3 Maio 2024, Sexta-feira
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Sofia Ramos: o “Barco Negro” (aos seis anos) para o Mundo do Fado

De Almada directamente para as casas de fado, é este o percurso da artista que dá voz a “Aí Mouraria”, “Foi Deus”, e, “Barco Negro”

 

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Há uns tempos, a propósito do Festival de Fado das Canárias, um jornal espanhol dizia que “Sofia Ramos cabeça de cartaz do Festival, era uma das novas estrelas do universo do Fado de Lisboa”. E o jornal continuava a apresentação: “Com formação de atriz, bailarina, virtuosa quer no piano, quer na voz, encontra neste estilo musical, a melhor maneira de se expressar, procurando a verdadeira essência das palavras que canta”.

Depois desta introdução com palavras vindas “de fora”, nada como uma conversa com Sofia Ramos, 33 anos de vida, 33 anos de Almada, para conhecer melhor os caminhos que a levaram aos caminhos do fado.

Sem qualquer ligação familiar ao fado, Sofia Ramos tinha seis anos quando pediu como prenda algo inusitado para uma criança da sua idade: um disco de Amália Rodrigues que tivesse o tema “Barco Negro”. “Porque eu gostava muito do “Barco Negro”. Hoje canta nas melhores casas de fado de Lisboa, em festivais nacionais e internacionais e é acompanhada pelos melhores músicos de fado. “Posso dizer que tenho a honra de cantar com músicos como Ângelo Freire, José Manuel Neto, Luís Guerreiro, Fábio Cardoso, Pedro Saltão, Paulo Paz…”.

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Mas voltemos ao início, tempo em que não “havia” músicos nem publico. Aí a família foi o seu primeiro publico, o repertório era muito pequeno, mas constituído por grandes clássicos: “Aí Mouraria”, “Foi Deus” e, claro “Barco Negro”, com “muita vergonha” à mistura.

Depois chegou a adolescência e então o fado não era “cool”. Mais tarde a Faculdade, tempos em que continuava a não se “cool” gostar de fados, mas, sempre que possível, lá introduzia um fado de Amália. “Surge no fim da faculdade o convite para integrar o espetáculo “Simplesmente Maria” e “uma das personagens que fiz, foi a Hermínia Silva, que eu já conhecia, mas não muito bem. E aí apaixonei-me por ela, que tinha aquela “coisa” de cantar e fazer teatro em simultâneo.

“Conheço então uma rapariga que me diz que no Povo (restaurante e espaço cultural em Lisboa) estavam a fazer audições para uma fadista, para uma residência artística de 3 meses, cantava-se 3 a 4 vezes por semana e no final gravava-se um disco. Gravei um disco”.

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Foi em 2014… “sim, aí é que eu comecei a perceber o que era o fado. Eu gostava de fado, mas não sabia o que era fado tradicional”.

Depois foi o circuito das Casa de Fado “a sério” em Lisboa…

“Primeiro comecei pelo Bairro Alto, pequenos espaços, mas depois comecei a freqüentar casas de fado de maior prestígio (Adega Machado, Luso…) e comecei a ser convidada para algumas substituições. Depois abriu a Fado ao Carmo, onde fiquei fadista residente”.

Alfama, zona de referência do Fado, com algumas das mais emblemáticas casas de fado, teria de ser um dos passos seguintes de Sofia Ramos.

“Sim, comecei a dirigir-me para Alfama, e claro fui ao Clube de Fado, quando ainda era do Mário Pacheco (guitarrista e nome lendário ligado ao fado desde há décadas) e ele também me chamou para fazer umas substituições e pronto fui entrando no meio, fui fazendo amigos, que também é muito importante”.

Ser fadista residente em casas de prestígio é, obviamente o objetivo de qualquer fadista e Sofia Ramos está em duas das mais conceituadas casa da capital: “Fado ao Carmo” e “Clube de Fado”.

“É um objectivo, mas não um é fim, e o caminho feito até aqui foi de ir cantando, ir aparecendo, criei o meu reportório e a minha forma de cantar, muito própria e que as pessoas reconhecem. O percurso vai-se fazendo com calma. Muita humildade, aprendendo e felizmente agora acho que estou num bom sítio, uma boa fase para atingir outra dimensão, a gravação de um novo disco, sinto que faz todo o sentido, pois afinal já canto há quase 10 anos”.

Disco que poderá surgir como um balanço…

“Sim tenho de resumir estes 10 anos num disco, também para dar a conhecer o meu trabalho às pessoas, para além das casas de fado, local onde tenho a honra de tocar, como referi, com grandes músicos. E também temos de perceber que, sem discos, é mais difícil vendermos concertos em nome próprio”.

E este disco conta com um fator que atesta a importância da fadista, o apoio do Museu do Fado. “Sim. Para mim é muito importante contar com o apoio do useu do Fado, para este álbum, no qual me revejo com a minha forma de cantar, com a minha voz, com a minha verdade”. Afirma Sofia Ramos, com a convicção de que, tal apoio, funciona como um certificado de qualidade, o que é uma realidade.

O álbum da fadista almadense, será gravado em janeiro, mas já está bem definido. “Sim, temas estão fechados. Quero gravar alguns fados tradicionais, cujas letras foram escritas para mim. Tenho dois originais, um deles escrito pelo João Espadinha (irmão da cantora e compositora Joana Espadinha). O João é extraordinário. Estivemos uma noite á conversa, em modo entrevista e ele depois fez a letra e a música, e percebeu o que ia na minha cabeça”.

Mas os grandes nomes do fado, nomes que marcam a carreira e os gostos musicais de Sofia Ramos, “desfilarão também neste disco”.

“Depois não posso gravar um disco, sem um tema da Hermínia Silva e do Carlos Ramos, que são os meus dois fadistas favoritos. Da Amália, a grande referência, tenho ideia de gravar a Caldeirada (tema de 1977), com alguns colegas meus, eu em modo narradora e cada um deles, as personagens da história”.

Mas o universo musical do fado de Sofia Ramos vai mais longe e recupera um tema de Revista á Portuguesa cantado por Beatriz da Conceição. Afinal faz todo o sentido, dado que a fadista também tem formação de teatro. Incontornável o mundo do poeta Fernando Pessoa, e havia um poema, o qual “já andava a namorar há algum tempo e resolvi escrever eu a música para esse poema”. Conclui Sofia Ramos, com especial e justificado orgulho.

Quanto aos músicos presentes no álbum, eles vêm de universos diferentes, para o encontro com a voz e a alma de Sofia Ramos: Francisco Brito, contrabaixo (oriundo do mundo do Jazz), Bernardo Couto, guitarrista de múltiplas influências e integrante de projetos de Jazz e acompanhante de nomes como Ana Moura, Carminho, Cistina Branco ou António Zambujo, entre outros e Pedro Saltão, a viola do Fado, na sua essência.

Sem dúvida estão reunidas todas as condições para que 2024 seja um ano de referência na história desta fadista, que, em nota de rodapé, fica a referência de que integra ainda um outro projecto musical, Magano, um interessante projeto na área da musica popular, que está neste momento a preparar a edição do seu segundo álbum. Mas sobre este projeto falaremos em devido tempo.

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