Jorge Salgueiro: “Setúbal deve ter uma estrutura com a dimensão do Centro Cultural de Belém”

Jorge Salgueiro: “Setúbal deve ter uma estrutura com a dimensão do Centro Cultural de Belém”

Jorge Salgueiro: “Setúbal deve ter uma estrutura com a dimensão do Centro Cultural de Belém”

Fotografia de Mário Romão

Maestro defende que no espaço deve coexistir um “conservatório de música, uma academia de dança e uma companhia de ópera”

 

Criação’ é a palavra de ordem da actividade da Associação Setúbal Voz, “projecto artístico com base no canto lírico e na música e artes contemporâneas” que “produz pelo menos duas óperas e 12 recitais por ano, vários concertos e actividades de mediação e reflexão”.

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Os dados são avançados por Jorge Salgueiro, director artístico e maestro titular da associação, que descreve a actividade do Setúbal Voz – cujos pilares são o Coro Setúbal Voz, o Ateliê de Ópera de Setúbal e a Companhia de Ópera de Setúbal –, como “absolutamente incrível”. Contudo, explica que um dos principais desafios enfrentados é a falta de um espaço próprio. “A própria cidade tem poucas estruturas para programação”, afirma, o que o leva a defender que “Setúbal deve ter uma estrutura com a dimensão do Centro Cultural de Belém, onde possa existir uma forte ligação entre a formação e a criação artística”.

Como são escolhidos os projectos nos quais a Associação Setúbal Voz se envolve?

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A matriz da ASV [Associação Setúbal Voz] com a minha direcção artística pressupõe criação. Mesmo quando interpretamos obras do repertório tentamos acrescentar conhecimento e novos olhares sobre as obras. Um bom exemplo foi a ópera Carmen, sobre a qual tivemos um olhar analítico e reflectimos sobre a condição feminina, o enquadramento das diversidades culturais e os direitos dos animais.

 

A associação é financiada pela Direcção-Geral das Artes. Qual a importância deste apoio?

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Sem esse valor – 60 mil euros por ano – não seria possível realizarmos as encomendas aos compositores, escritores, artistas plásticos, cantores, entre outros, para produzirmos duas óperas originais todos os anos, a que se junta uma multiplicidade de actividades, como recitais, concertos, edições e conferências. É um valor muito baixo, que nos permite ter apenas dois profissionais a tempo inteiro e que ganham o ordenado mínimo. Foi uma decisão nossa concorrer ao patamar mais baixo da Direcção-Geral das Artes e ter uma estratégia de crescimento sustentado e progressivo.

 

Quais os principais desafios enfrentados?

Muitos e diversos. Como todas as instituições artísticas, a sustentabilidade económica é um problema básico. No caso concreto da associação, é particularmente relevante porque o crescimento artístico não foi acompanhado por uma alteração estrutural: não temos espaço próprio e os meios ainda não permitem ter um apoio administrativo profissional. A própria cidade tem poucas estruturas para programação. Estamos muito afunilados no Fórum Municipal Luísa Todi, o que não permite ter tempos suficientes para preparação dos espectáculos. A cidade tem vindo a mudar, mas esteve muitos anos voltada para formas de expressão artística populares.

 

A adesão aos espectáculos é a esperada?

A Associação Setúbal Voz tem vindo a criar o seu público e recai sobre as nossas produções uma expectativa que nos tem garantido uma excelente adesão aos espectáculos, mas também já nos aconteceu ter a sala a meio para uma versão em português da Flauta Mágica, quando pensávamos que iria esgotar. Já aconteceu mais que uma vez participarmos em programações com artistas mediáticos e o público surpreender-se porque sente uma enorme diferença a nosso favor.

 

A associação está satisfeita com o que tem vindo a construir’?

Por um lado, a nossa actividade é absolutamente incrível: a associação produz pelo menos duas óperas e 12 recitais por ano e vários concertos e actividades de mediação e reflexão. É uma referência no País pelo modelo que junta actividade profissional e não profissional, pela capacidade de criação, pela busca estética e pelo trabalho com a comunidade. Em 2022, a Associação Setúbal Voz foi responsável por 53 apresentações públicas.

 

Como tem sido organizar o Concurso Setúbal Voz para Jovens Cantores de Ópera?

Em 2021, quando lançámos o primeiro concurso, limitámos as inscrições a nascidos ou habitantes do concelho. Não tivemos qualquer inscrição. Era algo que desconfiava, mas que se veio a concretizar de uma forma dramática, expondo a ausência de jovens e uma falha na formação. Este ano, o concurso foi dominado por jovens vindos do Norte do País com um nível incrivelmente alto. Infelizmente não temos este nível de jovens no concelho, vai demorar anos para que a situação se altere e tudo isto tem a ver com a nossa cultura. É por isso que o concurso deve ser incrementado.

 

Quantos membros têm os três pilares da Associação Setúbal Voz?

O Coro Setúbal Voz tem cerca de 65 elementos. É uma formação com participação flutuante. Num projecto mais “popular”, como a Carmen, chegou a ter 75 elementos em palco. O Ateliê de Ópera de Setúbal tem cerca de 20 membros, mas a sua composição depende dos projectos que estamos a criar e da adesão dos membros. É uma actividade onde procuramos preparar técnica e psicologicamente os cantores para actuarem a solo, dando apoio na área musical, vocal e teatral. A Companhia de Ópera tem como base cinco profissionais, dois barítonos e três sopranos, mas integra membros do ateliê.

 

Que projectos estão pensados para o futuro?

O nosso sonho é fazer acreditar a população e os políticos do concelho que Setúbal deve ter uma estrutura com a dimensão do Centro Cultural de Belém, onde possa existir uma forte ligação entre a formação e a criação artística. Nesse espaço deverá coexistir um conservatório de música, uma academia de dança, uma escola de artes plásticas, um grupo de teatro profissional e uma companhia de ópera com solistas, coro e orquestra.

 

 

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