Desde 1956 fez da arte cinematográfica uma arma contra o silêncio afirmando-se como bastião da liberdade cultural e crítica social
Quando o Cineclube do Barreiro foi fundado em 1956, o País vivia sob o peso da censura e do conformismo do Estado Novo. Num concelho profundamente operário e com forte tradição associativa, este espaço de cultura cinematográfica nasceu como um raro oásis de liberdade crítica, debate e resistência.
Impulsionado por um grupo de jovens intelectuais e amantes do cinema, o cineclube começou a organizar sessões regulares com obras clássicas e contemporâneas de cinematografias nacionais e estrangeiras, que quase nunca passavam nos circuitos comerciais. Filmes de autores como Eisenstein, De Sica, Renoir, Buñuel ou Bergman foram exibidos para plateias atentas, ansiosas por escapar ao cinema formatado do regime e por aceder a mundos e ideias que a propaganda oficial ignorava ou suprimia.
Durante os anos 60 e 70, as sessões de cinema tornaram-se também momentos de reflexão política. Muitos filmes foram apreendidos, sessões interrompidas ou proibidas pela censura. Ainda assim, o cineclube nunca suspendeu a sua actividade, muitas vezes recorrendo a salas emprestadas, sessões privadas ou programação disfarçada. As tertúlias e os debates que se seguiam às exibições eram, por vezes, mais importantes do que o próprio filme, alimentavam o espírito crítico e cimentavam redes de solidariedade e resistência.
Com o 25 de Abril, o Cineclube do Barreiro ganhou nova vida. Passou a integrar redes nacionais e internacionais, organizou semanas de cinema temático, ciclos dedicados a novos realizadores portugueses, e promoveu colaborações com escolas, associações locais e festivais de arte. Ao longo das décadas, o cineclube tornou-se um verdadeiro centro de formação audiovisual, abrindo as portas a jovens realizadores e espectadores exigentes.
Hoje, mais de 65 anos após a sua criação, continua activo, com programação mensal, mostras documentais, curadorias temáticas e oficinas. Em tempos de plataformas digitais e consumo acelerado, o Cineclube do Barreiro mantém viva a essência do cinema enquanto experiência colectiva, crítica e transformadora.
É mais do que um lugar de exibição, é uma memória viva da luta pela liberdade cultural e um pilar da identidade artística do Barreiro.