Marta Raimundo: “Devia ser exigida a referência ao uso de IA, porque tem tanto de interessante como de ‘desinformador’, e desinformação não precisamos mais”

Marta Raimundo: “Devia ser exigida a referência ao uso de IA, porque tem tanto de interessante como de ‘desinformador’, e desinformação não precisamos mais”

Marta Raimundo: “Devia ser exigida a referência ao uso de IA, porque tem tanto de interessante como de ‘desinformador’, e desinformação não precisamos mais”

Jovem profissional da área da comunicação entende que a IA pode ser utilizada, mas com regras. Defende regulamentação, por parte da UE e dos governos, mas não deixa de falar em literacia digital

Marta Raimundo, 28 anos, é membro da equipa Relações Públicas e Comunicação Digital do Grupo Ageas Portugal e entende que a adopção da IA na área da comunicação é uma mais-valia, e não terá a capacidade de ‘roubar’ empregos.

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Licenciada em Comunicação Social pelo Instituto Politécnico de Setúbal assume não estar completamente informada sobre o que são as IA’s mas mostra-se preocupada com o entendimento dos jovens sobre estas novas tecnologias, que todos os dias têm evoluído.

Ligada à política, não fosse dirigente local (em Setúbal) e nacional da Juventude Popular (JP) está também desperta para a influência da IA na política – explica que várias vezes são modificadas vozes e expressões dos políticos para que lhes sejam atribuídas declarações que nunca fizeram.

Em entrevista a O SETUBALENSE a ex-correspondente do nosso jornal não considera, de todo, que os humanos serão substituídos pela máquina nos seus postos de trabalho mas não descarta o uso da inteligência artificial mas, refere, sempre de “forma consciente”.

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Na tua vida, pessoal ou profissional, utilizas ou já utilizaste alguma ferramenta de inteligência artificial? De que forma?

Utilizo sobretudo LLM’s (Modelo de Linguagem de Larga Escala), para tarefas automáticas, como por exemplo a tradução de algo noutra língua que não português, pois o processo torna-se muito mais rápido. Também já pedi esclarecimentos sobre matérias mais técnicas, por exemplo algum componente num rótulo.

Consideras que estás desperta para os perigos e mais-valias que a IA pode trazer?

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Sim, considero. Já se fala bastante de Inteligência Artificial em ambiente de comunicação, não só sobre as mais-valias, como sobre os riscos e desafios, por isso sim. Há palestras e muita curiosidade.

Estás informada sobre o que são as inteligências artificiais?

QB [Quanto-Baste]. Não sou especialista, mas, como disse, considero-me informada sobre esta novidade que todos os dias caminha para algo maior.

Sendo uma profissional da área da comunicação consideras que a IA pode ter vantagens para o desenvolvimento do teu trabalho?

Sem dúvida. O exemplo da tradução também pode ajudar no trabalho e depois temos a parte criativa. Já não se inventa a roda, eu digo muito isto, portanto, às vezes basta uma palavra diferente, ou um apontamento que não estávamos a conseguir ver sozinhos naquele dia. A Inteligência Artificial pode auxiliar em alturas de maior volume de trabalho ou de menor capacidade criativa, para dar “uma mãozinha”. Uma proposta de frase, uma solução para uma efeméride, uma análise a um relatório que pode ser demasiado extenso para ler naquela semana… Acredito que a IA serve o propósito de auxílio, e não tenho uma visão pessimista de que me vai tirar o lugar.

Achas que a Inteligência Artificial vai ser capaz de substituir trabalhadores na tua área?

Cá está, não. Na minha área não, porque a comunicação mais apreciada e consumida é a comunicação relacional e humana. Para quem trabalha com redes sociais “as pessoas seguem pessoas” é uma frase chave. Não seguem números, textos, marcas, dados. E as pessoas são insubstituíveis, assim como a autenticidade e a emoção. No caso da comunicação não creio, pelo menos para já.

Como é que olhas para a possibilidade de a IA poder vir a substituir empregos/funções que aos dias de hoje são feitas por humanos?

Mas pode mesmo? Quem é que nos diz isso? Já há provas? Se não há e é apenas especulação, é um não assunto. Se as há, acredito que o futuro passará pela reintegração laboral e pela recapacitação das pessoas. Os cursos terão de ser actualizados e adaptados a essa nova realidade – como de resto já aconteceu com a digitalização – em que as pessoas auxiliam e supervisionam mais as máquinas do que propriamente produzem. Reitero que, no meu entender, ainda estamos um pouco longe disto.

Achas que a IA pode vir a substituir empregos no futuro? Se sim, quais?

Acho sobretudo que há empregos que vão mudar de formato. Permite-me dar um exemplo básico e corriqueiro: um profissional que passe o dia a clicar em vários botões, passará a clicar só num, numa máquina que faça o que ele fazia. E vigia o comportamento da máquina.

Se calhar há áreas que terão menos emprego do que têm agora, mas também podem surgir novas áreas. Vamos assistir a uma destruição criativa, que é um processo pelo qual inovações e mudanças no mercado levam à substituição de produtos ou modelos de negócio por novidades mais eficientes e ágeis.  No fundo substituímos umas coisas por outras.

Pensas que os jovens estão a utilizar de forma correcta a inteligência artificial?

Sinceramente acho que não, porque por incrível que pareça em pleno 2025 não há tanta literacia digital assim. Portanto, suponho que a utilização esteja a ser feita com vários riscos.

Um exemplo: ontem numa esplanada um amigo meu dizia que nunca mais assinou documentos. Deu a assinatura dele ao ChatGPT e pede-lhe que a introduza em documentos sempre que precisa. Como ele, muitas mais assinaturas devem estar disponíveis.

Temos de entender que a própria aplicação (e quem diz o ChatGPT diz outras como o Copilot, a Monica ou o Grok) alimenta-se com o que lá colocamos, e se lhe damos dados pessoais e confidenciais, fotografias, etc., pode partilhá-los com outros utilizadores, além disso, por detrás continua a estar uma empresa e pessoas que acedem à informação – mesmo que digam que não.

Pensas que a inteligência artificial pode ser prejudicial para o jornalismo e também na comunicação?

Pelo contrário, penso que ajuda na azafama do dia-a-dia e na corrida pela celeridade (que dava todo um outro tema). Mas, e sublinho esta ideia, tem de ser usada de forma consciente. Não pode nunca servir como fonte de informação oficial para nada, por exemplo.

E para as redes sociais?

Idem. No caso das redes sociais que precisam de imagem e vídeo para viver, acrescento que pode ajudar na produção desses mesmos conteúdos. Contudo, mantenho o que disse, é um auxiliador. O tom tem de ser feito pelos humanos e, por muito bom resultado que entregue, os detalhes têm de ser limados, até por razões de plágio da concorrência. Imagine-se na publicidade criada com IA, há uma equipa a pensar em todo o sentido e propósito dos anúncios.

Nas redes sociais, e aos dias de hoje, achas que se identifica facilmente um conteúdo que é produzido por IA?

Acho que não e noto isso pelas interacções das pessoas. Há conteúdos que não estão identificados como criados por IA e claramente são. Lembro-me de vídeos em que usam a imagem de alguém conhecido – acontece muito com políticos – e aplicam uma voz artificial a dizer alguma coisa que seria impossível, ou pelo menos muito improvável, como palavrões. É uma sátira que nem todos entendem, o que se percebe pelos comentários que as pessoas deixam.

O mesmo acontece com fotografias que são fabricadas, no caso, com um nível de credibilidade que é difícil de distinguir.

Para mim devia ser exigida a referência ao uso de IA, porque tem tanto de interessante como de ‘desinformador’, e de desinformação não precisamos de mais.

Se pudesses criar um robot com IA o que é que ele fazia?

Muito provavelmente ia querer criar algo para tratamento ou cura na área da saúde, a área que vejo com maior potencial para o progresso e sucesso.

Achas que a IA deve ter limites?

Sim. Como tudo, há que haver regras. A União Europeia já está a olhar para o tema e cada Estado-membro deve fazê-lo igualmente. A questão da desinformação preocupa-me e da exposição dos dados das pessoas também. Para além da formação – nas escolas e empresas – que é sempre uma poderosa arma, seria bem-vindo que as próprias ferramentas tivessem alguns alertas nesse sentido – como faz o OLX quando divulgamos um número particular – e que se estabelecessem normas nomeadamente para que quem usa identifique que o que partilhou é derivado de Inteligência Artificial.

Quem é que achas que devia controlar as inteligências artificiais: empresas, governos ou a sociedade? E porquê?

Para mim tem de haver um equilíbrio, deve encontrar-se um ponto óptimo de cooperação e trabalhar numa regulação que inclua os vários pontos de vista dos envolvidos.

Aprofundando, não acredito que o Governo deva controlar tudo e todos. Infelizmente também não acredito que a Sociedade tenha capacidade para se auto-regular. Ainda em Janeiro deste ano foram divulgados dados que indicavam que mais de metade dos portugueses têm literacia digital de nível básico. As empresas, embora sejam as criadoras da IA e contribuam para a inovação dos países, também têm interesses que se podem sobrepor à segurança.

As directrizes podem vir da União Europeia, ser aplicadas pelos governos uniformemente, geridas como até então pelas empresas. A cooperação e colaboração é essencial neste e noutros sectores de actividade.

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