Presidentes de câmara de Barreiro, Moita, Alcochete e Montijo criticam opção anunciada pela ministra. Deputados de PSD e PCP também querem explicações
Os presidentes de câmara de Barreiro, Moita, Alcochete e Montijo preparam-se para tomar uma posição conjunta sobre a possibilidade de encerramento da maternidade no Hospital do Barreiro.
Isto, depois de no passado dia 31 a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, ter anunciado que o Governo vai estudar a proposta de um grupo de peritos para a criação de um centro materno-infantil na península de Setúbal e de integração do Hospital do Barreiro e do Hospital Garcia de Orta (Almada) num regime de urgência metropolitana.
A posição dos autarcas socialistas Frederico Rosa, Carlos Albino, Fernando Pinto e Maria Clara Silva deverá ser tornada pública nas próximas horas.
Carlos Albino, presidente da autarquia da Moita, disse ontem que, a concretizar-se, a situação “será muito prejudicial para as populações” do arco ribeirinho. “A pouco e pouco vão retirando capacidades a este hospital, afastando cada vez mais os cuidados de saúde das pessoas. E isso é algo que a Câmara da Moita e os seus autarcas não podem aceitar”, frisou o líder do executivo municipal da Moita.
Já Maria Clara Silva, presidente da Câmara do Montijo, faz notar que um eventual encerramento definitivo da maternidade “é incompreensível e totalmente inaceitável”.
“Esta decisão vem prejudicar profundamente a prestação de cuidados de saúde materno-infantis nos concelhos do arco ribeirinho e revela falta de visão estratégica relativamente às necessidades da península de Setúbal. Por outro lado, o Governo do PSD e do CDS está em contradição com a posição política que o PSD assumiu quando estava na oposição e se manifestou contra um mero estudo que levantava essa possibilidade”, considerou a autarca montijense. “Enquanto presidente da Câmara e junto com os outros autarcas dos municípios atingidos por esta medida não vamos deixar de exigir que ela seja reavaliada e de reivindicar alternativas ao encerramento. Em suma, não vamos deixar de reivindicar, para a nossa população, bons cuidados de saúde materno-infantis e de defender o Serviço Nacional de Saúde”, afirmou.
Discurso idêntico foi adoptado por Fernando Pinto, presidente da Câmara de Alcochete. “Não sejamos hipócritas, o que diziam quando estavam na oposição aqueles que hoje estão no Governo sobre esta matéria da Saúde? Encerrar a maternidade é penalizar as populações desta região. Impõe-se erguer a nossa voz pela maternidade”, atirou, para frisar de seguida: “Acresce que os partos têm vindo a aumentar no Barreiro.”
No entender do edil alcochetano, o que o Governo está a preconizar para a Unidade Local de Saúde do Arco Ribeirinho (ULSAR) “é completamente antagónico àquilo para que as autarquias trabalham”. Fernando Pinto referia-se à proximidade de serviços, a qual, caso venha a confirmar-se o encerramento da maternidade no Barreiro, é colocada em causa na região.
Na passada sexta-feira, mas em declarações à agência Lusa, Frederico Rosa já havia antecipado que os autarcas socialistas vão pedir uma audiência com carácter de urgência à ministra, com o objectivo de verem esclarecidas quais as reais medidas de fundo que estão a ser pensadas para o território, já que consideram que o foco principal deve ser a prestação de melhores cuidados de saúde.
“Enquanto não se tomarem medidas de fundo, que passam muito pela valorização das carreiras e pela capacidade de atrair, mas acima de tudo, de reter os profissionais no Serviço Nacional de Saúde, andamos de tempos a tempos a falar sobre estas questões”, disse o autarca barreirense.
Deputados surpreendidos
A indignação, porém, não se confinou aos autarcas. Muito menos apenas a socialistas. Os deputados do PSD eleitos à Assembleia da República pelo círculo de Setúbal, tal como o grupo parlamentar do PCP, também reagiram.
Os social-democratas pediram logo na sexta-feira passada uma reunião urgente à ministra da Saúde, defendendo que o encerramento da maternidade “não pode ser solução”. Em comunicado, os parlamentares do PSD admitiram que foram “apanhados de surpresa” com a possibilidade, baseada num estudo técnico.
“É por todos sabido que a herança socialista na área da saúde é pesada, e que nos últimos oito anos se foram perdendo muitos profissionais de saúde da área de ginecologia-obstetrícia (…). A situação não é fácil de resolver, mas encerrar definitivamente uma maternidade que é a segunda maior do distrito em nascimentos, e num dos maiores distritos do País, não pode ser solução”, assumiram.
Os deputados Bruno Vitorino, Teresa Morais, Sónia dos Reis e Paulo Edson Cunha sublinharam que “o PSD sempre se opôs a essa possibilidade”, ao mesmo tempo que lamentaram “a forma alarmista como a notícia foi tornada pública”.
Já o PCP pediu, na segunda-feira, através de requerimento assinado pela deputada Paula Santos, uma audição parlamentar urgente da ministra da Saúde, por considerar a opção de encerramento “prejudicial para os utentes dos concelhos de Alcochete, Barreiro, Moita e Montijo, em especial para as mulheres grávidas e respectivas famílias, que ficam sem o serviço de urgência na sua área de residência”.
Os comunistas frisam, a concluir, que “não foram adoptadas as soluções necessárias para resolver o problema da carência de profissionais de saúde para assegurar o adequado funcionamento dos serviços públicos de saúde” e que o encerramento da maternidade “não é solução e configura um retrocesso no acesso à saúde”. Com Lusa
Protesto Utentes vão marchar pelo direito à saúde no dia 22
Quem também saiu a terreiro, para repudiar a possibilidade de a urgência de obstetrícia encerrar no hospital da cidade, foi a Comissão de Utentes dos Serviços Públicos do Barreiro. Para os utentes a medida é “lamentável”. E, nesse âmbito, já está agendada uma acção de luta: para o próximo dia 22 está marcada uma marcha “pelo direito à saúde”, desde a estação da Baixa da Banheira até ao Hospital do Barreiro.
A situação mereceu também, logo na sexta-feira, fortes reparos. Até porque, os problemas com as urgências de obstetrícia não são de agora. “Já quando há dois anos foi colocada a questão da rotatividade entre as três maternidades [Almada, Barreiro e Setúbal], discordámos da medida”, lembrou, em declarações à agência Lusa, Antonieta Bodziony, da comissão de utentes do Barreiro. Desta forma, adiantou, o Hospital do Barreiro está a ser transformado num centro de saúde para colmatar o que falta nos centros de saúde do concelho no horário das 9h às 17 horas. “Isto é um retrocesso. Lembro que ainda recentemente saiu uma notícia a indicar que a mortalidade infantil na península de Setúbal é superior à média nacional. Isto é grave, alguma coisa se está a passar”, finalizou.