Desde que em Dezembro de 2020 assumiu a presidência do Vitória, Carlos Silva, que lidera desde finais do passado mês de Novembro a Comissão de Gestão do clube, experienciou, tal como todos aqueles que gostam do clube, vários momentos difíceis, entre eles a descida administrativa da equipa de futebol aos distritais. O SETUBALENSE questionou o dirigente sobre esse revés e também sobre algumas das decisões difíceis que foram tomadas, nomeadamente a extinção da equipa sénior de andebol e o fim do projecto do futebol feminino.
Em termos desportivos, a descida da equipa principal de futebol do Campeonato de Portugal à 2.ª divisão distrital foi o momento mais difícil que viveu na presidência do clube?
Sem dúvida alguma, foi o momento mais desafiante da minha gestão. As consequências desta decisão foram devastadoras para o clube, os jogadores, os funcionários e, acima de tudo, para os nossos apaixonados adeptos. É importante que todos compreendam o contexto desta situação. Durante anos, o Vitória acumulou dívidas significativas, resultado de gestões anteriores que não foram devidamente responsabilizadas. Ao assumir a presidência, comprometi-me a colocar a casa em ordem e a honrar os compromissos do clube. No entanto, a penalização desportiva que sofremos por cumprir as nossas obrigações é, no mínimo, injusta. É como se o incumprimento fosse recompensado e o cumprimento fosse punido. Apesar deste momento difícil, o Vitória continua de pé graças ao empenho de todos os que amam este clube. Acreditamos que, com trabalho, dedicação e o apoio dos nossos adeptos, conseguiremos superar este desafio e levar o Vitória de volta ao lugar que merece.
No passado esteve ligado ao andebol, o que sentiu ao extinguir a equipa sénior da modalidade?
Causou grande pesar. Tenho uma ligação profunda a esta modalidade e reconheço o valor histórico e desportivo que representa para o nosso clube e para a nossa cidade. É importante esclarecer que a responsabilidade por esta situação não reside no Vitória FC. O clube manifestou formalmente à Federação Portuguesa de Andebol a sua intenção de continuar a participar na competição. No entanto, devido a questões relacionadas com o decurso do Processo de Insolvência e Recuperação Empresas (PIRE) em que o clube se encontrava, a Federação decidiu, de forma unilateral, não permitir a nossa participação. A Administradora Judicial de Insolvência comunicou à Federação, de forma clara e inequívoca, as dificuldades que o clube enfrentava devido ao PIRE e a impossibilidade de elaborar um plano prestacionai nos moldes exigidos pela Federação. Apesar desta comunicação, a Federação manteve a sua posição, impedindo assim que o Vitória pudesse competir na 1.ª divisão. Em outro momento, pretendo apresentar uma explicação mais detalhada sobre este assunto, com base em toda a documentação pertinente. A minha intenção é garantir que a verdade seja conhecida e que a responsabilidade por esta situação seja atribuída a quem de direito. Acredito que a paixão dos adeptos pelo andebol e a história desta modalidade no Vitória merecem todo o respeito.
No seu mandato foi criada a equipa de futebol feminino, projecto que também chegou ao fim. Era inevitável esse desfecho?
A criação da equipa feminina de futebol foi, sem dúvida, um marco histórico para o Vitória FC. Foi um projecto ambicioso, que trouxe muita alegria e esperança a todos os que amam o futebol e, em particular, o futebol feminino. Mas só possível com o apoio financeiro do investidor. Infelizmente, a manutenção deste projecto revelou-se insustentável nas actuais condições financeiras do clube. A ausência de um apoio financeiro tão significativo como o que tivemos no passado tornou insustentável a continuidade desta equipa. Convém esclarecer, ainda que retrospetivamente, e não o fizemos no momento para preservar o bom ambiente, que a descida de divisão da equipa feminina não se deveu a qualquer omissão do Vitória, mas sim a uma falha da AFFS. É importante realçar que a decisão de encerrar o projeto foi tomada após uma análise profunda e ponderada de todas as alternativas. A nossa prioridade continua a ser a sustentabilidade financeira do clube a longo prazo, e infelizmente, neste momento, não conseguimos conciliar este objectivo com a manutenção da equipa feminina. Contudo, acreditamos que o legado deixado pela equipa feminina será duradouro. As atletas que por aqui passaram, os adeptos que as apoiaram e todos aqueles que contribuíram para este projecto fizeram história no Vitória. Esperamos que, no futuro, possamos retomar este projecto com as condições financeiras adequadas.