Ministra ignorou todos os pedidos de reunião dos presidentes de câmara de Palmela, Setúbal e Sesimbra. Autarcas vão “plantar-se” à entrada do edifício
O aviso já tinha sido deixado no início de Outubro passado por André Martins, Álvaro Balseiro Amaro e Francisco Jesus, que presidem respectivamente às câmaras de Setúbal, Palmela e Sesimbra, na sequência de uma reunião do Fórum Intermunicipal da Saúde. Agora, só faltará acertar a data. Dentro em breve, quando a ministra Ana Paula Martins chegar ao Ministério da Saúde vai deparar-se com a presença dos três autarcas à porta do edifício.
“A paciência esgotou-se. Estamos zangados. Desde Outubro que aguardamos por uma simples resposta da senhora ministra da Saúde ao nosso pedido de reunião com carácter de urgência. Temos recebido silêncio absoluto. São várias chamadas telefónicas, pedidos por escrito… todas as nossas tentativas têm sido absolutamente ignoradas. É vergonhoso”, disse Álvaro Amaro a O SETUBALENSE, indignado com o comportamento da governante.
“Estamos seriamente a pensar levar por diante uma investida para que a senhora ministra se digne a marcar a reunião. Iremos para a porta do Ministério da Saúde. Não é admissível que continuemos sem resposta. Até parece que não têm tempo para debater aquilo que são questões sérias”, afirmou o presidente da Câmara Municipal de Palmela, ao mesmo tempo que acentuou as críticas à ministra. “Quem representa as instituições não é respeitado. Os presidentes de câmara são os representantes dos territórios.”
Em causa está a cada vez mais deficiente capacidade de resposta proporcionada pelo Centro Hospitalar de Setúbal e pelas unidades de cuidados de saúde primários nos territórios da Arrábida – com débil funcionamento de vários serviços e a falta de profissionais de saúde –, que os três autarcas pretendem discutir com a governante, no sentido de serem encontradas soluções capazes, já que aquilo que tem sido anunciado pela tutela não convence e muito menos resolve.
“Os problemas persistem e pretendemos debater as medidas anunciadas avulso, que são uma mão cheia de nada”, considerou o edil de Palmela, sem deixar de reforçar o agravamento da situação.
“Estamos cada vez mais preocupados com a capacidade de resposta dos serviços de saúde nestes territórios da Arrábida. Isto está cada vez mais grave.”
À indignação pela falta de resposta da ministra até ao momento, Álvaro Amaro junta ainda incredulidade por começar a sentir a existência de algum conformismo com a evolução negativa da capacidade de resposta dos serviços de saúde. “Parece que a anormalidade tornou-se normalidade, quando assistimos ao débil funcionamento dos serviços de saúde nestes territórios. Ou seja, o mau funcionamento do Centro Hospitalar de Setúbal e das demais unidades de saúde no território da Arrábida não pode ser tomado como normal, por vir a acontecer há demasiado tempo. Não pode ser! Temos de ver que medidas podem, de facto, ser tomadas com eficácia”, concluiu.
Número de utentes sem médico de família continua a crescer
De acordo com as conclusões apresentadas pelos três autarcas, no âmbito da reunião do Fórum Intermunicipal da Saúde, o número de utentes sem médico de família nos três concelhos aumentou para um total de 75 654, desde que foi implementado pelo Governo o Plano de Emergência e Transformação da Saúde. Um aumento de 17,6 por cento, traduzido em mais 13 325 utentes sem médico de família em relação ao ano passado. O que, disse então André Martins, reflecte a falta de cerca de 40 a 50 médicos nos cuidados de saúde primários.
E no que concerne aos cuidados hospitalares o cenário não difere. A situação piorou face a 2023, juntou André Martins, ao lembrar o regime de encerramentos rotativos dos serviços de urgência de obstetrícia e pediatria na península de Setúbal, implementado pela tutela sem aviso prévio aos municípios.
E Francisco Jesus foi mais longe, ao considerar que no Centro Hospitalar de Setúbal a situação continua a ser “caótica”, apesar de ter havido mudança de Governo.
Coube a Álvaro Amaro anunciar, então, a necessidade de ser marcada uma reunião urgente com a ministra da Saúde, Ana Paula Martins. O edil de Palmela antecipou logo naquela altura que pudessem existir dificuldades em os autarcas conseguirem uma audiência a breve trecho com a governante e avisou que, caso fosse necessário, voltariam a “acampar” à porta do ministério, tal como fizeram em Dezembro de 2022 para serem ouvidos pelo ministro de então Manuel Pizarro.