“O que sabemos, por portas e travessas, é que a aquisição está a ser negociada”, disse Inês de Medeiros
O comboio turístico Transpraia pode voltar a percorrer a beira atlântica entre a Costa da Caparica e a Fonte da Telha no próximo ano Verão. Uma possibilidade que foi recentemente noticiada, mas sobre a qual a Câmara de Almada não tem conhecimento formal.
“Tudo o que sabemos é de uma série de notícias que têm saído em diversos órgãos de comunicação”, afirmou a presidente da Câmara de Almada, Inês de Medeiros, na reunião de câmara de 7 de Outubro, sobre este assunto que tem vindo a ser comentado.
Ainda no início deste mês, o investidor francês Gregory Bernard, que passou a ser o novo proprietário do Transpraia, manifestou ao jornal Expresso que gostaria que este comboio voltasse a funcionar já em 2025, mas isso “depende de investimentos na sua reabilitação e obtenção de licenças camarárias”, disse.
Voltar a ver o Transpraia a percorrer a faixa de nove quilómetros de praias entre a Costa da Caparica e a Fonte da Telha é também a vontade de Inês de Medeiros, inclusivamente, “a Câmara de Almada, ainda no mandato anterior, tentou negociar com o privado a aquisição do Transpraia. O que sabemos agora, por portas e travessas, é que a aquisição está a ser negociada, há mais de um ano, portanto para nós não é surpresa”.
Fazendo questão de afirmar que a autarquia “não se vai imiscuir neste negócio entre privados”, a autarca deu nota de que, “até à data, não chegou nenhuma proposta para autorização de retoma de licença” para que este transporte volte a operar.
O percurso do Transpraia está previsto no Plano de Ordenamento da Orla Costeira Sintra-Sado, mas para voltar a funcionar, tem de ser observado pelas entidades competentes que decidem sobre zonas naturais sensíveis, neste caso, “tem de passar pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo”.
Na mesma reunião, a autarca comentou que tem ouvido comentários de que a Câmara de Almada deveria tomar medidas para que este comboio volte a operar, e explicou que “a Câmara não se opõe em nada sobre isto, nem tem nada para aprovar sobre este negócio”, e voltou a afirmar: “O que sabemos é que o Transpraia foi vendido a uma empresa”.
Contudo, Inês de Medeiros garante que a autarquia está a trabalhar no âmbito da requalificação e adaptação ao Plano de Ordenamento da Orla Costeira Sintra-Sado para a possibilidade reposição do Transpraia e, “sobretudo, para que este volte à zona urbana, foi isso que, de alguma forma, determinou as suas dificuldades”.
O facto é que o Polis que começou a ser implementado em 2007 Costa da Caparica, atirou com este comboio icónico, inaugurado a 29 de Junho de 1960, para longe do centro urbano e o número de passageiro que antes lotavam este transporte, caiu a pique. O proprietário, António Pinto da Silva, ainda conseguiu manter a operação durante vários anos, mas com a pandemia, em 2020, o comboio parou de vez e recolheu às oficinas na Praia da Riviera.
Em 2021, depois da socialista Inês de Medeiros ter vencido as autárquicas, assumiu que a Câmara de Almada iria modernizar e ampliar o Transpraia, e disse mesmo que este deveria expandir-se até à Trafaria.
Na segunda-feira, a presidente da Câmara de Almada falou de um “interface que permita a ligação entre o Transpraia e o futuro Metro Sul do Tejo na Costa da Caparica”. A autarca falou ainda na construção de outros interfaces a serem construídos em locais onde as pessoas “possam deixar o carro”, e acrescentou: “Acreditamos que a vantagem do Transpraia é as pessoas não levarem o carro até às praias a sul”.
“É nisto que estamos a trabalhar, é nisso que continuamos empenhados. Não nos intrometem em negócios privados e, até à data, não deu entrada qualquer proposta de obra naquela zona, quando isso acontecer deverá depois seguir para as entidades competentes que vão além Câmara Municipal. E como aquela é uma zona de Reserva Ecológica Nacional o processo tem de ser acompanhado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo”, reforçou Inês de Medeiros.
O Transpraia sempre funcionou a diesel mas Gregory Bernard que o comprou à família António Pinto da Silva, quer que este passe a mover-se com uso de energias limpas e já disse estar a trabalhar na transição para energias verdes, com a Universidade Nova, para criar uma solução eléctrica.