Quase um ano após ter assassinado a filha recém-nascida, em depoimento no Tribunal Criminal de Almada, Rafaela Cupertino afirma “o crime não foi planeado” e “ninguém sabia que eu estava grávida”
Na noite de 9 de Abril de 2018, o INEM foi chamado para atender um caso de emergência em Corroios (Seixal) num contexto pós-parto, realizado num domicílio, com complicações para a parturiente.
Rafaela Cupertino teria dado à luz com a ajuda da irmã gémea, Inês Cupertino.
Ao chegar ao local a equipa da emergência médica deparou-se com um cenário de terror tendo accionado de imediato o contacto com a polícia.
Fonte próxima da Polícia Judiciária de Setúbal viria a declarar ao jornal O SETUBALENSE, à época dos acontecimentos que, no local, a equipa deparou-se com “um cenário de crime sem precedentes e, de acordo com os indícios encontrados, o crime foi cometido de forma pensada, talvez mesmo premeditada com antecedência”.
No momento imediato após o parto, “Rafaela esfaqueou a filha recém-nascida no coração, provocando a sua morte imediata, não havendo na análise ao corpo sinais de hesitação quando à intenção do golpe”, referiu a mesma fonte. “A faca utilizada para cometer o crime teria sido limpa e colocada de novo na cozinha e o corpo da recém-nascida estava envolvido em um saco de plástico, também na cozinha”.
Na primeira presença a juiz, as irmãs teriam admitido o crime em co-autoria, confirmando que já estavam a premeditar concretizar algo, quando chegasse o momento do nascimento. Motivo pelo qual Rafaela teria ocultado a gravidez da restante família, amigos e mesmo do seu companheiro e pai da criança, à excepção da irmã.
Agora, presente no Tribunal Criminal de Almada, Rafaela Cupertino alega “não é verdade que decidi no dia anterior”. Acusada de homicídio qualificado, Rafaela Cupertino sustenta o relato dos acontecimentos afirmando que, nunca contou a ninguém que estava grávida até ao momento do parto, incluindo à irmã. E justifica o crime devido à má relação com o namorado, acusando-o de “agressões físicas e psicológicas”.
Segundo a arguida, foi enquanto tirava os filhos do carro que rebentaram as águas, mas ainda lhes deu jantar, tomou banho e disse à irmã que ia dormir, até que as dores se tornaram insuportáveis e pediu ajuda.
Em tribunal Rafaela recordou, “estava completamente em pânico, não aguentava as dores e decidi chamar a minha irmã, contei-lhe e disse que precisava da ajuda dela. Ela ficou em choque e disse para eu chamar uma ambulância e eu em pânico disse que não. Fomos para a casa de banho para ajudar a que a bebé nascesse”.
A acusada esclareceu ainda como após o nascimento matou a filha com três facadas no coração. “Meti a minha filha na banheira virada de cabeça para baixo durante dois ou três segundos, acho que a minha irmã não viu, e depois virei-a para cima. A faca estava no chão e eu estendi a mão, apanhei e desferi-lhe três golpes”. Rafaela nega também ter dito à irmã, em algum momento, qual seria o destino da filha. “Nunca disse que a bebé tinha que falecer, nem nunca tinha falado nisso. Não sei explicar o motivo, mas deferi esses golpes”.
Rafaela Cupertino afirma ainda que, a irmã não se apercebeu logo do crime, pois estava a tentar tirar-lhe a placenta. Apenas no momento em que viu o que Rafaela tinha feito “começou a chorar e perguntou porquê”.
Questionada pela acusação sobre o crime que cometeu, Rafaela Cupertino admitiu “acho horrível, eu matei a minha filha. Neste momento estava quase a fazer dez meses”.
Homicida sem sinais de psicopatia
Um dos ginecologistas que assistiu a arguida no hospital depôs em tribunal e revelou que Rafaela “não estava muito consciente devido à grande perda de sangue” e às “lacerações saturadas superficialmente com linhas de costura”.
Por outro lado, a psiquiatra que fez uma avaliação clínica indicou que a suspeita não apresentava psicopatologia aguda, nem necessidade de internamento nessa especialidade. “Chorou duas vezes, uma foi quando a questionei sobre o sexo do bebé e outra foi quando perguntei se estava consciente do que ia acontecer. Ela explicou que sabia as consequências”, afirmou.
Rafaela e Inês Cupertino estão em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Sines desde 11 de Abril, após o primeiro interrogatório judicial.
O Ministério Público requereu o julgamento em tribunal das arguidas, em co-autoria, pelos crimes de homicídio qualificado e de profanação de cadáver.
(Lusa)