Será que tudo mudou para ficar na mesma?

Será que tudo mudou para ficar na mesma?

Será que tudo mudou para ficar na mesma?

, Deputada da IL
1 Julho 2024, Segunda-feira

Com as eleições de março e após mudança de ciclo político, era expectável que o novo Governo, de imediato, anunciasse reformas estruturais na Saúde. Era conhecida a oposição do PSD, assim como da atual Ministra da Saúde, Ana Paula Martins, à organização do sistema de saúde em Unidades Locais de Saúde imposta por Fernando Araújo na Direção Executiva do SNS – até foi por isso que se demitiu da administração do Hospital de Santa Maria. Existiam dúvidas, também, sobre a continuidade da Direção Executiva do SNS, e, portanto, eram esperadas novidades sobre estes temas. Já se passaram quase três meses desde a tomada de posse e, ao contrário do que ocorreu nas áreas da Educação, das Infraestruturas e, até, da Justiça, nada de estrutural foi anunciado na Saúde. Embora a área da Saúde seja complexa e os interesses instalados sejam fortes, a sua importância não é comparativamente superior às outras. Então, por que é que, apesar das várias promessas feitas antes e durante a campanha eleitoral, ainda está tudo na mesma?

Antes de responder a esta pergunta, reconheço que foi apresentado um plano de emergência para o SNS, assente em cinco eixos (de forma simples, recuperação de listas de espera, maternidades, serviços de urgência, médicos de família e saúde mental), que está (ainda) a permitir o funcionamento dos serviços de urgência e o seu encerramento com previsibilidade e que começa a apresentar resultados na redução das listas de espera. Igualmente, reconheço que, não sendo uma negociação fácil pela concorrência do setor privado e da emigração, as negociações com os profissionais de saúde existem, continuam e parecem ser uma prioridade. No entanto, nada disto tem carácter estrutural. São medidas conjunturais e, mais cedo ou mais tarde, os seus efeitos irão terminar e os problemas mitigados irão regressar. Até a questão salarial dos médicos, caso a negociação seja bem sucedida, irá esgotar-se a prazo, em consequência da falta de condições de trabalho no SNS que continua por resolver.

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Tudo ia mudar, mas afinal ainda está tudo na mesma. Os problemas da governação socialista, com especial impacto no distrito de Setúbal, mantêm-se. Tudo ia mudar, mas as urgências de obstetrícia ou de pediatria de Almada, do Barreiro, ou de Setúbal continuam a encerrar. Claro que podem dizer que esses encerramentos são conjunturais e que resultam do recurso a horas extraordinárias obrigatórias estar a chegar ao fim. Podem dizer que o plano de emergência, na parte das urgências, ainda não está totalmente implementado. Podem dizer ainda que o Governo tem três meses. A tudo isso, digo que compreendo, mas há outro argumento que responde à questão que fiz anteriormente: nas políticas de Saúde, pouco ou nada distingue o PSD do PS. O PSD poderá ter menos pudor em recorrer ao setor privado e social, mas só o considera, também, de forma suplementar e apenas quando o SNS falha. No essencial, na manutenção do SNS, ou seja, do Estado, como prestador universal de cuidados de saúde, PSD e PS convergem.

Já o escrevi antes, o modelo atual está esgotado. E o PSD, ao manter o SNS focado na estrutura e não nas pessoas – dando-lhes liberdade para escolher o prestador de cuidados de saúde que mais lhes convém, seja público, privado ou social – restringe o acesso à Saúde. E esta é a mudança estrutural que a Saúde precisa e à qual PSD e PS são avessos.

Afinal, será que tudo mudou para ficar na mesma?

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