Energia gerada por turbinas de coluna de água oscilante, estendidas ao largo da Lagoa de Albufeira e monitorizadas por IA ecológica
O futuro de Sesimbra em 2195 dependerá de factores globais como as alterações climáticas, decisões nacionais em planeamento, transportes e energia e da capacidade local de adaptação, inovação e preservação do seu património. A chave estará num equilíbrio entre modernidade e natureza, tecnologia e identidade.
Daqui a 170 anos, perspectivando um cenário equilibrado de desenvolvimento sustentável, adaptação climática e inovação, o concelho de Sesimbra terá entre 60.000 e 75.000 residentes físicos, com uma comunidade digital expandida e ligação internacional até 100.000 “residentes culturais”.
A produção energética é mais de 183% auto-suficiente, e gerada por turbinas de coluna de água oscilante, estendidas ao largo da Lagoa de Albufeira e monitorizadas por IA ecológica. Toda a infra-estrutura urbana é alimentada por fontes limpas, incluindo telhados biofotónicos e sistemas de armazenamento baseados em biocélulas marinhas.
O património digitalizado é 96% do acervo oral e visual desde 1850 e a mobilidade produz zero emissões; 100% autónoma.
No ano de 2195, Sesimbra é um lugar onde o passado respira no futuro. Muito mudou, e muito permaneceu. O concelho, moldado durante séculos pelo mar e pelo sopro das serras, soube adaptar-se às transformações profundas do planeta sem perder a sua essência.
O mar, que tantas vezes foi abrigo e ameaça, ganhou terreno. A antiga linha de costa desapareceu em vários pontos, e a Praia da Califórnia é agora um jardim submerso, visitável apenas por mergulhadores ou em visitas guiadas de realidade aumentada.
As zonas habitacionais foram recuadas, erguidas em plataformas elevadas ou integradas em colinas verdes, com casas biointeligentes, adaptadas ao vento, à luz e à humidade marinha. A Lagoa de Albufeira, por sua vez, tornou-se um santuário de biodiversidade, gerido por uma comunidade científica internacional e por habitantes locais treinados como guardiões da água.
O Cabo Espichel foi transformado em Templo de Observação Planetária e é agora um ponto estratégico de ligação simbólica e científica com o espaço. Comunicações com a base de pesquisa em Europa (lua de Júpiter) são retransmitidas a partir de um farol híbrido restaurado, fundindo ciência e espiritualidade.
No exterior da velha igreja, preservada por escudos transparentes anti-erosão, numa placa digital lê-se: “Aqui, os antigos olhavam o mar. Hoje, olhamos o universo com os pés ainda na pedra e a memória na água”.
A economia de Sesimbra é agora quase inteiramente marítima e regenerativa. As antigas embarcações foram substituídas por veículos aquáticos autónomos que exploram e monitorizam os recursos marinhos com cuidado e precisão. A aquacultura vertical em mar aberto garante a produção de alimentos de forma ética e equilibrada, enquanto os estaleiros navais deram lugar a centros de inovação oceânica.
Mas o verdadeiro tesouro do concelho tornou-se a sua memória cultural. Cada rua, cada ruína, cada canção foi digitalizada, preservada e tornada viva. O Centro de Tradições Vivas de Sesimbra, instalado no que foi outrora o Mercado Municipal, é hoje um dos arquivos sensoriais mais completos da Europa costeira. Ali, é possível viver, sentir e compreender como era o quotidiano do século XXI, através de experiências imersivas baseadas em dados históricos reais.
A mobilidade é limpa e silenciosa. Pequenos transportes flutuantes ligam os vários núcleos do concelho. A velha estrada nacional deu lugar a um corredor verde florestal, percorrido por bicicletas de propulsão assistida e passadiços energéticos. As ligações a Lisboa ou Setúbal fazem-se em menos de 15 minutos, por comboios costeiros suspensos ou cápsulas submarinas de alta velocidade.
A população é estável, mas diversa. Muitos habitantes vivem parte do ano em Sesimbra, e outra parte do ano ligados remotamente ao mundo. Outros, de fora, escolhem Sesimbra como lugar de repouso, estudo ou reconexão com a natureza.
O espírito comunitário não se perdeu. Reinventou-se. A tradicional festa do Espírito Santo continua a celebrar-se, agora com drones de luz, cânticos digitais e partilha de alimentos impressos a partir de sementes locais. Mas o sentimento de vizinhança, o gosto pela conversa ao m do dia, a ligação entre gerações, tudo isso continua vivo.
Nas escolas, as crianças aprendem a pescar com drones, mas também a contar histórias como os seus avós. Nos cafés suspensos com vista para o oceano, discutem-se ainda política, marés e futebol.
E ao m do dia, como sempre, o sol mergulha no mar e Sesimbra ca dourada.
Sesimbra foi recentemente nomeada “Cidade Atlântica Modelo” pela Rede Europeia de Territórios Costeiros Sustentáveis. Está a ser estudada como protocolo de adaptação para vilas marítimas de África e Ásia, enfrentando agora os desafios que Sesimbra superou há quase um século.
A vila não é apenas um lugar onde o mar encontra a terra. É um lugar onde o tempo encontrou uma forma de continuar sem romper com o passado. E isso, no mundo de 2195, é mais raro do que nunca.
Sesimbra, em 2195, é um exemplo raro de concelho que soube escutar a natureza, valorizar as suas raízes e caminhar para o futuro com equilíbrio.
É, mais do que um lugar habitado, um lugar sentido onde a modernidade convive com a memória, e o mar continua a ser casa, fronteira e horizonte.