Os cinquenta deputados eleitos pelo partido de extrema-direita Chega, cinquenta anos depois do 25 de Abril, não significa a desilusão com a Revolução dos Cravos. Não significa a desilusão com medidas revolucionárias como a Reforma Agrária ou as Nacionalizações.
Significa a desilusão com quem as destruiu. Das nacionalizações, ainda resta algo tão importante, como a Caixa Geral de Depósitos ou a TAP.
A primeira, vontade não lhes tem faltado para a privatizarem. A segunda, depois da má gestão que tem tido e agora que dá lucro, preparam-se para a entregar ao capital privado.
A Reforma Agrária que visava acabar com os latifúndios do Alentejo e Ribatejo, depois de a liquidarem, grande parte desses mesmos latifúndios do Alentejo, foram vendidos a estrangeiros. Sobretudo espanhóis e fundos de investimento, para com a água do Alqueva, destruindo habitats naturais, contaminando os solos com pesticidas e fertilizantes (para produzirem ao máximo), plantarem milhões de hectares de olivais e amendoais de cultura intensiva e super-intensiva, utilizando maioritariamente mão-de-obra imigrante super explorada, gerando assim chorudos lucros que transferem para o estrangeiro.
Em relação à nacionalização dos setores vitais da economia nacional; bancos, seguradoras, combustíveis, cimentos, telecomunicações, eletricidade, superfícies comerciais, etc., foi tudo parar a grupos económicos. Muitos deles, com participação maioritariamente estrangeira e com lucros astronómicos em seu benefício.
Para além de direitos tão importantes que se conquistaram, como o direito de reunião, de opinião, da constituição de partidos políticos, do Poder Local Democrático, da formação de sindicatos, de comissões de trabalhadores e de moradores, do voto livre e universal para homens e mulheres, mas no plano económico e na distribuição da riqueza, que é que o povo ganhou? Muito pouco. Como sabemos. As assimetrias sociais persistem. De quem foi e é a culpa? Dos partidos que têm exercido o poder há quase tantos anos como a revolução.
Evidentemente, PS, PSD, CDS e agora também com o apoio dos seus derivados, IL e Chega. Do 25 de Abril e dos seus ideais, não foi. Muito pelo contrário! Se esses ideais tivessem sido concretizados e as conquistas acima referidas, não tivessem sido desbaratadas pelos partidos referidos, outra sociedade bem mais justa teríamos.
Mas pode argumentar-se que a democracia tem funcionado e as eleições são livres. É verdade! Mas, no que respeita à democracia, devemos acrescentar que a mesma, tem sido condicionada. O povo foi e continua a ser manipulado pela comunicação social dominante, propriedade da minoria beneficiada pelas políticas desses governos e/ou gerida pelos mesmos partidos.
Mas, apesar de tudo, o 25 de Abril valeu e continua a valer a pena. Há conquistas que se mantêm, como a paz (acabou-se com a guerra colonial) e a liberdade formal.
Continua nas mãos do povo a possibilidade de lutar por um País e por um mundo melhores.
Por isso, 25 de Abril Sempre!