27 Abril 2024, Sábado
- PUB -
InícioOpiniãoUm Príncipe Italiano na Aldeia Galega do Ribatejo

Um Príncipe Italiano na Aldeia Galega do Ribatejo

No dia 19 de Janeiro de 1669, o príncipe herdeiro Cosme de Médici (1642-1723), futuro Cosme III de Médici, Grão Duque da Toscânia, chega a Aldeia Galega do Ribatejo, com uma comitiva de cerca de 40 pessoas. Entre elas, encontravam-se Pier Maria Baldi, pintor florentino, Lorenzo Magaloti, cronista oficial desta viagem, e o Marquês Filipo Corsini, autor de uma outra relação da viagem.

- PUB -


Na sua peregrinação a Santiago de Compostela, Cosme de Médici empreende uma viagem por Espanha e Portugal, com início em Florença, no dia 18 de Setembro de 1668, e que só iria terminar, na Corunha a 19 de Março de 1669. No seu percurso pelo nosso país, entra por Campo Maior, no dia 9 de Janeiro, e passa por Elvas (10/1), Vila Viçosa (11-13/1), Estremoz (13/1), Évora (14-15/1), Montemor-o-Novo (16/1), Landeira (17/1), Setúbal (18/1), Aldeia Galega (19/1), Lisboa (20/1-17/2), Vila Franca de Xira (18/2), Cartaxo e Santarém (19/2), Golegã e Tomar (20/2), Ansião (21/2), Coimbra (22-23/2), Mealhada (24/2), Grijó (25/2), Porto (26/2), Moreira e S. Pedro de Rates (27/2), Viana (28/2) e Caminha (28/2-1/3).
Ao longo deste percurso, Baldi desenha em 34 pranchas, a cinza ou a sépia, os locais onde a comitiva parou, no nosso país. Foi o caso de Aldeia Galega do Ribatejo, representada num dos desenhos de Pier Maria Baldi, o desenho nº 52, a mais antiga representação da actual cidade do Montijo, e hoje conservada, juntamente como os demais desenhos na Biblioteca Medicea Laurenziana de Florença (Med. Palat, 123 (1) disegno nº 52) – a Câmara Municipal de Montijo é detentora, desde o ano de 2000, de uma reprodução fotográfica de qualidade, requisitada a esta mesma Biblioteca de Florença, e existente no Arquivo Municipal do Montijo.
Este desenho, decorrente da viagem do príncipe florentino pelo nosso país, é já do conhecimento de todos nós e deixo para outra ocasião mais considerações. Hoje, gostaria de trazer ao vosso conhecimento as apreciações sobre Aldeia Galega, feitas em duas relações escritas sobre esta viagem, por outros tantos participantes: a “Relação Oficial da Viagem”, escrita por Lorenzo Magalotti (texto que se encontra junto aos desenhos de Baldi, na Biblioteca Medicea Laurenziana de Florença, com a cota de Med. Palat. 123); e os diários atribuídos ao Marquês Filipo Corsini, conhecidos por “Manuscrito Corsini”.
Seguimos a edição publicada em Madrid, em 1933, da responsabilidade de Angel Sánchez Rivero e Ângela Sánchez-Rivero, sob o título “Viaje de Cosme de Médicis por Espana y Portugal”, e onde estes textos são publicados, juntamente com os desenhos de Baldi.
Diz-nos o cronista oficial desta viagem, Lorenzo Magalotti, sobre a passagem de Cosme de Médici por Aldeia Galega do Ribatejo, no dia 19 de Janeiro de 1669:
“Dopo desinare partí il Principe Serenissimo per Aldea Gallega poverissima terra sua la sponda sinistra del Tago, di dove è l’ordinario traghetto per Lisbona; […] Da Setubal a Aldea Gallega 4 leghe di cammino per campagna piana, arenosa, vestita di macchia bassa e com frequentissimi pini“. (Viaje de Cosme de Médicis por Espana y Portugal (1668-1669), Madrid, 1933, p. 263-264).
Numa tradução literal, pode-se ler: “Depois do almoço partiu o Príncipe Sereníssimo para Aldea Gallega, terra muito pobre na margem esquerda do Tejo, onde está a passagem habitual para Lisboa […] De Setubal a Aldea Gallega 4 léguas a pé por campo plano, arenoso, com mato baixo e pinheiros frequentes”.
No “Manuscrito Corsini”, Aldeia Galega é referida assim: “Questo luogo é composto di circa 100 fuochi, da povera gente abitato, e la maggior parte Pescatori, per lo che e per esser giunti all’improvviso com poca comoditá ivi si stette…” (Idem, Ibidem, p. 264).
Tentando traduzir literalmente: “Este lugar é composto por cerca de 100 fogos, habitado por pessoas pobres, e a maioria deles pescadores, e pela pouca comodidade, não nos demorámos”.
Certamente, para quem vinha de Florença, como era o caso destes cronistas, Aldeia Galega do Ribatejo, uma povoação, na altura, com 430 habitantes, e onde apenas se deslocaram por ser ponto de “passagem habitual para a Lisboa”, nas palavras de um deles, nada tinha para seu deslumbramento.
A nós, impressionou-nos favoravelmente ter sido lugar de passagem de tão nobre comitiva e ter sido privilegiada com um dos 34 desenhos de Baldi de povoações portuguesas (apenas duas da margem sul do Tejo – Setúbal e Aldeia Galega).

- PUB -

Mais populares

Cavalos soltam-se e provocam a morte de participante na Romaria entre Moita e Viana do Alentejo [corrigida]

Vítima ainda foi transportada no helicóptero do INEM, mas acabou por não resistir aos ferimentos sofridos na cabeça

Árvore da Liberdade nasce no Largo José Afonso para evocar 50 anos de Abril

Peça de Ricardo Crista tem tronco de aço corten, seis metros de altura e cerca de uma tonelada e meia de peso

Homem de 48 anos morre enquanto trabalhava em Praias do Sado

Trabalhador da Transgrua estava a reparar um telhado na empresa Ascenzo Agro quando caiu de uma altura de 12 metros
- PUB -