Obra inclui poema “Testamento”, onde o poeta setubalense sugere ser enterrado na Serra da Arrábida
“O Inquieto Verbo do Mar” é o título do volume que reúne a obra poética de Sebastião da Gama (1924-1952), que inclui mais de 250 inéditos. Publicado pela editora Assírio & Alvim e disponível nas livrarias desde esta quinta-feira, este livro inclui o poema “Testamento”, onde o poeta sugere ser enterrado na Serra da Arrábida.
Esta obra inclui dispersos e uma detalhada cronologia sobre o poeta setubalense, quer sobre o seu percurso, quer reunindo diversas iniciativas relacionadas com o autor após a sua morte, como publicações de poesia sua noutras línguas, a construção, em 2020, em Setúbal, da Rotunda dos Lápis, que inclui um lápis com o nome de Sebastião da Gama, e a publicação de “Sebastião, o Menino que Nasceu Poeta”, de Idalina Veríssimo.
Sebastião da Gama no poema “Testamento”, inédito agora publicado, sugere ser enterrado na Serra da Arrábida, rodeado de alecrim e rosmaninho, com um letreiro feito de conchas onde se lesse: “Aqui dorme seu sono derradeiro/ um doido que viveu a versejar/ a Arrábida, a Mulher, a Lua, o Mar”.
O investigador João Reis Ribeiro, autor, entre outras obras, de “Histórias da Região de Setúbal e Arrábida” (2003), enfatiza no posfácio desta antologia que “a Arrábida se tornou, desde cedo, o espaço e o motivo poético de Sebastião da Gama”. A serra “está presente desde os seus versos mais recuados, assim tomando lugar de primazia nas imagens apresentadas” pelo poeta, escreve o investigador.
Para João Reis Ribeiro a temática ‘arrabidina’ faz parte da poesia de Sebastião da Gama desde cedo, ainda que “nem sempre referencie a serra nos versos”.
No posfácio desta obra, o investigador realça o conhecimento que Sebastião da Gama deve às suas origens e cita o poema “Nasci para ser ignorante”, gravado por Amália Rodrigues em 1990.
No entender de João Reis Ribeiro, na obra de Sebastião da Gama correm “o tom sério e o humor, os temas mais frequentes da literatura (como o amor, a morte, a alegria de viver, a espiritualidade, a contemplação, o espírito do local, o seu tempo, a [2.ª] Grande Guerra – de que foi contemporâneo -, entre outros) e o traçar de um caminho em que o lirismo se impõe”.
João Reis Ribeiro realça o poeta maior que foi Sebastião da Gama, que não aceitava convencionalismos poéticos.
“A nobreza da Poesia” está “nisso de se procurar e se encontrar em todos os lugares em que está; nisso de não se querer saber da convenção de uns temas poéticos, de outros apoéticos. Que a verdade é que não há temas poéticos e temas que o não são; nem há temas sequer: há sentimentos, há momentos, da alma e momentos da paisagem, há acontecimentos, há coisas – e há Poetas em face de tudo isso”, escreveu Sebastião da Gama para uma conferência que preparava, quando a morte se interpôs. Com LUSA