Fundadora da RUA – Rede Urbana em Acção, explica o que é e como funciona o projecto jornalístico que procura retirar o maior proveito da Proximidade, aproveitando as novas tecnologias para promover a cidadania
O projecto, que conjuga os conceitos de proximidade e cidadania aposta na localização geográfica, com recurso às novas tecnologias, para fazer a ligação dos moradores a toda a informação disponível on-line sobre o seu bairro ou cidade. A experiência começa a dar os primeiros passos em Portugal, através da parceria da Rede RUA com a Mensagem de Lisboa e a agência de notícias Lusa. Em entrevista a O SETUBALENSE, a fundadora desta rede, Callie Wentling, explica o modelo.
Como nasce a Rede RUA e qual é a vossa missão principal no sector dos media?
A RUA nasceu da necessidade de facilitar o acesso à informação local. Como residentes, frequentemente perdemos informações importantes (programas, notícias, iniciativas, eventos) por não sabermos onde encontrá-las ou por descobri-las tarde demais. Embora organizações (média, governos locais, grupos comunitários) queiram partilhar estas informações, os algoritmos actuais priorizam conteúdo de entretenimento e patrocinado, em vez de informação local relevante. A RUA resolve isto ao geolocalizar e estruturar o conhecimento comunitário, tornando-o acessível a todos. Especificamente para o sector dos media, queremos criar uma dimensão nova de descoberta dos conteúdos, pelas pessoas que importam mais, para fortalecer a transmissão da informação e contexto ao seu público-alvo.
Que papel pretende a Rede RUA desempenhar na transformação digital do jornalismo local e de proximidade?
A RUA digitaliza e mapeia eventos, notícias e programas no tempo e espaço, facilitando a descoberta de informação relevante. Diferentemente de outros projetos de mapeamento, oferecemos definições de localização personalizadas e hiperlocais, reflectindo o contexto específico de cada conteúdo.
De que maneira as soluções da Rede RUA podem ser integradas nas rotinas editoriais dos media portugueses?
Já temos um plugin no mercado que permite aos jornalistas mapear artigos durante a publicação. Este conteúdo alimenta mapas de contextualização, visões gerais configuráveis e pesquisa espácio-temporal. Além disso, integra-se com a RUA Map, uma aplicação que agrega conteúdo de diferentes fontes, ajudando residentes a encontrar informação relevante e urgente.
A georreferenciação das notícias pode ajudar os jornalistas a identificar padrões ou desenvolver investigações com maior profundidade? Pode dar-nos um exemplo concreto?
Os mapas de cobertura ajudam a identificar áreas sem serviço suficiente (news deserts) ou com narrativas problemáticas, influenciando o planeamento editorial. O mapeamento facilita pesquisa aprofundada do local, essencial tanto para jornalismo investigativo quanto para activismo comunitário. Um exemplo é o Projeto Narrativas da Mensagem em curso, que aborda zonas diversas de news deserts, e que usa RUA para contextualizar leitores e mostrar cobertura da zona.
A Rede RUA poderá funcionar também como instrumento de cidadania e participação comunitária? De que forma?
A RUA apoia tanto o sector dos média quanto outros comunicadores sociais. Damos visibilidade a iniciativas com impacto social e ambiental, ajudando-as a encontrar seu público no momento certo. A RUA Map facilita o mapeamento de recursos e ideias para transformação comunitária.
Tendo em conta a interface tecnológica, que tipo de interacção é esperada entre o utilizador e o conteúdo?
A nossa solução é intuitiva: para comunicadores, o plugin RUA integra-se com os sistemas existentes (CMS) com interface familiar. Para leitores, oferecemos mapas interactivos para descoberta de conteúdo relevante. A RUA Map apresenta conteúdos através de mapas e listas filtráveis.
Está prevista a possibilidade de integração com plataformas noticiosas já existentes?
A integração é simples: As redacções apenas precisam integrar a RUA na plataforma, gastando menos de 5 minutos por artigo. Actualmente o modelo está optimizado para WordPress, mas planeamos expandir para outros sistemas, com mais features para extrair mais insights sobre os territórios.
Qual é o modelo de sustentabilidade previsto para a Rede RUA? Haverá uma componente comercial futura?
O nosso modelo de negócio equilibra acesso à informação com sustentabilidade. Oferecemos ferramentas que aumentam o engajamento dos leitores, com diferentes níveis de serviço adaptados às necessidades de cada redacção. Futuramente, desenvolveremos soluções específicas para gestores urbanos.
Já existem parcerias com meios de comunicação portugueses? Se sim, que resultados têm sido observados?
Já colaboramos com a Mensagem em Lisboa e a agência Lusa, entre outros parceiros neste momento no modo oculto. Estamos a implementar métricas para melhor avaliar os resultados.
Estão abertos a colaborações com meios de comunicação independentes e ou outras entidades? Se sim, como podem os nossos leitores saber mais sobre a Rede RUA?
Trabalhamos com todo o ecossistema de comunicação: Redacções, governos, grupos comunitários e organizações. A nossa missão é facilitar a partilha e uso de informações para benefício colectivo. Gostaríamos de entender mais sobre cada necessidade das diferentes pessoas no ecossistema. Os interessados podem entrar em contacto através do nosso site (rederua.pt), por email: callie@rederua.pt, ou ficarem atentos aos nossos média sociais (@rederua.pt).