Para o artigo de hoje não há título bonitinho – é bastante autoexplicativo e condensa bem uma ideia que seria de esperar que fosse consensual sobre políticas de educação: não se fecham escolas. E a Câmara Municipal de Almada não deve fechar a Escola Básica da Fonte Santa.
A comunidade da Fonte Santa foi surpreendida há poucos meses pela decisão unilateral do Executivo Municipal PS/PSD de fechar a Escola Básica e Jardim de Infância da Fonte Santa no final deste ano letivo. Porquê? Ninguém sabe realmente.
Sabemos é que pais, encarregados de educação, professores, não-docentes, ex-alunos e até a Diretora do Agrupamento de Escolas do Monte de Caparica se têm mobilizado incansavelmente às Assembleias Municipais e de Freguesia para manifestar o seu descontentamento com esta notícia.
Não se trata de um mero edifício com uma sala de aulas numa zona rural do concelho. É um centro de partilha que extravasa as horas curriculares e a matéria. Na Fonte Santa os pais não vão apenas deixar as crianças ao portão – eles fazem parte do processo de aprendizagem de acompanhamento das novas gerações, tecem laços de confiança com os profissionais da escola e fomentam dinâmicas de solidariedade com a população local numa zona com caraterísticas de vulnerabilidade social e económicas. Ora, é um pequeno exemplo da escola pública que queremos, integrada nos bairros, nas comunidades e nos territórios.
A política vigente dos mega-agrupamentos esmaga essa relação de intimidade e de personalidade, bloqueando um plano pedagógico mais interventivo e adaptado. Impor à Fonte Santa e à sua comunidade o modelo das grandes escolas é acabar com o seu potencial valioso de uma estratégia prática, de interajuda e de heterogeneidade, tão necessária hoje.
Tive a calorosa oportunidade de visitar a Fonte Santa e de ver crianças a brincar e a sujarem-se, ver mais velhos a ajudar os colegas mais novos, ver funcionários que conhecem as famílias, ver crianças imigradas a serem recebidas com carinho e apoio e ver desenhos entusiasmantes e uma sede de saber que não acaba. Os miúdos foram tão exemplares que quando a professora saiu da sala para nos mostrar a escola – ficando a auxiliar na sala com os alunos – não se ouviu um piu de barafunda. Quando voltámos à sala estava tudo na mesma: as crianças focadas na ficha com exercícios de ligações e de completar as frases, como se a professora nunca tivesse saído dali.
A Fonte Santa tem apresentado excelentes resultados pedagógicos, com crianças a demonstrar sensibilidades sociais, artísticas, cognitivas e afetivas impressionantes, onde as mais novas rapidamente conseguem acompanhar as mais velhas. Uma das educadoras contou-nos o caso de uma criança ucraniana e da sua mãe, que não tinham qualquer conhecimento de português antes de ali terem chegado, conseguiram num ano conquistar a barreira linguística e agora falam com os colegas e amigos com o maior à vontade. É neste ambiente de acolhimento, diversão, motivação e confiança que a Escola Pública se deveria inspirar mais.
Então, porquê é que a Câmara Municipal de Almada quer fechar a Escola? Sem grandes esclarecimentos, alega a Sra. Presidente Inês de Medeiros que se trata de uma questão de segurança das infraestruturas, especificamente um telhado. A questão da segurança é central nas escolas, obviamente, mas o problema é que até agora não foi apresentado pelo Executivo qualquer fundamento real acerca desta situação.
Há sim, como vimos durante a visita, necessidade de algumas intervenções, nomeadamente nas peças exterior – como o acesso às instalações sanitárias – e de resolver o problema de humidade na sala do 1º ciclo. Mas nada que justifique o encerramento total da escola. Se fosse o caso, estaria o Executivo Municipal PS/PSD a admitir que não cumpriu com a sua competência de intervir mais cedo, assim impedindo a tal situação de risco iminente?
Depois o argumento foi ao nível pedagógico, afirmando-se que é inadmissível haver quatro anos escolares em simultâneo. A verdade é que há múltiplas metodologias de ensino e elas devem procurar responder às necessidades dos alunos, e vários autores e práticas contemporâneas têm comprovado o potencial destas modalidades de ensino. E os resultados estão á vista na Fonte Santa – bem sabemos que o que, infelizmente, se valoriza neste país ao nível da pedagogia e do ensino, são os resultados, portanto, essa questão nem se coloca aqui.
O Bloco tem sido claro: precisamos de um relatório técnico que detalhe sobre o estado da infraestrutura da escola e precisamos de dirigir esta situação com base no diálogo. Diálogo com a comunidade escolar sobre o futuro da escola. O Executivo continua a demonstrar uma postura intransigente, recusando-se a ouvir as preocupações da comunidade e a contruir um plano de futuro em conjunto. E nós questionamos novamente: afinal, qual é o objetivo previsto pelo Executivo para a Fonte Santa?
A Educação não pode ser gerida numa perspetiva meramente economicista, refém da impotência da racionalidade obsessiva dos dirigentes políticos municipais. Queremos ser uma autarquia que abraça modelos pedagógicos que produzam resultados e que, sobretudo, propiciam uma formação das gerações futuras para o mundo aberto e para a cidadania.
Em suma, como no passado, não contam com o Bloco para fechar escolas e deixar as crianças para segundo plano. O Bloco está do lado de quem valoriza a Escola Pública e que não aceita o encerramento de um projeto que tanto de bom trouxe para a sua comunidade.