9 Agosto 2024, Sexta-feira

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O regresso da velha senhora

O regresso da velha senhora

O regresso da velha senhora

, Doutor em Ciências da Educação
7 Agosto 2024, Quarta-feira
Doutor em Ciências da Educação

Dores Meira segue o percurso de outros dinossauros autárquicos que se profissionalizaram como presidentes de câmara e cujos percursos são verdadeiros casos de estudo. Que fenómeno é este que leva presidentes a criarem movimentos de eleitores que os seguem independentemente dos partidos que os apoiam? Mantive relações políticas autárquicas muito próximas com dois, ganharam por um partido, mudaram para outro, voltaram a ganhar, candidataram-se como independentes e voltaram a ganhar. Isaltino Morais é outro caso que todos conhecem, foi autarca modelo do PSD, entrou em rutura com o partido, foi julgado e condenado, cumpriu pena de prisão e voltou a ser presidente como independente e se voltar a candidatar-se pode muito bem ser reeleito.

O denominador comum é “ter obra”, mesmo que seja difícil classificar do que se trata, estamos muito no terreno das perceções, mas é possível afirmar que são pessoas que induzem nos eleitores uma ideia positiva de que são realizadoras, apesar de até poderem deixar dúvidas sobre a sua honestidade, como aconteceu, com ou sem razão, com Isaltino Morais.

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Claro que por vezes essa relação quebra-se e o eleitorado abandona-os, como aconteceu a um dos refiro acima, que depois de várias maiorias absolutas e relativas acabou humilhado; os tempos tinham mudado e a personalidade e o discurso estavam desajustados.

Dores Meira regressa com essa aura de realizadora intacta; quando cheguei a Setúbal impressionou-me a sua popularidade e o facto de gente nos antípodas do Partido Comunista votar nela, mas fui percebendo que era uma pessoa com características acima da generalidade dos políticos autárquicos, mais pragmática do que ideológica, realizadora e uma relações-públicas nata.

Este seu regresso encerra muitas interrogações e coloca enormes problemas ao seu ex partido e ao Partido Socialista. Sem grande dúvida é possível dizer que não se sabe quem vai ganhar as próximas autárquicas, mas é certo que o PCP vai perder a câmara e o PS terá muitas dificuldades em a conseguir conquistar.

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O PCP reagiu dando a entender que há interesses obscuros por detrás da candidatura e que o mérito das presidências de Dores Meira não foi dela, mas do coletivo. Naturalmente ninguém faz nada sozinho, mas sem bons líderes nenhuma organização se projeta, o coletivo é o mesmo e os resultados são bem diferentes.

O PS vem-se preparando para conquistar a câmara e sem Dores Meira a vitória parecia mais fácil, agora pode ser que a anterior presidente volte a arrastar muitos que sem esta alternativa votariam socialista e tudo fica mais difícil. Acresce que o PSD pode conseguir melhores resultados embalado pelos sucessos do Governo se o Orçamento do Estado passar, como tudo parece indicar.

Ainda é muito cedo para se perceber qual vai ser a estratégia e prioridades de cada partido, mas não é difícil perceber que o PS já tinha antecipado esta possibilidade, tentando descredibilizar o trabalho da CDU, não apenas neste mandato, mas nos anteriores, isto é, assestando baterias contra a herança de Dores Meira, como a campanha mais visível “Tem moedas para 40 anos?”, bem evidencia.

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Uma coisa fica agora mais clara, as eleições vão ser muito divididas e não vai ser fácil assegurar a governabilidade do município, sendo previsíveis acordos pós-eleitorais um pouco à semelhança do que se vai passando no país e nas regiões autónomas. O tempo das maiorias absolutas parece estar a ficar para trás, o que requer novas abordagens e propostas políticas mais consistentes e transformadoras.

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