Formar a população para actuar em cenários de catástrofe é um dos principais enfoques da autarquia através programa “Setúbal Resiliência +, Os Dias da Segurança”
No âmbito dos 50 anos do sismo de 1969, amanhã (dia 1), pelas 17h00, é inaugurada no Centro Comercial Alegro, a exposição fotográfica e documental “Memórias do Sismo de 1969 – 28 de Fevereiro, a noite em que Portugal tremeu”, a qual pode ser visitada até 26 de Abril.
A assinalar os 50 anos do sismo de 1969, Carlos Rabaçal, vereador responsável pelo pelouro da Protecção Civil Municipal, destaca a importância de “prosseguir, com a realização de seminários, simulacros e diversas acções de sensibilização da população, para a necessidade de a mesma estar preparada para a ocorrência de um sismo”.
Contexto em que, durante o seminário “Memórias do sismo de 1969”, realizado hoje na Casa da Baía e organizado pela Câmara Municipal de Setúbal, o vereador lançou o desafio, “se perguntarmos numa sala quem tem kits de sobrevivência em casa, poucas pessoas respondem afirmativamente. Mas trata-se de uma medida muito importante”.
Deste modo, Carlos Rabaçal considera determinante recordar cenários como aquele que foi vivido durante o sismo de 1969, no sentido de criar uma consciência pública sobre a actuação em caso de sismo, não só para Protecção Civil, mas para toda a população. Uma vez que, embora considere a Protecção Civil “preparada com um grande poderio de prevenção para diversas ocorrências” é importante ter em conta que, “não é possível prever os sismos”.
Motivo pelo qual o vereador garante que, o município “procura preparar-se de forma muito intensa, para que as pessoas saibam o que fazer antes, durante e após um sismo”. Contudo, a prevenção dos sismos ainda é uma “questão central”, afirma o vereador. Uma vez que a Proteção Civil Municipal “está preparada com um grande poderio de prevenção para diversas ocorrências, mas não é possível prever os sismos, o que se torna assustador”.
O seminário terminou com a exibição do filme “Memórias do Sismo de 1969”, produzido pela Câmara Municipal de Setúbal. E um momento durante o qual foram ouvidos testemunhos de setubalenses sobre o sismo que assolou o país na madrugada de 28 de Fevereiro, assim como os danos causados em vários pontos da cidade, entre os quais a destruição parcial da Igreja de São Julião e um edifício da Rua Almeida Garrett, que ficou inclinado.
Especialistas debatem sinais de sismos e consequências
O seminário “Memória do Sismo de 1969” contou ainda com a intervenção de especialistas que indicaram os sinais sobre a possibilidade de ocorrência de sismos e quais seriam as consequências se hoje ocorresse um sismo com a mesma intensidade e escala de há 50 anos.
Em termos geológicos, a professora da Faculdade de Ciências de Lisboa, Susana Custódio, partilhou preocupações sobre as falhas existentes na Serra da Arrábida, pois são um exemplo de que, “o que já foi experienciado em Portugal é uma parte muito pequena daquilo que é o potencial do território nacional para gerar sismos”.
A investigadora do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, Ângela Santos, participou com uma resenha histórica da sismicidade no sul de Portugal, com especial destaque para o terramoto de 1 de Novembro de 1755, o sismo de maior magnitude da Europa desde que há registo, e para o sismo de 28 de Fevereiro de 1969.
A especialista defende que, “ainda há muito trabalho a fazer” no que diz respeito à preparação das pessoas para a ocorrência de um sismo e sublinha o “trabalho intenso” realizado pela Proteção Civil Municipal de Setúbal em matéria de prevenção.
A construção dos edifícios é, também um aspecto muito importante, pois, segundo o professor do Instituto Superior Técnico Mário Lopes, “não é a previsão de um sismo que impede os danos económicos, mas sim os edifícios resistirem aos sismos”.
Lisboa foi a primeira cidade na história da humanidade a ser construída para resistir aos sismos, com as políticas impostas por Marquês de Pombal após o terramoto de 1755, mas, “aos poucos, a construção pombalina deixou de se fazer e nos edifícios correntes nem sequer há fiscalização e cada um faz o que quer”, lamenta. Para além disso, o especialista refere que, “não há legislação que torne obrigatório o reforço sísmico dos edifícios em Portugal” e, “à exceção dos Açores, não há recomendações técnicas” para serem seguidas boas práticas.
O seminário “Memória do Sismo de 1969” prosseguiu com uma apresentação conduzida por Manuela Tomé, do Serviço Municipal de Proteção Civil e Bombeiros, sobre os locais em Setúbal onde ainda é possível observar danos provocados pelo sismo de 28 de Fevereiro de 1969.