Da Mundet ao Benfica passando pelo Ecomuseu e bairros operários

Da Mundet ao Benfica passando pelo Ecomuseu e bairros operários

Da Mundet ao Benfica passando pelo Ecomuseu e bairros operários

Fábrica corticeira na economia, Centro de Estágio no Desporto, unidade de valorização da cultura local e desenvolvimento social

Desde 1855, o acontecimento local mais marcante na área da economia no concelho do Seixal foi a implantação e desenvolvimento da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) a partir de 1937. Contudo, outras indústrias foram marcantes para o desenvolvimento económico do concelho nestes últimos 170 anos. É o caso do sector corticeiro

- PUB -

A instalação da Companhia Siderúrgica Nacional (1937–1996) marcou a estrutura da economia local até então de base agrícola, artesanal e piscatória, para uma economia industrial pesada. Transformou o concelho num dos principais centros industriais de Portugal no século XX, gerando milhares de empregos, atraiu migração interna e transformou radicalmente o tecido social e urbano. Além disso, enraizou uma cultura de trabalho operário e sindicalização, com forte influência local até hoje. A requalificação pós-industrial (como o Ecoparque) é actualmente uma herança económica desse período.

Entre 1855 e 1930, as actividades económicas do Seixal eram de base agrícola – vinha, cereais e olival -, salicultura e pesca artesanal, estaleiros navais tradicionais muito ligados à Baía do Seixal e indústria de cerâmica – telhas e tijolos – cal e sabões.

Embora tenha sido ofuscada pela siderurgia em termos de escala, a indústria corticeira no Seixal teve importância económica e social significativa, sobretudo entre 1880 e 1950. Foi uma das bases do desenvolvimento industrial inicial do concelho e um espaço de mobilização laboral, com destaque para a participação das mulheres e a ligação ao movimento operário.

- PUB -

Uma das unidades mais conhecidas, que operou até meados do século XX foi a Mundet & C.ª no Seixal. Foi criada por Henry Mundet, um industrial de origem norte-americana, que se fixou em Portugal no final do século XIX. A empresa expandiu-se em vários pontos do País, mas a unidade do Seixal, inaugurada por volta de 1905, tornou-se a mais emblemática e a maior do grupo Mundet em Portugal.

Produzia rolhas de cortiça natural de alta qualidade, quase exclusivamente para exportação, principalmente para os EUA, França e Reino Unido, tendo sido considerada uma das maiores fábricas corticeiras do mundo nas décadas de 1920–1940. Estava ligada à elite do sector da cortiça em Portugal, contribuindo para armar o País como líder mundial nesta área económica.

A partir da década de 1960, a cortiça perde peso no Seixal devido à concorrência internacional, deslocação das fábricas para o interior mais próximo das áreas de produção e urbanização das zonas ribeirinhas, que tornaram o espaço industrial inviável. Hoje restam memórias físicas e patrimoniais desta indústria preservadas em parte pelo Ecomuseu Municipal do Seixal.

- PUB -

Embora com menos relevância, a Fábrica da Pólvora no Seixal também foi importante para a economia local. Situava-se na Quinta da Fidalga, na freguesia do Seixal, junto à Baía uma vez que a proximidade ao rio facilitava o transporte fluvial de matérias- -primas e produtos acabados, além de permitir o isolamento relativo, essencial para este tipo de produção.

A produção terá sido encerrada ainda no século XIX, sendo depois a propriedade da Quinta da Fidalga usada para fins agrícolas, recreativos e mais tarde culturais.

Benfica lança o Seixal para a primeira linha do futebol nacional

O movimento operário e social organizado, impulsionado pela industrialização e intensificado após o 25 de Abril de 1974, é o acontecimento social mais transformador no Seixal desde 1855. Foi ele que deu voz e dignidade às populações locais, e que construiu as bases do tecido social que ainda hoje marca o concelho.

Aqui, a evolução de acontecimentos desportivas tiveram, e têm, relação marcante no Seixal com a introdução de modalidades como o futebol – Seixal Futebol Clube fundado em 1925 e o Clube Atlético de Arrentela, Paio Pires FC -, remo e atletismo em clubes operários e recreativos locais. Relevante é a Seixalíada que, há mais de 40 anos, envolve milhares de praticantes de desporto em quase 80 modalidades.

De grande dimensão foi a instalação do Centro de Estágio do SL Ben- ca no Seixal em 2006. É o centro de treinos oficial da equipa principal e da formação do clube, sede de uma das academias de futebol mais conceituadas da Europa, atrai investimentos, talentos e turismo desportivo, além de impactar positivamente a imagem do concelho junto da juventude, associando-o ao mérito desportivo e à formação de excelência.

Neste centro de estágio ‘nasceram’ futebolistas de categoria internacional, todos eles do Seixal, como João Félix, Rúben Dias, Renato Sanches e Bernardo Silva, entre outros.

Ecomuseu é modelo inovador na valorização da cultura viva

O Ecomuseu Municipal do Seixal é o acontecimento cultural mais transformador e estruturante desde 1855 no concelho, por reunir a história, o território, a participação e a identidade local de forma viva e inovadora. É uma prova de que a cultura não é só espectáculo, mas também memória, cidadania e construção colectiva.

Criado em 1982, foi pioneiro em Portugal no modelo de valorizar a cultura viva das comunidades. Integra vários núcleos museológicos espalhados pelo concelho, em vez de se concentrar num só edifício, envolve a população local na construção da memória colectiva, com oficinas, recolha de testemunhos e eventos. Preserva o passado agrícola, industrial, marítimo e operário do Seixal e, além disso, estimula turismo cultural, educação patrimonial e orgulho identitário local.

A este polo junta-se o Moinho de Maré de Corroios, o Núcleo Naval, a antiga fábrica Mundet e a Quinta da Fidalga também ligada à antiga Fábrica da Pólvora. São marcos também no concelho as associações recreativas.

São de destacar eventos como o Festival SeixalJazz, a Feira Medieval de Corroios, Feira de Artesanato e Festival da Liberdade.

Na área da educação e formação, é de grande relevância o Seixal Digital que se dirige aos jovens e assenta nas novas tecnologias digitais. É já uma realidade em crescimento e, se for aprofundado com visão estratégica, pode tornar o concelho numa referência nacional em inovação social e tecnológica, sem perder a sua identidade comunitária e inclusiva.

Bairros operários na origem da identidade social do concelho

O Seixal construiu a sua identidade social sobre bases comunitárias fortes, solidárias e participativas, com raízes operárias e associativas que perduram até hoje. O fenómeno da formação dos bairros operários e colectividades é, sem dúvida, o acontecimento social mais estruturante do concelho desde 1855, influenciando como se vive, organiza e participa na vida local.

A formação dos bairros operários não foi um evento isolado, mas sim um processo social transformador com impactos duradouros no tecido urbano, nas relações de classe, na cultura cívica e na organização comunitária do concelho. Criou a base para a identidade social do Seixal: uma terra de trabalhadores, com forte espírito de comunidade, associativismo e participação política e teve influência directa em áreas como a habitação e urbanismo (bairros operários), na saúde (sociedades de socorros mútuos), na cultura (filarmónicas, teatro, leitura) e educação informal e mutualismo.

Partilhe esta notícia
- PUB -

Notícias Relacionadas

- PUB -
- PUB -

Apoie O SETUBALENSE e o Jornalismo rumo a um futuro mais sustentado

Assine o jornal ou compre conteúdos avulsos. Oferecemos os seus primeiros 3 euros para gastar!

Quer receber aviso de novas notícias? Sim Não