Desaparecido no mar esteve no sábado à pesca de choco no Sado

Desaparecido no mar esteve no sábado à pesca de choco no Sado

Desaparecido no mar esteve no sábado à pesca de choco no Sado

Ricardo Neves esteve no dia anterior à tragédia em embarcação turística. Mestre de embarcação critica quem se aventura na zona do naufrágio

 

As buscas por Ricardo Neves e José Caeiro, dois dos quatro náufragos ao largo de Tróia no domingo a bordo da embarcação “Lingrinhas”, realizam-se esta terça-feira ao longo de oito quilómetros sem sucesso até meio da tarde. Ricardo, 45 anos, tinha participado num dia de pesca desportiva no dia anterior, sábado, no Rio Sado com outros nove amigos de Grândola a bordo da embarcação marítimo turística setubalense Cruzeiro do Sul. O mestre de embarcação recorda-o como alegre, bem disposto e critica quem se aventura na zona onde se deu o naufrágio por ser bastante perigosa durante o chamado “mar de Inverno”.

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João Capinha, setubalense de 58 anos diz estar traumatizado com o sucedido em Tróia. “Ir para ali é morrer”, diz. “Não durmo há dois dias. Nem quis acreditar que era aquele o rapaz que estava no barco que naufragou ao largo de Tróia, amigos dele e até a mulher dele ligaram-me várias vezes na manhã de domingo para saber se eu sabia de alguma coisa, mas eu não sabia de nada, ele não falou em voltar a ir à pesca no dia seguinte a ter estado comigo nem em querer levar o filho”, disse o mestre de embarcação. O grupo tinha marcado outra viagem no dia 28.

No dia anterior à tragédia, Ricardo embarcou às sete horas da manhã na embarcação conduzida por João Capinha em Tróia num passeio que durou até às 18 horas. Cada tripulante pagou 40 euros. “Foi um dia de turismo, fiz-lhes uma caldeirada a bordo, o grupo trazia as suas próprias canas, fomos à pesca de choco no rio, onde era seguro, e nunca pensei em dirigir-me para a zona onde se deu o naufrágio no dia seguinte porque é bastante perigosa”.

De acordo com o antigo pescador e mestre há 12 anos, a zona onde se deu o naufrágio, a norte da chamada Restinga e junto ao que se apelida de Cambalhão, é composta por várias ilhas que se formam com a maré vazia, mas onde as correntes e ondulação é maior pelo chamado mar de Inverno, caracterizado pela ondulação forte das tempestades no Atlântico que chegam à costa com o vento de oeste e sudoeste. “Há muitos que se aventuram porque é uma zona de passagem do choco entre o sul e o rio Sado, onde vem desovar nas pradarias marinhas, ouvem histórias de quem captura lá 30 quilos duma vez só, mas o risco de morte não compensa e a própria lei não permite capturar mais de dez quilos cada tripulante”, acrescenta.

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A Setúbal Pesca, associação de pesca artesanal de Setúbal, afirma que nenhuma embarcação saiu para o mar durante os dias próximos da tragédia. Carlos Ferreira, presidente da Setúbal Pesca, afirma que todos os pescadores têm em sua posse ferramentas para perceber se o mar está propício à actividade. “Quem vai ao Cambalhão é porque não sabe ler os avisos. Temos a tabela das marés do IPMA, websites como o Windguru que mede os ventos e até a Beachcam dos surfistas, mas basta saber que o vento está se oeste ou sudoeste para perceber que não se pode aventurar naquela zona que ficou ainda mais perigosa com as dragagens”. O dirigente da Setúbal Pesca refere-se à deposição de areias a sul da Restinga que formaram mais ilhéus na zona do cambalhão, tornando assim a zona mais perigosa. “Há zonas com 20 centímetros de profundidade e com ondas de três metros”.

Estão a decorrer dois inquéritos para apurar responsabilidades na tragédia. A Capitania do Porto de Setúbal vai apurar as causas do sinistro marítimo. Vai ser analisado o relato do timoneiro, que disse ter sido surpreendido por uma onda, as habilitações deste, as condições do mar e as licenças do “Lingrinhas”. A Polícia Marítima vai também perceber se foi cobrada a viagem pelo timoneiro para actividade de pesca. No Ministério Público, decorre também inquérito crime às duas mortes até agora confirmadas, a de Francisco Neves, 11 anos, e de Gabriel Caeiro, 30 anos. O MP vai configurar que crimes podem estar em causa.

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