Montijense informou, na manhã de sábado, o líder da distrital de que, nessa mesma tarde, iria renunciar à candidatura à Câmara e demitir-se da concelhia
Três dias depois de João Afonso ter renunciado à candidatura à Câmara do Montijo e ter apresentado a demissão da liderança da Comissão Política local do PSD – órgão que se demitiu em bloco, em solidariedade com o social-democrata –, Paulo Ribeiro, presidente da distrital do partido, enviou um esclarecimento aos militantes montijenses.
Na mensagem, à qual O SETUBALENSE teve acesso, Paulo Ribeiro revela que a estrutura distrital foi surpreendida “com a desistência do militante João Afonso como candidato do PSD à Câmara Municipal do Montijo” e que a decisão “foi tomada exclusivamente pelo próprio, apesar dos vários apelos feitos por dirigentes locais e distritais para que reconsiderasse a desistência”.
Os apelos foram, de facto, feitos por Paulo Ribeiro, mas horas antes de se ter iniciado a reunião da Comissão Política local, que decorreu na tarde do passado sábado na Galeria Municipal do Montijo, onde João Afonso comunicou a decisão ao órgão.
Nessa manhã, Paulo Ribeiro trocou mensagens por WhatsApp com João Afonso e foi informado da decisão que o montijense se preparava para anunciar na reunião.
João Afonso revelou a O SETUBALENSE o teor das conversações, que começaram cedo, pela manhã, com um convite de Paulo Ribeiro para que tomassem café em Alcochete pelas 9 horas, o qual foi declinado pelo agora ex-líder da estrutura local do partido. “Bom dia Paulo, hoje não posso, estou cheio de compromissos. De qualquer forma, quero comunicar-te que hoje irei demitir-me da Comissão Política [local] do partido e que em simultâneo irei renunciar à candidatura à Câmara do Montijo. Nos termos dos estatutos deverás fazer o que terá de ser feito daqui para a frente”, respondeu João Afonso, em mensagem de áudio.
O líder distrital tentou, logo de seguida, demover o montijense. “Não faças nada sem conversarmos. Venho ter contigo quando quiseres. Isso não faz sentido nenhum”, retorquiu Paulo Ribeiro, em mensagem escrita, à qual se seguiu uma chamada de voz (8h38) que João Afonso atendeu e que durou 19 minutos. Face à irredutibilidade transmitida por João Afonso e à impossibilidade de novo contacto telefónico entre ambos, Paulo Ribeiro deixou nova mensagem escrita pelas 9h04: “Liga-me logo que puderes”. E 22 minutos mais tarde o líder da distrital escrevia: “Estive a falar com o Hugo Soares [secretário-geral do PSD e líder da bancada parlamentar do partido], que quer falar contigo na terça-feira [25 de Fevereiro]. Pede para não fazeres nada até lá”.
João Afonso tentou o contacto telefónico pelas 11h04. Ribeiro não conseguiu atender e devolveu a chamada pelas 11h07. E aí foi o montijense que não conseguiu atender, o que levou o presidente da distrital a enviar outra mensagem pelas 11h08: “Ligaste?”. Porém, João Afonso só responderia às 14h53, ou seja, minutos antes de entrar para a reunião da Comissão Política do Montijo, para reforçar o que já havia transmitido pela manhã. “Paulo, a minha decisão está tomada. Abraço.”
Paulo Ribeiro ainda enviou mais duas mensagens a João Afonso. “Paciência. Isto de achares que és o centro do mundo e todos terem que fazer o que tu queres tem os seus limites”, disparou o líder da distrital pelas 14h59. E seis minutos depois juntou: “Entregas a Câmara ao [Ilídio] Massacote”.
As explicações de Paulo Ribeiro aos militantes do Montijo
No comunicado dirigido aos militantes, Paulo Ribeiro afirma que “nunca existiu nenhum pedido” por parte da estrutura distrital nem da Comissão Política Nacional “para que João Afonso se retractasse de declarações que fez sobre a senhora ministra da Saúde”. Existiu “tão-somente um pedido de ponderação, pois não é normal nem desejável ser um candidato do PSD a apelar publicamente à demissão de uma ministra de um Governo liderado pelo PSD, sem procurar esclarecimentos prévios internos sobre eventuais questões que o preocupassem e/ou com os quais discordasse”.
“O nome do militante João Afonso não foi efectivamente aprovado pela estrutura nacional na reunião da Comissão Política Nacional do PSD no dia 11 de Fevereiro, uma vez que não faria sentido aprovar um candidato no mesmo dia em que este pedia a demissão de um membro do Governo. Caso isso tivesse ocorrido só iria contribuir para o enfraquecimento da ministra da Saúde e, em última instância, do Governo e do primeiro-ministro”, lê-se na missiva.
No mesmo comunicado, Paulo Ribeiro responsabiliza apenas o montijense pela saída da corrida à Câmara nas próximas autárquicas. “As razões da desistência do militante João Afonso são da sua exclusiva responsabilidade, não decorrendo de qualquer pedido de retractação, que nunca existiu”, garante.
Contudo, João Afonso tem versão contrária e mantém que, através da distrital, Luís Montenegro fez saber que deveria retractar-se, sob pena de o PSD ter de apresentar um outro candidato para o Montijo.
“Lamentamos que a desistência do militante em causa não tenha sido comunicada pelos canais institucionais adequados, mas sim através dos órgãos de Comunicação Social, ainda para mais com a invocação de factos absolutamente falsos”, critica ainda o líder distrital do PSD, no esclarecimento enviado aos militantes.
Nas últimas eleições, a candidatura da coligação PSD/CDS/Aliança, encabeçada por João Afonso, ficou a 351 votos de ganhar a Câmara do Montijo. O executivo municipal é composto por três elementos do PS, dois eleitos pela coligação PSD/CDS/Aliança e outros dois eleitos pela CDU.
Autárquicas Aproximação falhada a Caria e Pedro Vieira entre as alternativas
Paulo Ribeiro tentou uma aproximação à candidatura de Fernando Caria horas depois de ter sido conhecida a decisão de João Afonso renunciar à candidatura à Câmara Municipal do Montijo. O SETUBALENSE sabe que existiram conversações entre as partes, por solicitação dos social-democratas, no sentido de se averiguar a possibilidade de o PSD poder vir a declarar apoio à candidatura independente encabeçada pelo actual presidente da Junta de Montijo/Afonsoeiro, que se desvinculou recentemente do PS. Porém, não houve “fumo branco”, desde logo porque, apurou O SETUBALENSE, Fernando Caria não se mostrou disponível para aceitar as condições apresentadas pelos social-democratas.
Entretanto, o PSD já começou a trabalhar na apresentação de um novo candidato ao Montijo e, ao que O SETUBALENSE conseguiu ainda apurar, o ex-vereador e actual membro da Assembleia Municipal do Montijo eleito pelo PSD, Pedro Vieira – que, em simultâneo, preside à Mesa da Assembleia da Secção do Montijo dos social-democratas –, é um dos nomes que o partido tem em cima da mesa, para lançar como cabeça-de-lista.
