Junta de Freguesia diz que moradores e comunidade escolar há muito se queixam de alergias
Está em curso desde o final do mês de Abril o abate de choupos em Brejos de Azeitão, em terreno camarário. A situação tem estado a gerar uma onda de descontentamento entre moradores e o PAN apresentou uma queixa ao Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (Sepna).
“Aquelas árvores estão a cumprir imensas funções que vão desaparecer, sombras, espaço dos pássaros, as zonas verdes são importantes”, começa por referir Luís Humberto Teixeira, do partido Pessoas Animais Natureza (PAN), a O SETUBALENSE – DIÁRIO DA REGIÃO. “Os choupos não causam alergias e se a razão for esta não se justifica o abate”, defende, alertando para o facto de que “as árvores não crescem de um dia para o outro e que as muitas funções que árvores deste porte desempenham no ecossistema não serão cumpridas por novas árvores durante vários anos”.
A informação chegou ao PAN através de moradores e outras pessoas que passam na Rua do Kimbo, na zona da Brejoeira, diariamente. Segundo Carmen Rodrigues, “na primavera, os choupos deitam os algodões e deve ser reforçada a limpeza da estrada como resposta às reclamações dos moradores. O abate não é a solução” porque “árvores com esta dimensão têm um valor incalculável por purificar o ar, proteger do ruído urbano, refrescar a temperatura da zona envolve no Verão e gerar grandes quantidades de oxigénio”.
Esta moradora refere que “são as árvores as nossas grandes aliadas contra as alterações climáticas e desequilíbrio da atmosfera e do planeta” e apela à suspensão do abate dos choupos e ao reforço da limpeza das ruas envolventes na primavera.
A esta azeitonense, a presidente da Junta de Freguesia de Azeitão adiantou “que serão plantadas árvores de outra espécie, não lesivas à saúde”. Ao jornal, Celestina Neves diz que “quer os moradores da zona, quer a comunidade escolar da Escola da Brejoeira, há muito que vinham reivindicando o seu abate, pois os choupos além de não serem árvores urbanas, deitam um “algodão” prejudicial à saúde, criando e desenvolvendo alergias” mas remete maiores esclarecimentos para a Câmara de Setúbal, “entidade dona do terreno e quem está a proceder ao abate”.
Câmara explica que abate “resulta exclusivamente de pareceres técnicos”
A O SETUBALENSE – DIÁRIO DA REGIÃO, a Câmara Municipal explica que “a decisão de abater as árvores resulta exclusivamente de pareceres técnicos”. Fonte do gabinete da vereadora Carla Guerreiro, do Ambiente, confirma os números indicados. “Eram 15 árvores da espécie Choupo – híbrido na fase madura regressiva plantadas há mais de 40 anos em alinhamento ao longo do arruamento e debaixo de diversas infra-estruturas aéreas. São espécies de crescimento muito rápido, com esperança de vida curta em ambiente urbano, de madeira branda e muito susceptível a fungos e insectos que podem provocar o seu apodrecimento com ‘risco’ elevado de quebra da madeira”, acrescentando que a escolha da espécie para aquele local “foi totalmente errada”, com destaque “para a extensão das infra-estruturas aéreas que atravessam a copa das árvores a uma altura de 4-5 metros”. As equipas de manutenção tentaram remediar a situação ao cortar e limpar os ramos no interior da copa na zona de passagem dos fios mas sem sucesso, uma vez que “as copas das árvores balançam bastante com o vento atingindo os fios”.
A autarquia alerta para sinais que indiciam o estado de declínio das árvores, com zonas de apodrecimento, cavidades, madeira inclusa e morta, que evidenciam a degradação interna da madeira e subsequente risco de fractura muito elevado, garantindo que todo o procedimento de avaliação visual foi baseado em protocolos internacionais, nomeadamente nas Best Management Practice for Tree Risk Assessment, da International Society of Arboriculture, e no método Visual Tree Assessment.
A mesma fonte justifica assim “os motivos para abate destas árvores de crescimento muito rápido plantadas ao longo de arruamento de acesso a escola e debaixo de infra-estruturas aéreas, em estado de declínio, em “risco” de queda/quebra elevado, podendo atingir pessoas, bens móveis e as próprias infra-estruturas aéreas, árvores com baixíssima esperança de vida que requeriam substituição prioritária”, sem esquecer “a proliferação do pólen emitido pelas árvores, que tem sido também motivo de inúmeras reclamações ao longo dos últimos anos”.
Conforme discutido e decidido no âmbito do projecto municipal “Ouvir a População, Construir o Futuro”, a intenção da autarquia é “projectar e construir nos espaços silvestres entre a Rua do Kimbo e a vala um novo espaço verde com função recreativa e de lazer onde serão replantadas árvores e arbustos, salvaguardando que no estado adulto as ramagens dessas plantas fiquem a uma distância de segurança às infra-estruturas aéreas superior a 6 metros para não repetir os erros do passado”.
Sociedade Portuguesa de Alergologia garante que choupos não causam alergias
A Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) diz, relativamente a “Alergia a Choupos e Plátanos”, que “a confusão decorre do facto das sementes destas árvores produzirem grandes quantidades de pêlos brancos cuja agregação acaba por dar origem a novelos, os chamados flocos de algodão branco, que se acumulam nas bermas de estradas e caminhos”. A Sociedade Portuguesa de Alergologia explica ainda que “a libertação das sementes do choupo coincide com o período de polinização das gramíneas, grupo de plantas herbáceas cujo pólen é responsável por um elevado número de aeroalergénios, e que, esse sim, poderá ser a causa das manifestações alérgicas respiratórias”.