Hoje vamos falar de uma operação militar denominada Operação “Mar Verde”.
A referida acção militar foi decidida pelo governo de Marcello Caetano, planeada pelas Forças Armadas Portuguesas e realizada em Novembro de 1970, no território da Guiné-Conakry, decorrente da Guerra Colonial na Guiné-Bissau.
Foi concebida e executada pelo fuzileiro capitão-tenente Alpoim Galvão, responsável pelo Centro de Operações Especiais da Guiné-Bissau, com o apoio do brigadeiro António de Spínola que era o governador militar deste território.
Um grupo de soldados desembarcou furtivamente próximo da cidade de Conakry, sob a supervisão de oficiais portugueses. O objectivo era derrubar o governo de Sékou Touré, um dos principais aliados do PAIGC e raptar Amílcar Cabral.
A “Operação Mar Verde” decorreu num contexto mais amplo da guerra entre o regime colonial português e os movimentos de libertação africanos.
Em 1970, o PAIGC controlava quase dois terços do território da Guiné, mas começava a ceder militarmente, uma vez que Portugal tinha intensificado a sua ofensiva.
Para além disso, o plano consistia também em destruir as lanchas rápidas fornecidas pela União Soviética ao PAIGC e libertar vinte e seis prisioneiros de guerra portugueses que tinham sido capturados e que se encontravam na Guiné-Conakry.
E daí que, entre os dias 21 e 22 de Novembro, teve início a operação, com a infiltração via mar do contingente português, composto por cerca 400 fuzileiros que desembarcaram nos arredores de Conakry.
Segundo Mário Salgado, enfermeiro do exército, a referida operação teve o apoio de um contingente militar que se deslocou por terra, passando por Piche, perto de Pirada, próximo da fronteira da Guiné-Conakry, tendo também regressado por aí.
O primeiro alvo foi o quartel-general do PAIGC e as lanchas que foram logo destruídas. De seguida, foram atacados outros objectivos estratégicos tais como a central eléctrica e a prisão onde estavam os referidos prisioneiros portugueses.
A partir daqui, o grupo dividiu-se em dois; o primeiro grupo atacou e destruiu outras instalações do PAIGC e tentou raptar Amílcar Cabral que aí não se encontrava. Esse grupo retirou-se imediatamente via mar.
O segundo grupo, com cerca 200 militares, tentou promover a insurreição da população de Conakry contra o governo, convencidos que iria haver receptividade por parte da população local.
Tal não sucedeu, uma vez que os infiltrados não conseguiram transmitir as mensagens que pretendiam à população, a partir da estação de rádio que tinham, entretanto, ocupado, nem capturar oficiais importantes da defesa local.
Pelo contrário, foram rechaçados pelo exército Conakry e obrigados a retirar rapidamente, tendo sido capturados sessenta militares, entre os quais seis oficiais portugueses.
A Operação Mar Verde não conseguiu os seus objectivos.
Sekou Touré aproveitou de imediato para proceder a uma purga interna, com condenações à morte e assassínios que se estenderão até 1973, atingindo as mais importantes esferas do poder, nomeadamente membros do executivo.
A comunidade internacional reagiu de imediato, acusando Portugal de ter invadido militarmente um estado soberano e violado o direito de autodeterminação da Guiné-Bissau.
A condenação foi sancionada pela Resolução 290 do Conselho de Segurança da ONU, a 8 de Dezembro de 1970 e também por uma moção de rejeição por parte da Organização de Unidade Africana.
Por todo o lado ocorreram manifestações de apoio e solidariedade para com o PAIGC que se traduziu num reforço do armamento, para procurar reequilibrar as suas forças e também para desincentivar ulteriores tentativas de invasão.
A Guerra Colonial foi perdendo progressivamente a aceitação tácita por parte da população que a tinha sempre encarado de uma forma resignada e, sobretudo, dos militares.
Principalmente a partir dos anos 70, o peso da guerra na sociedade portuguesa, tornou-se impossível de manter e continuar.
Quanto à Operação “Mar Verde” foi mais uma peça do puzzle que faltava encaixar na nossa História recente.
Analisando à distância e olhando retrospectivamente, o 25 de Abril assume uma importância e, sobretudo, uma lógica que determinou o seu surgimento, tanto necessário, quanto inevitável.
Fica aqui uma história importante e eventualmente desconhecida do grande público.