Denúncia chegou à JS nacional. Presidente da Comissão de Jurisdição diz que o caso não foi para a frente por a acusação ser anónima. No Secretariado Nacional há versão diferente. Líder da estrutura jovem local surpreendido
A Juventude Socialista (JS) da Moita, presidida por Rodrigo Nascimento, foi denunciada por, alegadamente, ter promovido a inscrição de jovens naquela estrutura partidária sob falsos pretextos. A queixa foi remetida para a JS nacional em 2023, mas até hoje não motivou quaisquer averiguações, o que divide opiniões entre elementos dos órgãos nacionais daquela estrutura política.
O caso, sabe O SETUBALENSE, tem por base uma denúncia anónima a dar conta de que responsáveis da JS da Moita terão, alegadamente, levado jovens a inscrever-se como militantes sob o pretexto de que estariam apenas a aderir a uma iniciativa desportiva – promovida através de uma colectividade local –, numa situação, ou de que, noutra situação, estariam a assinar somente uma “petição” para a despenalização do consumo de “cannabis”.
Ou seja, na denúncia é indicado que os jovens que aderiram à iniciativa desportiva – um torneio de futebol – ou à “luta” pela despenalização do consumo de “cannabis” acabaram por se tornar militantes da estrutura partidária jovem socialista da Moita sem o saber.
O SETUBALENSE conseguiu apurar junto de fonte conhecedora do processo que a denúncia foi acompanhada de “registos de áudio e vídeo, que tentam provar a actuação irregular de responsáveis da JS da Moita”.
Pedro Almeida, dirigente da JS nacional – que preside também à Federação Distrital de Setúbal da Juventude Socialista –, confirma a existência da denúncia e que o caso é do conhecimento do órgão jurisdicional da JS. “Sim, tenho conhecimento de que essa suspeita foi remetida à estrutura nacional e encaminhada ao órgão competente, que é a Comissão Nacional de Jurisdição da JS”, afirma o responsável socialista. “Certamente, estarão a tomar as diligências necessárias para prosseguir a investigação. Situações desta gravidade têm de ser sempre averiguadas pelos órgãos jurisdicionais”, adianta Pedro Almeida, que se escusa a tecer outras considerações sobre o caso, “em respeito pelo princípio da separação de poderes entre os órgãos”.
Mas, Duarte Brazão, presidente da Comissão Nacional de Jurisdição da JS, apresenta versão diferente. “A mim não me chegou nada formalmente, nem ao serviço da Comissão Nacional de Jurisdição. Não existe nenhum processo [de averiguações sobre a alegada actuação da JS da Moita]”, garante o responsável pelo órgão jurisdicional.
É a utilização do termo “formalmente” que faz toda a diferença. Até porque, Duarte Brazão admite que teve conhecimento da denúncia anónima feita chegar à JS “há um ano”. E o socialista até detalha que a queixa foi recebida na estrutura nacional através de “um envelope sem remetente”, que continha “uma ‘pen’ e uma carta”, mas cujo “conteúdo era anónimo”.
Segundo o presidente do órgão jurisdicional da JS, o caso acabou por morrer à nascença. “Nunca chegou a ir para a frente”, frisa, para justificar de seguida: “Uma queixa anónima não tem muita base para se levar as coisas para a frente”.
Rodrigo Nascimento rebate acusações
Rodrigo Nascimento, líder da JS da Moita, diz-se surpreendido com o caso. “Estou a saber disso agora pela primeira vez. Até ao momento, não fui nem ouvido nem informado de nada”, afiança, ao mesmo tempo que rebate a existência de práticas irregulares na JS da Moita, “É completamente falso. Não há nenhuma base de veracidade nessas acusações. Nego categoricamente. Essa denúncia é completamente infundada”, garante.
“Uma denúncia anónima tem a validade que merece ter. A partir do momento em que a pessoa ou as pessoas em causa decidem não dar a cara ou identificar-se, isso retira logo alguma legitimidade à denúncia em si”, considera o responsável socialista, que reforça: “A JS da Moita faz muitas actividades, faz torneios de futebol, basquetebol, de várias modalidades, eventos associados a causas solidárias, mas longe de se utilizarem essas actividades como artimanha para fazer militantes”.
“Estou de consciência tranquila, a estrutura está de consciência tranquila, sabemos que aquilo que fazemos é sempre de boa-fé e do mais ético possível”, junta, sem deixar de vincar que a JS da Moita não lançou nenhuma petição. E explica: “A legalização do consumo de ‘cannabis’ é uma das nossas maiores bandeiras. Falamos muitas vezes dessa legalização, inclusive quando nos dirigimos às escolas. Mas nunca existiu qualquer petição. Quando nos apresentamos, estamos sempre identificados. Não há espaço para a pessoa se confundir”.
Rodrigo Nascimento sublinha ainda que “é impossível” à JS da Moita falsificar militâncias. “Numa concelhia média [em número de militantes] como a nossa é impossível, porque as pessoas conhecem-se todas umas às outras”, argumenta. “Ainda está para nascer quem condene mais do que eu qualquer acção que vá contra os nossos valores éticos e os valores democráticos da nossa instituição”, atira o socialista, a concluir. A JS da Moita conta actualmente com mais de cem militantes.