Candidato do PSD à presidência da Câmara do Seixal crítica negativamente a gestão da CDU e diz que concelho está a crescer a um ritmo acelerado, mas sem planeamento nem visão estratégica
Bruno Vasconcelos nasceu, cresceu e vive no concelho do Seixal, onde construiu a sua vida familiar e profissional. Programador informático desde 2008 e, desde 2020, é também docente na Escola Superior de Ciências Empresariais do Instituto Politécnico de Setúbal, onde lecciona nas áreas da tecnologia e gestão.
Iniciou o seu percurso político como membro da Assembleia de Freguesia de Amora e exerce actualmente funções como vereador na Câmara Municipal do Seixal, eleito pelo PSD. Afirma que recusou pelouros “em nome da coerência e da transparência”.
Considera que o Seixal tem um enorme potencial, mas está a ser mal gerido pela CDU que governa a Câmara Municipal. Garante que se for eleito vai pôr em prática “uma governação orientada para resultados, com metas claras, transparência e participação activa da comunidade”, uma das suas primeiras medidas será “acelerar projectos que estão há demasiado tempo parados ou na gaveta, sobretudo na habitação e nas respostas sociais, e criar canais de comunicação directos e permanentes com os munícipes”.
O que o motivou a candidatar-se à presidência da Câmara Municipal do Seixal?
Esta candidatura resulta da forte convicção de que o Seixal merece mais e melhor. Quer como cidadão, quer na qualidade de autarca, entristece-me assistir à passividade de quem gere a autarquia enquanto o acesso à habitação é cada vez mais difícil (o metro quadrado atingiu o preço mais elevado de sempre), enquanto a mobilidade se deteriora de ano para ano, enquanto a saúde dos seixalenses continua a ser usada como arma de arremesso da CDU contra os sucessivos governos da República, enquanto a segurança é um tabu ou enquanto a transparência na gestão da autarquia continua a ser uma utopia. O Seixal tem um potencial enorme, que precisa de ser aproveitado. Isso exige outra visão, que não hostilize a iniciativa privada nem a atracção de empreendedores, uma nova energia, mais rigor na gestão do dinheiro dos munícipes e mais prestação de contas da governação local. Está na hora de pôr os interesses dos cidadãos no centro da decisão política – e não os interesses do autarca de serviço, do Comité Central ou do partido.
Como avalia o desempenho do actua executivo, gerido pela CDU?
A gestão da CDU caracteriza-se pela falta de ambição, pela manutenção de clientelas e pela estagnação. Apesar de já irmos em quase cinco décadas de poder comunista, o Seixal não supera os seus problemas crónicos de mobilidade, habitação, degradação urbana ou saúde e continua incapaz de apresentar uma visão estratégica para atrair investimento que crie empregos, fixe os mais jovens, ofereça soluções aos mais idosos, traga mais dinamismo e que permita ao concelho cumprir o seu potencial. A CDU tem medo do investimento porque prefere manter o máximo de gente possível dependente da generosidade camarária. E mais: infelizmente, o cartão partidário tem falado mais alto — basta olhar para as nomeações políticas e para a prática sistemática de jobs for the boys and girls do PCP na Câmara Municipal do Seixal – em muitos aspectos centrais para o futuro do nosso concelho. Ao invés de termos um partido ao serviço do concelho, temos tido um concelho ao serviço do partido. Veja-se o que acontece com a Festa do Avante ou com uma série de eventos que aqui são promovidos. O Seixal é um instrumento da CDU. E é por isso que, infelizmente, continuamos de costas voltadas para o Tejo, para a Lisboa e para outros municípios da Área Metropolitana que justificariam novas parcerias e uma relação muito mais estreita. A opção tem sido pela clausura e por continuarmos cercados por um enorme moral ideológico que só serve o propósito de perpetuação no poder da CDU. Só que não há mal que nunca acabe e o Seixal vai finalmente afirmar-se como um concelho aberto, competitivo e moderno.
O que fará de diferente se for eleito para gerir a Câmara Municipal?
A AD – Coligação PSD/CDS vai pôr em prática uma governação orientada para resultados, com metas claras, transparência e participação activa da comunidade. Vamos investir a sério onde é urgente: na saúde, habitação, mobilidade e segurança. E vamos cortar na burocracia e modernizar os serviços camarários, valorizando-os e valorizando os trabalhadores, mas tendo sempre claro que os serviços não são um fim em si mesmos, existem para servir as famílias e as empresas. Um exemplo claro é o do urbanismo, onde os processos são lentos, opacos e ineficientes. A nossa candidatura traz profissionais experientes, vindos de diferentes sectores da sociedade civil, com provas dadas na gestão, engenharia, economia e outras áreas — e é essa experiência que queremos colocar ao serviço dos seixalenses. Faremos uma verdadeira transformação na câmara, com recurso a novos saberes e uma aposta forte no digital.
Que valores do PSD considera mais importantes para aplicar na gestão autárquica?
Responsabilidade, compromisso, proximidade, mérito, liberdade de escolha e transparência. Defendemos uma gestão rigorosa dos recursos públicos, apostamos na descentralização e valorizamos a iniciativa privada como motor do desenvolvimento económico. Queremos uma câmara que facilite a vida dos cidadãos, em vez de a complicar. E, já agora, queremos romper com a lógica de que a Câmara do Seixal é uma prateleira dourada para antigos autarcas e dirigentes do PCP (ou de qualquer outro partido). Isso tem de acabar.
Qual considera ser o maior desafio do concelho do Seixal neste momento?
O maior desafio do Seixal é travar o crescimento desordenado e devolver qualidade de vida à população. O concelho está a crescer a um ritmo acelerado, mas sem planeamento nem visão estratégica. Isto tem gerado uma enorme pressão sobre infraestruturas básicas, escolas saturadas, transportes insuficientes, falta de equipamentos públicos e um sistema de saúde local que não dá resposta a quem precisa.
O actual executivo tem promovido uma política de construção desenfreada sem pensar nas consequências. É urbanismo a reboque dos interesses imediatos e da vontade insaciável de aumentar a receita fiscal, sem cuidar do futuro. Precisamos urgentemente de uma nova abordagem: um plano de crescimento sustentado, com regras claras, respeito pelo território, investimento em equipamentos e serviços públicos e uma visão integrada que ponha os cidadãos, as gerações actuais, mas também as vindouras, no centro das preocupações.
Quais serão as suas prioridades nos primeiros 100 dias de mandato, caso seja eleito?
Em coerência com as críticas que temos feito, lançaremos uma auditoria independente à Câmara Municipal do Seixal. Queremos conhecer em detalhe o nosso ponto de partida e apurar quem ganhou o quê, em que contexto e com que trabalho realizado. Vamos analisar os contratos públicos em vigor, eliminar gastos supérfluos e lançar um plano de emergência para resolver três problemas críticos: mobilidade, segurança e higiene urbana. Além disso, vamos acelerar projectos que estão há demasiado tempo parados ou na gaveta, sobretudo na habitação e nas respostas sociais, e criar canais de comunicação directos e permanentes com os munícipes.
Outra prioridade clara será o alívio fiscal. Tal como temos vindo a propor consistentemente nos últimos oito anos, vamos mesmo baixar o IMI, o IRS e a derrama municipal de IRC. É hora de deixar de sobrecarregar as famílias e as empresas, é tempo de devolver rendimento aos cidadãos, a quem gera emprego e dinamismo e de tornar o Seixal um sítio mais atractivo para viver, estudar trabalhar, visitar ou investir.
O concelho tem registado um aumento da população e da construção. Como pretende equilibrar o crescimento urbano com a qualidade de vida?
Com um planeamento urbano inteligente. Precisamos de conter a expansão desordenada, promover habitação acessível com qualidade e criar mais espaços verdes e equipamentos públicos. A política de habitação é muito mais do que usar centenas de vezes o direito de preferência, ironicamente com recurso a dinheiro de Bruxelas, que o PCP tanto diaboliza. Afinal, quem é que está sempre de mão estendida à Europa?
Que soluções propõe para combater a crise na habitação, especialmente para os jovens e classes médias?
A habitação é uma das nossas maiores prioridades. Vamos lançar programas municipais de habitação acessível, em parceria com os sectores privado e social e também com o Governo, mas vamos assumir igualmente um papel mais activo na construção pública, com empreendimentos municipais destinados a jovens e famílias da classe média. Nós precisamos de um choque de oferta de imóveis tanto para compra como para arrendamento.
Defendemos ainda a criação de incentivos à reabilitação urbana, colocando no mercado um sem-número de edifícios devolutos. Queremos acabar com a vergonha das Áreas Urbanas de Génese Ilegal (AUGI) no concelho. É inadmissível que em pleno século XXI milhares de famílias continuem a viver sem infraestruturas básicas e em situação de total imprevisibilidade jurídica. O processo de reconversão tem de ser acelerado com uma liderança determinada da autarquia e uma estratégia clara.
E, acima de tudo isto, é urgente desburocratizar os licenciamentos. Hoje, muitos projectos ficam bloqueados na Câmara Municipal durante meses ou anos por ineficiência ou falta de vontade política. Vamos rever processos, digitalizar procedimentos e estabelecer prazos máximos para as respostas da autarquia. A Câmara do Seixal tem de deixar de ser um obstáculo e passar a ser parte da solução.
Tem planos para requalificar zonas degradadas do concelho, caso da frente norte da baía do Seixal?
Sim, a requalificação da frente ribeirinha, em especial da frente norte da baía, é uma prioridade absoluta. Queremos transformar essa zona, hoje abandonada, num espaço de lazer, de promoção do desporto e da saúde, de turismo de qualidade e de dinamismo económico, sempre com total respeito pelo ambiente e pela identidade local.
A localização natural do concelho é privilegiada. Temos uma ligação única ao Tejo e ao Rio Judeu, que deve ser encarada como uma grande oportunidade. Vamos valorizar o rio como espaço de fruição de todos em diferentes vertentes, promovendo a sua integração no dia-a-dia da cidade e na articulação desta com outros pontos da Área Metropolitana. E queremos desenvolver infra-estruturas para desportos náuticos, actividades culturais e zonas verdes que tornem a frente ribeirinha (e zonas afins) num verdadeiro polo de atracção para quem cá vive e quem nos visita.
Esta requalificação não é apenas uma obra urbanística, é um passo para devolver o Seixal aos cidadãos, criar centralidades e atrair investimento sustentável, que gere emprego e seja motivo de orgulho para os seixalenses.
Que planos tem para atrair investimento e dinamizar o tecido económico local?
Vamos criar uma Agência Municipal para o Investimento e Desenvolvimento Económico, que será um ponto único de apoio aos investidores e empreendedores, reduzindo a burocracia, acelerando licenciamentos e criando um ambiente favorável à instalação de novos negócios.
O Seixal precisa de zonas empresariais modernas e bem infra-estruturadas, com acesso a transportes, energia, telecomunicações, soluções digitais, capazes de atrair empresas viradas para o futuro, sobretudo as tecnológicas, que trazem maior valor acrescentado. Precisamos de tornar o nosso concelho o mais competitivo face a outros da Área Metropolitana de Lisboa.
Mas queremos ir mais longe: trabalharemos com a AICEP e com as embaixadas de Portugal para organizar roadshows e apresentações internacionais dirigidas a empresas multinacionais. O objetivo é claro: atrair para o Seixal a instalação de sedes e centros de operações de companhias com dimensão, promovendo a inovação no concelho, a criação de emprego qualificado, o pagamento de salários mais altos e a fixação de jovens.
Não podemos ser um concelho-dormitório; o Seixal tem de se afirmar como um autêntico cluster económico preparado para o futuro, capaz de competir com as melhores ofertas que existem no País. Não há nenhuma razão, além da resistência da CDU, para que assim não seja.
Como pretende articular-se com o Governo e a Área Metropolitana de Lisboa para resolver os problemas estruturais do concelho?
Com diálogo constante, exigência institucional e propostas concretas. Os grandes desafios do Seixal — mobilidade, saúde, habitação, segurança — exigem respostas articuladas com o Governo e com a Área Metropolitana de Lisboa. Estarei sempre disponível para negociar de forma construtiva, mas também para reivindicar com firmeza o que é justo para o nosso concelho. Não vou ser brando com o Governo actual só por ser um Governo AD. O meu compromisso é com os seixalenses.
Isto porque não queremos continuar de costas viradas para Lisboa, como tem acontecido durante demasiado tempo. O Seixal não pode ser um enclave ideológico – tem de ser parte da solução. Vamos assumir um papel activo nas estruturas metropolitanas, trabalhar em rede com os municípios vizinhos e exigir os investimentos que o Estado central deve à nossa população.
Mais do que manifestações estéreis orquestradas na Soeiro Pereira Gomes para abrir noticiários, queremos influência com resultados. O Seixal tem tudo para ser um concelho de referência e é nisso que estamos focados.
Está disponível para estabelecer pontes com outras forças políticas e municípios vizinhos?
A AD estará sempre disponível para estabelecer pontes com os seixalenses e para encontrar soluções que melhorem a vida dos seixalenses. É esse o nosso compromisso.