Com 24 anos, grávida e mãe de duas crianças, Arminda do Rosário foi apanhada de surpresa pela Revolução e a sua vida nunca mais foi a mesma
Surpreendentemente alheia aos acontecimentos do país, devido à falta de posses que a impediam de acompanhar notícias televisivas ou ouvir rádio, foi apanhada de surpresa ao ser abordada por um “agente” enquanto seguia a sua rotina habitual de visitar o sogro. A pergunta intrigante – “O que faz na rua? Não ouviu as notícias?” – revela a intrusão do novo cenário político na sua vida diária.
Escoltada até ao seu destino, viu-se envolvi da num mundo que mudava rapidamente. Há histórias que transcendem o tempo e nos lembram as complexidades de um passado recente. Arminda do Rosário, com 74 anos, tinha apenas 24, quando testemunhou a Revolução dos Cravos, que ecoou por Portugal em 25 de Abril de 1974.
Grávida e mãe de duas crianças, a sua vida mudaria de maneiras que jamais poderia ter imaginado. Com relatos detalhados, Arminda leva-nos para uma viagem de memórias e emoções, enquanto compartilha as suas experiências. O 25 de Abril, para Arminda, desencadeou uma montanha-russa de emoções, entre momentos de tristeza e alívio.
Testemunhou amigas a sofrer nas mãos da PIDE, vivenciando a força e o poder extremo do regime. A vizinhança tornou-se palco de cenas de violência, com pessoas a serem brutalmente agredidas em plena luz do dia, e outros a desaparecerem sem deixar rasto. Numa reviravolta peculiar, diz-se “a protegida”, graças ao seu progenitor, um suposto cozinheiro da PIDE. “Ter um pai do lado deles fez com que eu tivesse sempre sorte”, revela. No entanto, essa protecção não apaga as cicatrizes emocionais, pois partilha que “ele era mais do que um cozinheiro”. Toda a vizinhança desconfiava, “ninguém era parvo, só que ficavam calados, todos tinham medo dele, e com razão”.
Ao descrever a crise e a fome assustadoras da época, afirma não culpar o pai pelos eventos sombrios que se desenrolaram. No meio de uma sociedade marcada pela escassez e desespero, expressa gratidão pelos seus filhos nunca terem passado fome. “Felizmente, o meu pai trazia alimentos todos os fins de semana”, mas também partilha o peso de ter enfrentado uma dura relação com o seu progenitor. “Foi Ao recordar os tempos pós-revolução, Arminda destaca a luta pela sobrevivência, indo a pé até Palmela à procura de pão com os filhos ao colo, já que tudo estava fechado, pois era a única opção que tinha para “ter comida na mesa”.
Contrariando a expectativa de uma liberdade plena, enfatiza que o país ainda enfrentava dificuldades e desafios, questionando-se se a situação não teria piorado em comparação com o período anterior uma pessoa que me desejou a morte, mas não o culpo, a PIDE fez com que ele se tornasse numa pessoa má” [deixa escapar um suspiro].
Ao recordar os tempos pós-revolução, Arminda destaca a luta pela sobrevivência, indo a pé até Palmela à procura de pão com os filhos ao colo, já que tudo estava fechado, pois era a única opção que tinha para “ter comida na mesa”.
Contrariando a expectativa de uma liberdade plena, enfatiza que o país ainda enfrentava dificuldades e desafios, questionando-se se a situação não teria piorado em comparação com o período anterior.
*Estudante de Jornalismo da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal (ESE-IPS)
Jéssica Dias*
Mariana Simões*