O dia em que o mar venceu e o povo resistiu

O dia em que o mar venceu e o povo resistiu

O dia em que o mar venceu e o povo resistiu

Quatro mortos, muitos feridos e devastação generalizada, destruindo completamente a avenida marginal e danificando a frota de pesca

Desde 1855, Sesimbra viveu momentos dramáticos e glórias mantendo-se sempre fiel à sua identidade marítima e cultural. Enfrentou catástrofes naturais, crises económicas e desafios ambientais, mas soube reinventar-se, sendo hoje um dos exemplos portugueses de transição inteligente entre tradição e futuro sustentável.

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Embora várias ocorrências tenham marcado a história de Sesimbra nas últimas décadas, o ciclone de 1941 destaca-se como o evento mais impactante desde 1855, pela magnitude dos estragos, o adverso desafio à comunidade local e o impulso que deu à resiliência e reconstrução do concelho.

A 15 de Fevereiro daquele ano, um ciclone extremamente violento atingiu a costa portuguesa com especial intensidade em Sesimbra, causando quatro mortos, muitos feridos e devastação generalizada, destruindo completamente a avenida marginal e danificando a frota de pesca – cerca de 113 embarcações foram partidas e 196 desaparecidas.

Existiram inundações graves em bairros costeiros, destruição de casas, estragos avultados das instalações da Sociedade Musical Sesimbrense e do molhe de Angra. Também danos significativos nas áreas rurais: campos e olival devastados.

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O mar, tantas vezes fonte de vida e sustento da localidade de Sesimbra, naquela madrugada de Inverno transformou-se em inimigo. Em poucas horas, a fúria do vento e da água arrasou a marginal e provocou danos incalculáveis na infra-estrutura do porto de abrigo. Além das mortes e perdas materiais avultadas, causou um trauma colectivo que ainda hoje ressoa nas memórias das famílias da vila.

“Acordámos com o mar dentro de casa”, recordava anos depois António Marques, antigo pescador, numa entrevista à rádio local (Rádio Sesimbra FM). “Nunca mais esquecemos aquele som – como se o oceano inteiro estivesse a gritar.”

Apesar da devastação, o ciclone de 1941 foi também um momento de união e resistência. Os relatos da época descrevem uma população inteira envolvida em salvamentos, reconstrução e apoio mútuo.

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Uma operação de resgate heróica, liderada por pescadores e nadadores como João dos Santos Laureano e Carlos Ribeiro, salvaram várias vidas durante a tempestade. Os Bombeiros Voluntários de Sesimbra actuaram com prontidão, retirando vítimas, esvaziando habitações e limpando escombros. A nível institucional, a Comissão Nacional de Auxílio recomendou louvor pelo desempenho exemplar de Sesimbra no pós-catástrofe.

Foi este espírito colectivo que permitiu à vila reerguer-se rapidamente, dando origem a planos de modernização portuária e à necessidade urgente de criar protecção costeira duradoura.

O desastre mudou a relação da vila com o oceano. Mais do que uma vila piscatória, Sesimbra tornou-se sinónimo de resiliência. E essa identidade — feita de redes, ondas, e coragem — ainda hoje se sente em cada rua, em cada estória contada à beira-mar.

Nos anais do concelho, muitos acontecimentos marcaram a identidade de Sesimbra: a restauração do município em 1855, o auge da indústria conserveira nos anos 1950, a fundação da Área Marinha Protegida Luiz Saldanha em 2005. Mas nenhum episódio foi tão brutal e simbólico como o ciclone de 1941 – o momento em que o mar venceu… e o povo respondeu.

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