu trabalho, o que gostarias que ela fizesse?

Gostava que houvesse uma que fosse particularmente especialista em tirar colunas, máquinas de fumo e de confettis quando fotografo artistas, é a parte mais feia dos palcos (risos). Mas isso faz parte da realidade, portanto não sei se queria. Talvez se olharmos mais para o que é real, daremos menos importância à IA.

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