Antiga mina foi reconvertida num espaço de divulgação científica e turismo educativo, tornando-se numa referência nacional na reabilitação do património industrial
No interior do concelho de Grândola, a antiga Mina do Lousal representa um dos episódios mais marcantes da história local desde o século XIX. A sua reconversão de pólo mineiro para centro de ciência, educação e turismo é hoje considerada um exemplo de revitalização patrimonial e desenvolvimento sustentável em Portugal.
A exploração em Canal Caveira teve início em 1863, com a mina do Lousal a intensificar a actividade a partir de 1900. O minério extraído era utilizado para a produção de ácido sulfúrico, matéria-prima essencial para a indústria química e fertilizantes.
Durante grande parte do século XX, a mina do Lousal destacou-se como uma das mais modernas e produtivas do País. No seu auge, empregava cerca de 2.000 trabalhadores e sustentava uma aldeia operária com infraestruturas que incluíam escola, electricidade própria gerada na central da mina, posto médico e refeitório. Essas condições permitiram a fixação de famílias e o desenvolvimento social da comunidade local.
A construção da Linha do Sul, que atravessa o concelho de Grândola, facilitou o transporte dos minerais extraídos e de produtos agrícolas, integrando a região em circuitos económicos mais amplos e promovendo o seu crescimento.
Contudo, a partir da década de 1980, a exploração mineira sofreu uma forte retracção devido ao esgotamento gradual das reservas de pirite e à concorrência internacional de fontes alternativas de enxofre, como o petróleo. Em 1988, a mina do Lousal encerrou definitivamente as suas operações, provocando um impacto económico significativo, com aumento do desemprego e diminuição da população local.
Em resposta a esta crise, foi implementado na década de 90 o Programa de Revitalização e Desenvolvimento Integrado do Lousal (RELOUSAL), um esforço conjunto da Câmara Municipal de Grândola, da Fundação Frédéric Velge e da SAPEC. O objectivo principal foi reconverter o espaço mineiro num centro cultural, educativo e turístico.
Em 2010 foi inaugurado um espaço científico
Este projecto resultou na criação do Museu Mineiro do Lousal e do Centro Ciência Viva do Lousal, inaugurados em 2010. Estes espaços oferecem exposições interativas sobre geociências e tecnologias, além de visitas guiadas às galerias subterrâneas da antiga mina, promovendo a preservação do património industrial e o desenvolvimento do turismo científico.
O centro passou a integrar a rede nacional de centros de ciência e oferece hoje exposições interativas sobre geologia, biotecnologia, paleontologia, tecnologias energéticas e visitas a galerias subterrâneas, como a Galeria Waldemar (280 metros de extensão). A reconversão tornou o Lousal num dos primeiros exemplos em Portugal de aproveitamento de uma infraestrutura mineira para fins educativos e turísticos.
Com cerca de 15 a 17 mil visitantes por ano, o espaço é utilizado por escolas, universidades, turistas e entidades de investigação. A iniciativa contribuiu para reanimar a economia local e para descentralizar o turismo no concelho de Grândola, tradicionalmente mais concentrado na zona litoral.
A transformação da Mina do Lousal constitui, hoje, um caso de estudo nacional em património industrial e regeneração territorial, e é considerada um dos acontecimentos locais mais relevantes do concelho desde a sua reorganização administrativa em 1855.