Concelhia socialista acusa a autarca de denegrir camaradas do partido e apoiar as iniciativas do PCP. A vereadora garante ter sido sempre leal ao PS e desafia todos a consultarem as suas posições vertidas nas actas das reuniões de câmara. E garante que nunca denegriu ninguém
A Comissão Política Concelhia de Santiago do Cacém do PS retirou a confiança política à vereadora socialista Susana Pádua. O anúncio foi feito através de um comunicado publicado às primeiras horas da madrugada desta sexta-feira, na página que a estrutura local do partido administra no Facebook.
Este é mais um caso que vem acentuar a divisão interna existente no seio dos socialistas no município do litoral alentejano que é gerido pela CDU. É que em Junho passado o vereador Artur Ceia, que foi cabeça-de-lista pelo PS nas últimas autárquicas, renunciou ao mandato. E justificou a decisão com razões pessoais e políticas, sem deixar de apontar a existência de “divergências políticas” com o presidente da concelhia socialista de Santiago do Cacém, Rodrigo Charrua.
Agora a estrutura local do partido retirou a confiança política a Susana Pádua. “A partir de hoje [esta sexta-feira], todas as posições e votações assumidas pela senhora vereadora não mais representam ou vinculam o Partido Socialista. Desde que assumimos a presidência desta Comissão Política, temos procurado promover melhores e necessárias relações institucionais, para concertação da nossa acção política e jamais encontrámos, na senhora vereadora, qualquer disponibilidade para colaborar ou dialogar. Bem pelo contrário”, lê-se no comunicado emitido pela estrutura local do PS, no qual são tecidas duras críticas à autarca eleita pelo partido.
“A senhora vereadora votou favoravelmente o Orçamento e as Grandes Opções do Plano do PCP/CDU sem auscultar as estruturas partidárias que representam o PS no concelho de Santiago do Cacém, nunca compareceu em nenhuma das iniciativas por nós promovidas e prejudicou deliberadamente a capacidade de acção desta Comissão Política, através das suas posições na autarquia. Mais ainda, procurou denegrir internamente camaradas que exercem funções de liderança nas estruturas concelhias, numa espiral incontrolável de promoção da conflitualidade interna”, afirma o órgão local socialista, que acusa ainda Susana Pádua de estar alinhada com a maioria CDU.
“Salientamos, ainda, que se tem consolidado a ideia de que a vereadora do PS Susana Pádua tem mais interesse e disponibilidade em apoiar as iniciativas e ideias do Partido Comunista do que em exercer oposição de forma alinhada com as estruturas do Partido Socialista”, lê-se no documento.
A terminar, a estrutura local do PS garante que a retirada da confiança política à vereadora “foi uma decisão tomada de forma ponderada e reflectida” e que “visa encerrar o ciclo de degradação da imagem do PS perante a opinião pública”.
Susana Pádua refuta acusações
Em declarações a O SETUBALENSE, a vereadora Susana Pádua refuta todas as acusações, que garante não terem qualquer fundamento.
“Lamento toda a situação. Jamais pensei que o PS em Santiago do Cacém chegasse a este ponto, a este baixo nível. As acusações são completamente infundadas. Limitam-se a dizer que tenho determinado tipo de atitudes, mas tem de haver provas que o demonstrem e não existem. Nunca denegri ninguém. Tenho sempre valorizado o PS, as ideias e os ideais do partido. Sempre com lealdade”, defende a autarca, que diz ter sido apanhada de surpresa com a decisão tomada em reunião da Comissão Política esta quinta-feira e tornada pública ao início da madrugada de hoje.
Susana Pádua rebate a acusação de que possa estar mais disponível para apoiar as iniciativas e ideias do Partido Comunista e lança um desafio: “Analisem as actas das reuniões de câmara, nas quais estão bem patentes as minhas posições.” E, ao mesmo tempo, reforça: “Ainda ontem votei contra o IMI, o IRS e a Derrama [propostos pela maioria CDU]”.
Quanto ao voto favorável ao Orçamento Municipal e Grandes Opções do Plano apresentado pela gestão CDU, a vereadora explica: “Este ano, pela primeira vez, o PS não exerceu o direito de oposição. O PS não compareceu na reunião marcada pela maioria para apresentação de propostas. E não nos foi dada [aos vereadores] qualquer orientação pelo partido. Então, nós apresentámos um conjunto de propostas, de apoios aos bombeiros, às IPSS, a bolsas de estudo, entre outras. O executivo aceitou [integrá-las no Orçamento Municipal] e nós aprovámos o documento. Porque houve essa abertura da maioria CDU”.
Susana Pádua diz ainda que “o PS em Santiago do Cacém merecia mais elevação”. “Lamento que isto ande na praça pública”, atira a socialista, que afiança que irá levar o mandato até ao fim como vereadora independente.
O executivo municipal é constituído por quatro elementos da CDU, dois do PS e um da coligação PSD/CDS.